02/03/2013

Barulhinho progressista

Que Pena. 
Faço de tudo e mais um pouco para fugir dessa porcaria de cidade grande. Nem sempre dá, mas quando posso caio fora dela na esperança de que um dia não precise retornar e possa viver dali em diante num lugar mais sereno. 
São Paulo é barulhenta, tem trânsito irracional e violenta ao extremo. Tem sujeira de esgoto que invade as casas em dias de chuva forte e baratas em dias quentes. Nesta cidade vivem pessoas, tristes, iludidas que se protegem em  inúmeros automóveis. Chegam a ser mal educadas pela vida tão apressada que levam e a diversão nesta cidade é rara, enchem a cara pelos botecos. Trabalha-se muito por  pouco. O Brasil emergente se reflete bem em São Paulo. Ela é pra mim um estereótipo de uma cidade gigante de primeiro mundo. 
Me desculpem os que acreditam nesse modelo de crescimento, por favor não se ofendam com minha opinião. Mas acho isso uma grande insensatez.
Dizem que São Paulo já foi melhor quando era conhecida como cidade da garoa, acho que me lembro dessa época, devo ter pego um resquício dessa urbanidade controlada. Me recordo dos chapéus que os homens usavam preocupados com a elegância, me lembro dos cinemas que exibiam dois filmes por sessão, dos banheiros públicos limpos, da guarda civil, dos bondes e lugares com muitas árvores onde hoje os shoppings se instalaram. 
Espero que vocês estejam certos quanto a ordem e o progresso e eu esteja completamente enganado, pois não desejo mal a ninguém, nem mesmo a São Paulo, mas o que vejo nela me parece ilusão. Quem gosta da cidade como ela está, que viva feliz ao seu modo. Eu já gostei muito dela, fui um apaixonado pela cidade, mas agora não a desejo mais.  
Hoje, sábado, depois de ter fugido ontem à noite mais uma vez da metrópole encardida, dormia às quatro e pouco da manhã, e dormia como um passarinho. Aliás, todos os passarinhos daqui também dormiam, até o galo dormia. Dormíamos todos o sono dos tranquilos. A noite estava calma como são calmas as noites de Piracaia. 
Não dormia um operário da obra de escora das margens do riozinho próximo à minha casa. A atual prefeita, Dona Terezinha, recém empossada, herdou e está dando continuidade da gestão anterior, a prefeita Fabiana, uma empreitada de arrimo desse rio que no seu curso corta a cidade por inteiro. Fato não muito comum na política, considerando que a ex e a atual são de partidos políticos distintos. Me parece que o financiamento veio do governo do estado, talvez por isso a razão da continuidade. 
Tudo ia bem até às quatro e vinte e cinco da manhã quando o silêncio foi interrompido por um operário que acionou uma bomba de água. Ele provavelmente fora orientado no dia anterior pelo mestre-de-obras que também, muito provavelmente, também dormia o sono dos tranquilos a quilômetros de distância daqui. De tão barulhenta que essa bomba era que nos pareceu arrebentar os tímpanos. Foda-se! Pensei o que pensou o mestre-de-obras, quando exigiu que ligassem a traquitana pela madrugada, o cronograma tem de ser cumprido se não quem se fode sou eu. 
O culto ao concreto se expande doentiamente e os passarinhos sofrem com isso. A ordem e o progresso chegaram definitivamente ao que foi um dia o pacato bairro de Boa Vista em Piracaia

Sete da manhã e os operários, sob as ordens do mestre-de-obras, ligam outras tantas máquinas. Que pena, não ouvi o galo e nem as maritacas cantarem hoje.

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