31/12/2014

Paulistano nada ilustre guarda na memória o seu bairro.

Na última postagem do ano deixo uma lembrancinha, quase um dengo ao meu bairro, o Belém, Belenzinho.
 
Nasci na Penha, morei no Ipiranga quando muito criança e logo me mudei para o Belém onde fui criado.  
Mesmo antes de residir neste tradicional pedaço paulistano, cheio de histórias, não saia da casa dos parentes que sempre moraram por lá.  
Eu simplesmente adorava andar de bonde e olhar as ruas de paralelepípedos. Ver as lojas, as pessoas elegantes indo para todo lado com pressa. Era uma vida de cinema para mim. 
Gostava muito de apreciar os casarões, mesmo os decadentes, que já na época guardavam histórias, resquícios das saraivadas de balas da Revolução de 32. A arquitetura rebuscada das fachadas e seus reboques de cimento cintilante me instigavam. 
Ouvia relatos que envolviam meus bisavós, avós, pais, tios e tias, onde o cenário eram sempre as ruas deste meu bairro. Rua Saldanha Marinho, Avenida Celso Garcia, Rua Catumbi, Maria Zélia, Largo São José do Belém, Rua Herval, Julio de Castilhos, Avenida Álvaro Ramos, Rua Cajurú, Dr Clementino, Pimenta Bueno, Irmã Carolina, Redenção. 
Grupo Escolar Amadeu Amaral, Cine Teatro São José, Cine Ibéria, Multividro, Cristaleria Lusitana, Casa Silva, Brinquedos Estrela, Agostiniano São José. 
Ontem fui almoçar com minha mulher na Pastelaria Japonesa que fica na Rua Belém, entre a Visconde de Parnaíba e a Cajuru, uma pastelaria à moda antiga fundada em 1971.  
Fomos lá só para matar saudades e a fome, naturalmente. 
Numa das paredes notei uma exposição de fotografias em preto e branco e coloridas, estas bem desbotadas e entre elas, duas me chamaram a atenção, eram da construção e inauguração do Viaduto Guadalajara, isso entre 1969 e 1970.  A inauguração se deu logo após a Copa do Mundo no México, ainda sob a euforia do TRI e por isso recebendo o nome, numa espécie de homenagem a receptividade do povo de Guadalajara.
Construção do Viaduto Guadalajara entre 1969 e 1970. As duas pistas ligavam o Largo São José do Belém à Praça Ubirajara e Rua Siqueira Bueno num percurso de quase 500 metros, passando sobre as linhas dos trens da Central ou RFFSA e também sobre a Avenida Radial Leste, recém inaugurada. Muitas residências e estabelecimentos comerciais foram desapropriados para esta construção. Com o viaduto inaugurado se fecharam as porteiras sobre os trilhos que cruzavam a Avenida Álvaro Ramos e a Rua Silva Jardim onde eram frequentes os atropelamentos e colisões entre trens, automóveis e ônibus. Anos depois chegou o Metrô Belém, em 1983.
Inauguração do Viaduto Guadalajara no final de 1970.  Ponto de vista sobre o edifício que fica quase na esquina do Largo São José com a Rua Cajuru. Do lado direito se vê o Grupo Escolar Amadeu Amaral e do lado esquerdo parte da Igreja de São José. 
O pastel estava uma delícia. 
Andar pelas ruas do bairro é como andar pelo quintal de nossa casa. Cada cantinho tem um pedacinho de nossa história. É só prestarmos atenção que a memória nos alcança. 
FELIZ 2015 PARA TODOS NÓS

22/12/2014

Pitágoras, você é o culpado.

A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.

E? Tentando encontrar lógica em tudo? Não vai conseguir, amigo.

Pegando um pedacinho da história do homem na terra. 

Carlos, o irmão mais novo de Renato era perdidamente apaixonado por Fernanda, que por sua vez deixara Renato dois meses atrás para ficar com Gilson, quase um ano mais velho que ela. 
O que Gilson queria mesmo era se divertir com a garota das pernas grossas e se divertiu, embora todos soubessem que sua verdadeira paixão era Daniela, a filha do meio de Dona Zulmira, a viúva.

Daniela foi  a primeira namorada de Carlos, irmão de Renato. 

Ambos tinham Zé Cláudio como primo e amigo.

Tempos depois Fernanda encheu-se dos afagos de Gilson e o mandou plantar batatas, trocou-o por Zé.

Zé, ainda muito novo, não sabia namorar, confidenciava a garota à prima Ideli, que chamava-a de “Miga" e também do pouco que ele gostava de encostar-se nela. 

Ideli ruborizava quando ouvia Fernanda falar dessas coisas. Se lembrava de João Carlos, o ex namorado que o pai proibira a aproximação.

Nem Carlos, nem Renato, nem Gilson e Zé Cláudio atraiam a atenção de Gabriela, a mais linda das três meninas, segundo eles próprios.

Ela guardava os olhos somente para Nestor, o mecânico negro de um metro e noventa de altura que mais parecia dois em um e que trabalhava na oficina do Antonio.

Antonio ou Seu Nenê como os mais íntimos o tratavam, já com quase setenta anos, contratou Nestor no ano passado para tocar a oficina. As costas lhe doíam por demais e muitos serviços vinha perdendo para a concorrência.

Nestor fazia gatos-e-sapatos com a namorada apaixonada que mal dormia de tanta aflição. 

A paixão mata-me pelas entradas! Gabriela dizia.

Fernanda, Daniela e Gabriela eram irmãs. A primeira com 21 anos, quase 22. A segunda com 20, embora aparentasse ser a mais velha das três e Gabi, a mais nova, com 17 para 18 anos. 

As três odiavam Carolina, Deise e Estela, as bruxas da casa amarela do início da rua. 
Desde pequenas sofriam bullying das “velhas malditas” e o ódio só foi crescendo com o tempo.

Com os anos tudo se transformou num grande nada na vida de todos daquela rua. Carlos casou-se com Fernanda, Renato com Gabriela e Daniela fisgou Gilson.

Zé Cláudio fez opção pelo Nestor para ser feliz e Seu Nenê morreu de um enfarte fulminante numa sexta-feira de carnaval, dias antes do casamento dos dois. 

Ideli e João Carlos foram realmente felizes para sempre, mas separados um do outro pelo oceano Atlântico, ele mudou-se para Barcelona enquanto ela refugiava-se em Divinópolis, interior de Minas Gerais e nunca mais tiveram notícias um do outro, nem pelo Face.

Dona Zulmira foi para um asilo, pois não aguentava mais arrumar a casa e passar tanta roupa. Nunca entendeu o por quê da novela das oito ser exibida às nove e meia da noite.

Carolina, Deise e Estela tiveram seus destinos pontuados de alegrias e decepções:  a primeira tornou-se ministra de estado e lésbica a segunda, lésbica e empresária de sucesso e Estela, a mais nova, mudou-se para o interior de Goiás com a namorada e lá abriram uma pequena loja de pesca na cidade de Valente.

Os filhos de Carlos e Fernanda - três ao total: Daniel, André e Lúcio, mais os filhos de Renato e Gabriela, Lauro e Ana Maria e as filhas gêmeas de Daniela e Gilson, Sara e Jane, estudam na mesma escolinha do bairro - Escola Segredo do Coração de Jesus e são bons alunos e alunas, com exceção de Lúcio que carrega secretamente um certo retardo mental, segundo a avó Maria Madalena.

De resto tudo bem na vida deles que seguiu de boa, assim como a minha que levo tentando compreender essa parafernália geométrica. 

Ah! Tem um homem que não mencionei na história cujo nome não me recordo, só sei que ele entregava pão e foi visto muitas vezes saindo da casa de Dona Maria Madalena, principalmente nas madrugadas frias, enquanto o marido dela viajava pelo Brasil trabalhando feito louco.

O homem morreu assasinado com dois tiros na nuca. Balas perdidas, segundo a polícia. Suspeitou-se de início do corno enciumado, mas este se fez de desentendido e tudo passou batido.

Matou por amor, então pode! Disse a manchete do jornal.

Como afirmou o matemático, a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Sendo assim, fim de papo.


20/12/2014

A lição do Arco-Iris


Alguém já conseguiu passar por debaixo do Arco-Iris? 
Foto do blogueiro com seu intrépido celular.
Só nos pensamentos. 
Você anda e nunca o alcança, parece que ele está ali bem pertinho de você. 
Intocável. 
Gigante, deslumbrante, todo colorido, formando um arco que vai do leste para o oeste, como se fosse uma pintura no céu só para chamar nossa atenção.
Fenômeno de refração da luz que se espelha nas gotículas húmidas do horizonte. Resultado da disputa de espaço entre as chuvas e a luz do sol.
Por si, a composição poderia nos servir de lição. 
A natureza é benevolente, pacífica, professora. 
Embora algumas vezes se mostre assustadora. 
Judiamos dela, desdenhamos dela, no entanto, ela só nos quer o bem. 
Somos filhos da natureza.