26/02/2012

É ruim da cabeça ou doente do pé?

Juntas não sei quem é quem. Percebi que são muito parecidas e nem imagino qual foi o critério para classificá-las. Isso não quer dizer que as achei ruins, não, não é isso. Talvez entre um grupo e outro - acesso e grupo especial eu saberia distingui-las. Considerando o acabamento dos carros alegóricos e talvez, pelas fantasias.
Mas num mesmo desfile a coisa é igual, muito igual. As gostosas são gostosas em todas as escolas; os carros alegóricos têm sempre cabeças de aves olhando feio para gente, monstros gigantescos com ares nada amistosos ou reis desconhecidos com caras de idiotas. As músicas e letras são parecidíssimas, o rítmo nem se fala. Tem que gostar de verdade para aplaudir. A gente fica na expectativa de que a próxima a desfilar irá apresentar algo de novo e nada, a mesma coisa.
Vale mesmo a alegria dos que estão desfilando. Parecem felizes, tudo bem, que sejam à sua maneira. Mas não briguem na apuração, pois daqui uns dias, além de vocês pouquíssimas pessoas irão lembrar quem foi a campeã. Daqui, do Rio ou de qualquer lugar.
Proponho que as cerca de 60 mil pessoas que desfilaram em São Paulo nesses quatro dias formem uma única escola de samba - Acadêmicos da União ou Unidos de quem não tem nada prá fazer e busquem a partir daí a tal da criatividade. Variem um pouco, só para experimentar. Do jeito que vocês estão fazendo está chato demais.


Pra quem ficou o samba foi duro, doeu o pé.



21/02/2012

Tensão



Lá estava eu novamente envolvido até o pescoço com uma transmissão de carnaval. Dessa vez foi em São Paulo, num domingo a tarde, logo depois do almoço até a segunda feira pela manhã. Dez horas ao vivo e praticamente sem nenhuma falha.
A noite toda com um friozinho na barriga torcendo para que tudo desse certo. E deu.
Deu pelo esforço da equipe de técnicos, operadores, produtores e apresentadores, todos com uma garra admirável.
Dessa vez transmitindo pela TV Cultura. Fazia muito pela Band onde aprendi o modelo, aqui em São Paulo e em outros estados do Brasil.
Tudo novo num ambiente antigo. Fazendo as mesmas coisas com um novo time. Time bom esse que estou, guerreiro demais. No final, confesso que senti muito orgulho.
Imagino que a sensação seja a mesma para um jogador de futebol consagrado, quando passa a jogar por outra equipe, finalizando o gol depois da bola ter resvalado em seus pés. Foi construído por todos da equipe e somente no final a bola passou por ele seguindo até a rede.

Esses momentos para um profissional são determinantes. Eles dão o gás para continuarmos por mais um tempo.
Acreditem, o frio na barriga é intenso. Muita ansiedade até a hora de começar e geralmente no início se estabelece uma espécie de pânico controlado em todos e durante a transmissão o desejo que o tempo passe é enorme.
Do colorido na pista até o cinza dos bastidores o ambiente é nervoso, o palavrão é o meio de desabafar, dá um certo alívio na alma, o tom de voz se altera a adrenalina transborda.

Na medida em que as coisas vão saindo das ideias, tornando-se reais, deixando o papel e caminhando num fluido natural, a tensão diminui. Melhor, ela se transforma. É interessante vermos os sonhos se materializando. Saímos de um  cinza escuro e entramos num ambiente de cores. Algo como depois de uma chuva intensa, repentina que alagada tudo, a luz do sol que aparece entre o punhado de nuvens remanescentes das trevas. É a cor da esperança.


Depois dessa fase vem a manutenção do jogo.

__ Caramba, está dando tudo certo, agora é não deixar a peteca cair. Nada poderá atrapalhar o andamento do trabalho e tentar acalmar os que estão ainda presos na primeira etapa de tensão, para isso preciso me tranquilizar também. Óbvio.

É assim que a gente se sente. Por mais experientes, seguros de si próprios, ninguém pode negar a aflição e a torcida para que o tempo passe.






E assim foi. O tempo passou o juiz apitou e o jogo acabou.
O desfecho é sempre o mesmo. Acho que todos ali sentiram-se felizes.
Após horas e horas de absoluta tensão a sensação é de cansaço, mas também de felicidade, ainda mais quando se vence o jogo. Esse time é muito bom.
Na sexta tem mais. Até lá!









19/02/2012

Carnaval

O dia vai ser longo. Na verdade começou às seis e meia de hoje e vai terminar somente amanhã quando voltar do Sambódromo. Depois de dois anos volto a participar de uma transmissão de carnaval. Não é fácil, das nove da noite até às sete da manhã, ao vivo é de arrepiar. Sem contar a montagem da estrutura que faremos a partir das dez da manhã. Tudo corrido.
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É muita tensão, muita cobrança e uma tremenda responsabilidade. Fica todo mundo ansioso.
Faremos a cobertura do desfile do grupo de acesso e na sexta que vem o desfile das campeãs.
Meu amigo, para quem nunca fez, acreditem - é difícil.
A mistura da alegria de quem está lá por divertimento com a nossa que é nervosa, dá uma combinação alucinada. Ao som das baterias ensurdecedoras, dos sambas enredos, dos carros alegóricos e de tanta confusão, manter a serenidade é coisa de doido.
Acho engraçado o nome que deram para a área de espera das escolas de samba - Concentração. Pode ser qualquer coisa, mas nada é concentrado, melhor seria chama-la de Aglomeração. Por mais que os organizadores tentem manter alguma ordem, a coisa em si, por natureza é desorganizada. Tumultuada mesmo.
Espero que não chova, fica um pouco melhor sem chuva. Os maus-contatos diminuem e menos choques elétricos.
Espero também que amanhã retorne para casa feliz. Feliz por voltar e feliz por ter dado tudo certo. Vai dar.

Amanhã eu conto como foi, com mais detalhes.

Abraços. 

11/02/2012

Tem coisa errada aí.

Estava fazendo umas contas hoje cedo e percebi que gastei cerca de 65 horas na semana somente com o trabalho. Coisa mais ridícula de se fazer, somar quantas horas eu trabalhei, eu sei. Mas fiz isso para dar dimensão à vida congestionada que levo. Não sou o único que trabalha tanto e nem é motivo de se ter orgulho, apesar que hoje em dia as coisas estão assim, orgulha-se dessa coisa. É uma pega pra capar geral.

Continuando nas contas. Vinte e quatro horas por dia de segunda à sexta feira somam 120 horas. Desse tempo, passei mais que a metade só trabalhando, única e exclusivamente, exaustivamente, trabalhando, de baixo de muita pressão, cobranças, de cima, dos lados e de baixo.



Das 55 horas que sobraram, mais ou menos 30, passei dormindo, se é que se pode chamar de dormir a maneira como faço isso e as 25 restantes, gastas no trânsito - 5 horas mais ou menos, até que não é muito, a Marginal do Tietê anda boa depois da reforma e as outras 20 para a vida pessoal - duas horas por dia em média para a família, amigos e lazer. Tem coisa errada aí.
Uma pessoa que diariamente está em pé das seis da manhã até à meia noite ou um pouco mais, portanto, 18 horas acordado, não pode ficar somente com duas horas no dia para a vida pessoal.

Participei esta semana de um seminário sobre administração do tempo e nele, entre outras coisas, fizemos uma pizza - um desenho circular como um relógio, fatiando o dia em horas para cada atividade.
A tarefa era dividir, sem exageros e na média, quanto tempo dedicamos do nosso dia, trabalhando, dormindo, alimentado-se, em deslocamentos no trânsito, família, pessoal e espiritualidade.
Me surpreendi com o resultado, não somente com o meu, mas também com o da maioria das pessoas que estavam ali comigo.
Individualidade, no meu caso específico, praticamente zero de tempo.
Me manifestei ao ser perguntado pelo palestrante sobre o meu resultado, me lembro ter dito que havia me transformado num robô. Principalmente em relação à espiritualidade, deu zero nesse ítem.
Não foi exagero meu e claro que sei que isso é uma média. Mas zero ou próximo a isso na espiritualidade, realmente me deixou preocupado.
É claro também que esses números são relativos, não são absolutos, mas eles serviram para despertar minha atenção,  refletiram bem o modelo de vida que levamos, falo por mim e acho que pela maioria das pessoas, pois sabemos o quanto e cada vez mais estamos nos uniformizando. Quem não está entra na fila para estar, a vida exige isso e ninguém quer estar fora dela. A maioria até fura a fila, sem escrúpulos.
Lá no fundo não me surpreendi, saber eu sabia, mas ver a vida ilustrada num pedaço de papel branco em forma de pizza, medida em tempo de 24 horas, fatiada em pedaços nada saborosos, identificados e, pior, em pedaços assimétricos, mal distribuídos, mexeu com meu estômago que foi parar no cérebro ou este descendo até os intestinos misturando-se ao seu recheio.

As empresas contratam consultorias de RH com o objetivo de treinar seus funcionários, buscando melhor produtividade na fábrica. Nada de mal nisso, aliás, pelo contrário. No nosso caso, o grupo era de gestores, administramos executores, os resultados e a produtividade destes. 
O palestrante, Alexandre Rangel, me permita ele a citação de seu nome aqui, por sorte nossa, considerando que conheci cada um de arrepiar os cabelos, foi muito eficiente. Absolutamente claro, direto e sem rodeios, facilitou a assimilação. E além do primeiro objetivo do seminário que era de orientar como organizar o tempo para um melhor rendimento, peguei a lição também para a minha vida pessoal.
É preciso incluir em nossas vidas mais lazer, mais tempo para nós mesmos, mais descontração para fazermos seja lá o que for, coisas que nos compense a pressão da rotina. A fatia dedicada ao trabalho acho que sempre será a maior, mas as outras, menos a dos deslocamentos, devem ser mais significativas.

Me falta tempo para a espiritualidade, isso ficou claro, deixei-a de lado com frieza obcecada diante da responsabilidade, sem me dar conta do desvio enquanto fatiava a pizza. Este pedaço terá maior atenção de minha parte agora. A fatia das coisas pessoais também terá maior atenção, preciso cortar melhor minha pizza. Quem vai pagar essa conta é o trabalho, o pedaço maior, menos horas vou dedicar a ele. É preferível qualificar esse tempo e organiza-lo melhor, sobrando uma fatia maior para mim mesmo. Não sei ainda como fazer isso, mas tentar ao menos eu vou. Menos frio e mais quente. Enfim, atitude.
De resto a vida continua e preciso terminar a história do Seu Aristides e seu amigo Policarpo. É legal, eu acho.



04/02/2012

Seu Aristides e o amigo Policarpo. (parte um de duas)

Estava eu sentado no banco da praça em frente a Igreja da Matriz no sábado passado saboreando afortunadamente uma manhã de descanso. Tranquilo, com os braços abertos apoiados no encosto do banco e de peito aberto, respirava o ar fresco que vinha das montanhas. Deixei o celular em casa pois queria mesmo me desligar, difícil isso acontecer e de relance li as manchetes dos jornais que estavam à mostra na banca do Zé, logo à minha direita - nada dizia de novo, somente repercussões da semana.
Gosto de saborear as manhãs de sábado em Piracaia, ainda mais quando elas são banhadas de sol de forma generosa. A luz das nove e meia, dez, dez e meia no máximo, deixa o céu com um azul, simplesmente, maravilhoso. As melhores fotos são obtidas nesses horários, ficam mais nítidas e as cores ficam naturais. 
Os jardins com seus contornos protegidos pelos pequenos arcos de ferro curvados e pintados de branco, estavam com o gramado com um verde esmeralda intenso e as flores distribuídas ao longo do  campo, estavam com as cores magníficas. Vivas, alegres e pareciam agradecidas pela abundância da luminosidade. Fiquei com a impressão de que todas sorriam para mim. 
O meu tique nervoso, para quem me conhece, sabe que é a perna direita saltitar sem parar sobre o calcanhar e este apoiado pela planta do pé provoca um sobe e desce compulsivo, chega ser irritante para quem vê. Quando estou muito tenso a esquerda faz a mesma coisa. Vira um samba do crioulo doido e saem todos de perto. Mas estava tão calmo nesta manhã que as duas pernas descansavam sobre seus calcanhares e ainda deixavam as pontas dos pés para cima como em contemplação ao firmamento. Me sentia o dono do mundo que aos poucos fui me esparramando naquele banco. Ninguém me pedindo nada, ninguém me cobrando nada, só olhava para os lados, não olhando nada, sem pensar em nada, quando muito dava atenção ao movimento das pessoas caminhando para algum destino ou simplesmente, como eu, curtindo um tempo de paz. Quão distantes eram da vida urbana intensa, acelerada e muitas vezes desafeta da minha cidade.

Tudo ia bem até quando me dei conta da aproximação do Seu Aristides. Não que não goste dele ou de ouvir suas histórias longas, não se trata disso, mas naquela hora queria mesmo é ficar sozinho, no sossego.
Veio em minha direção como quem não quer nada, mas evidente que de longe já tinha me avistado. Sujeito curioso esse Seu Aristides, parece um personagem dos quadrinhos. Todo alinhado, engomadinho, no capricho. Vestia uma calça de linho num corte social de cor beje e a camisa branca de mangas longas, finamente  passada pela dona Esperança, sua esposa a quase 40 anos. Os cabelos grisalhos, cada vez mais ralos, eram penteados para o lado direito, mas por serem de fios tão finos, mesmo com ventos suaves, escorriam para todos os lados se contrapondo com a seriedade do semblante.

_ Bom dia Seu Aristides!
_ Bom dia, doutor! Como está o senhor?

Acomodou-se ao meu lado com delicadeza. Respirei fundo e o recebi com cortesia, como bons e velhos amigos.


Depois de no máximo cinco minutos de introdução, falando sobre o dia lindo, que talvez fosse chover de tarde, pois quando o céu está muito limpo é sinal de chuva forte chegando, ele mencionou um tal de Policarpo, seu amigo de infância e de como ambos se livraram de uma tremenda encrenca. Mas essa, deixo para a próxima postagem.


Piracaia é assim. Aprazível, calma e ao mesmo tempo com jeito de cidade grande. Nos seus contáveis quarteirões a população caminha apressada, parecendo que estão numa avenida paulistana. Carros, charretes, motos, cavalos e cavaleiros convivem em perfeita harmonia, parecendo todos personagens de uma história de realidade fantástica, inclusive eu.
Inspiradora.