31/05/2015

Foda meu! Épol ou Sansungue?

Tô nu barato de tê um aifoni seis da épol. Dus grandi ainda. Aquele que é cheio de gigabaiti. Parece que é Pluis. 
Qui seis acha? Qual é melhó pra céufi?
Tem um foda da sansungui que é curvadinho dos ladu. Já viu? Esse é bacana também. Maió chouzaço.
Pô meu, to na maió dúvida agora. Foda meu! 
Que caraiu é esse tal de rechitégui?

Colírio Moura Brasil - Celly Campello e Carlos José

Domingando

Desligando pra Curtir este admirável mundo antigo.

No meio do deserto há um monumento que impressiona todos
www.chiadomagazine.com 
A Arábia Saudita é conhecida por toda a história e cultura que tem. Território das primeiras civilizações, existem centenas de monumentos e marcos importantes para a história do mundo. 
Há um local que pela sua magnitude e beleza tem cativado muitos visitantes e levantado muitas questões. O túmulo Qasr al-Farid, que significa "castelo solitário", foi construído no século primeiro e fica localizado em Mada'in Saleh. 
Nesta zona existem centenas de construções idênticas, mas Qasr al-Farid é a maior e mais fascinante. Olhando para a estrutura faz lembrar a cidade antiga de Petra, que era a capital do reino dos Nabateus. Situada na segunda maior cidade do reino, Mada'in Saleh, esta construção é um túmulo cravado numa estrutura de pedra maciça. O túmulo ficou inacabado, mas devido a essa característica foi possível saber como eram construídos, sempre de cima para baixo. 
Quanto maior era o túmulo, mais importante era pessoa que lá seria sepultada. Apesar da antiguidade desta estrutura, o clima seco da região conservou-a. Veja as fotos da imponência deste túmulo.






23/05/2015

Este mundo da injustiça globalizada

Texto lido na cerimônia de encerramento do Fórum Social Mundial 2002
José Saramago - 18.03.2002 
  
Começarei por vos contar em brevíssimas palavras um facto notável da vida camponesa ocorrido numa aldeia dos arredores de Florença há mais de quatrocentos anos. Permito-me pedir toda a vossa atenção para este importante acontecimento histórico porque, ao contrário do que é corrente, a lição moral extraível do episódio não terá de esperar o fim do relato, saltar-vos-á ao rosto não tarda.
Estavam os habitantes nas suas casas ou a trabalhar nos cultivos, entregue cada um aos seus afazeres e cuidados, quando de súbito se ouviu soar o sino da igreja. Naqueles piedosos tempos (estamos a falar de algo sucedido no século XVI) os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém aquele sino dobrava melancolicamente a finados, e isso, sim, era surpreendente, uma vez que não constava que alguém da aldeia se encontrasse em vias de passamento. Saíram portanto as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, deixaram os homens as lavouras e os mesteres, e em pouco tempo estavam todos reunidos no adro da igreja, à espera de que lhes dissessem a quem deveriam chorar. O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se. Instantes depois a porta abria-se e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. "O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino", foi a resposta do camponês. "Mas então não morreu ninguém?", tornaram os vizinhos, e o camponês respondeu: "Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta." 
Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar (algum conde ou marquês sem escrúpulos) andava desde há tempos a mudar de sítio os marcos das estremas das suas terras, metendo-os para dentro da pequena parcela do camponês, mais e mais reduzida a cada avançada. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à protecção da justiça. Tudo sem resultado, a expoliação continuou. Então,
desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma aldeia tem o exacto tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça. Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem excepção, o acompanhariam no dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela fosse ressuscitada. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e os mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido... Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, regressaram resignados, de cabeça baixa e alma sucumbida, à triste vida de todos os dias. É bem certo que a História nunca nos conta tudo...
 
Suponho ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino, uma campânula de bronze inerte, depois de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se aquele fúnebre dobre da aldeia de Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exacto e rigoroso sinónimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso os determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em acção, uma justiça em que se manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste. 
Mas os sinos, felizmente, não tocavam apenas para planger aqueles que morriam. Tocavam também para assinalar as horas do dia e da noite, para chamar à festa ou à devoção dos crentes, e houve um tempo, não tão distante assim, em que o seu toque a rebate era o que convocava o povo para acudir às catástrofes, às cheias e aos incêndios, aos desastres, a qualquer perigo que ameaçasse a comunidade. Hoje, o papel social dos sinos encontra-se limitado ao cumprimento das obrigações rituais e o gesto iluminado do camponês de Florença seria visto como obra desatinada de um louco ou, pior ainda, como simples caso de polícia. Outros e diferentes são os sinos que hoje defendem e afirmam a possibilidade, enfim, da implantação no mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo. Houvesse essa justiça, e nem um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns, mas não para outros. Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais de metade da humanidade, a condenação terrível que objectivamente tem sido. 
Esses sinos novos cuja voz se vem espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os múltiplos movimentos de resistência e acção social que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva e comutativa que todos os seres humanos possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua, uma justiça protectora da liberdade e do direito, não de nenhuma das suas negações. Tenho dito que para essa justiça dispomos já de um código de aplicação prática ao alcance de qualquer compreensão, e que esse código se encontra consignado desde há cinquenta anos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aquelas trinta direitos básicos e essenciais de que hoje só vagamente se fala, quando não sistematicamente se silencia, mais desprezados e conspurcados nestes dias do que o foram, há quatrocentos anos, a propriedade e a liberdade do camponês de Florença. E também tenho dito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tal qual se encontra redigida, e sem necessidade de lhe alterar sequer uma vírgula, poderia substituir com vantagem, no que respeita a rectidão de princípios e clareza de objectivos, os programas de todos os partidos políticos do orbe, nomeadamente os da denominada esquerda, anquilosados em fórmulas caducas, alheios ou impotentes para enfrentar as realidades brutais do mundo actual, fechando os olhos às já evidentes e temíveis ameaças que o futuro está a preparar contra aquela dignidade racional e sensível que imaginávamos ser a suprema aspiração dos seres humanos. 
Acrescentarei que as mesmas razões que me levam a referir-me nestes termos aos partidos políticos em geral, as aplico por igual aos sindicatos locais, e, em consequência, ao movimento sindical internacional no seu conjunto. De um modo consciente ou inconsciente, o dócil e burocratizado sindicalismo que hoje nos resta é, em grande parte, responsável pelo adormecimento social decorrente do processo de globalização económica em curso. Não me alegra dizê-lo, mas não poderia calá-lo. E, ainda, se me autorizam a acrescentar algo da minha lavra particular às fábulas de La Fontaine, então direi que, se não interviermos a tempo, isto é, já, o rato dos direitos humanos acabará por ser implacavelmente devorado pelo gato da globalização económica. 
E a democracia, esse milenário invento de uns atenienses ingénuos para quem ela significaria, nas circunstâncias sociais e políticas específicas do tempo, e segundo a expressão consagrada, um governo do povo, pelo povo e para o povo? Ouço muitas vezes argumentar a pessoas sinceras, de boa fé comprovada, e a outras que essa aparência de benignidade têm interesse em simular, que, sendo embora uma evidência indesmentível o estado de catástrofe em que se encontra a maior parte do planeta, será precisamente no quadro de um sistema democrático geral que mais probabilidades teremos de chegar à consecução plena ou ao menos satisfatória dos direitos humanos. Nada mais certo, sob condição de que fosse efectivamente democrático o sistema de governo e de gestão da sociedade a que actualmente vimos chamando democracia. E não o é. É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo. Tudo isto é verdade, mas é igualmente verdade que a possibilidade de acção democrática começa e acaba aí.  
O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder económico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira. Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos factos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e actuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica. E não nos apercebemos, como se para isso não bastasse ter olhos, de que os nossos governos, esses que para o bem ou para o mal elegemos e de que somos portanto os primeiros responsáveis, se vão tornando cada vez mais em meros "comissários políticos" do poder económico, com a objectiva missão de produzirem as leis que a esse poder convierem, para depois, envolvidas no açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os certas conhecidas minorias eternamente descontentes... 
Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos torne demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e o poder económico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo. 
Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor.

100 Anos

100 anos de contexto: não se trata de Guerra de Classes 
Por Conrado Cacace, do Resistência 1942UOL - 15 de maio de 2015

O futebol, em seus primórdios, era um esporte amador praticado por membros de clubes de elite, que tinham outras atividades. As primeiras competições tomaram forma; a classe operária formou seus clubes e a popularização foi rápida. Em algum ponto da História, os jogadores passaram a receber gratificações pelas partidas disputadas; ingressos passaram a ser cobrados para que o público assistisse aos jogos.

Com o interesse popular cada vez maior, torneios de seleções foram organizados. Os clubes excursionavam por países da América do Sul. O intercâmbio proporcionou as primeiras transferências de jogadores entre os países, ao mesmo tempo em que o profissionalismo foi instituído no esporte, por pressão dos próprios atletas, que se sentiam explorados. Formou-se, naturalmente, um mercado. E o dinheiro que circulava vinha da cobrança de ingressos.

As tensões políticas globais seguraram a evolução do mercado do futebol por cerca de 15 anos, mas o rádio popularizava o esporte cada vez mais. Quanto mais interesse, mais dinheiro. Os preços dos ingressos, entretanto, seguiam populares: a fórmula para sustentar os custos crescentes foi aumentar a capacidade dos estádios. Vieram o Pacaembu em 1940, o gigantesco Maracanã em 1950, e seguiram-se tantos outros estádios construídos Brasil afora com dinheiro público nas décadas seguintes.

Foi a época de ouro do futebol brasileiro. Entre as décadas de 50 e 70, raros eram os jogadores que se deixavam seduzir pela aventura no exterior; os meios de transporte não eram baratos, os meios de comunicação se limitavam às fronteiras nacionais e as barreiras entre os mercados ainda eram altas. O Brasil desenvolveu uma técnica natural de jogar bola; os melhores jogadores permaneciam por aqui mesmo e o país tinha o melhor futebol do mundo. As gestões amadoras ainda eram suficientes para manter esse mercado, ainda simples, funcionando.

Isso seguiu até o início da década de 80. Foi quando o primeiro grande êxodo de craques aconteceu, impulsionado pela evolução econômica dos mercados de futebol europeus, sobretudo a Itália. A Seleção de 82 tinha seus maiores destaques jogando em times do exterior. E a tendência só aumentou nas Copas seguintes. Os clubes brasileiros já não tinham como competir economicamente com os de fora. E os métodos de gestão de nossos clubes ficaram obsoletos. Vivemos um período de adaptação ao novo cenário.

Surgiram os primeiros patrocínios de camisa, ainda modestos. A TV pagava uma ninharia e os parcos recursos não era repassado aos clubes, apenas cobria o custo da organização. O preço dos ingressos subiu, a média de público caiu vertiginosamente. O público brasileiro só comparecia aos estádios nas fases finais, com grandes jogos proporcionados por fórmulas mirabolantes. O calendário se dividia em jogos para 2 a 5 mil pessoas e megaclássicos para mais de 100 mil, cujo ápice foi a primeira metade da década de 90. Os estádios comportavam quantas pessoas quisessem entrar, os ingressos eram infinitos. Até que houve cachoeira humana na final do Brasileiro de 1992 no Maracanã.
 
Para evitar maiores tragédias, os estádios foram limitados. Já enfiaram mais de 70 mil no Pacaembu, sem o tobogã. No velho Palestra, 40 mil. E no Morumbi, mais de 120 mil. Quase o dobro dos limites de capacidade impostos. Caiu a lotação, caiu a renda. Surgiram novos mercados, como o Japão. O êxodo de atletas para o exterior, em busca de maiores salários, se intensificou. Quem quisesse ter recursos para pagar por bons jogadores teria que desenvolver novos modelos de receita, e para isso, modernizar a gestão.  
O contexto que envolve a atual política de preços tem mais de cem anos, em evolução constante.O contexto de uma questão tão complexa não pode ser uma partida de futebol isolada. O que acontece hoje é resultado de mais de cem anos da existência de futebol no país, inserida em outro cenário mais complicado ainda, que envolve economia e política. A História do Futebol Brasileiro no Século 20, do ponto de vista estrutural, foi pretensiosamente resumida nos sete parágrafos acima, para tentar facilitar a leitura deste ponto de vista: saímos do amadorismo puro para modelos modernos de gestão. De forma análoga, o futebol em outros países também passou por seus acertos em meio a uma série de desacertos – cada um com sua História particular. Observando o processo como um todo, fica mais fácil perceber que o futebol, que hoje é um mercado, globalizado pelo desenvolvimento das comunicações e dos meios de transporte, ainda está vivendo um processo de ajuste.

É óbvio que surge um conflito humano diante de uma diferença tão grande entre o estado inicial e o atual. A paixão que moveu o esporte por muito tempo briga com a frieza do dinheiro. As técnicas de espetacularização, que funcionam bem nos esportes americanos mas que nem sempre casam com a cultura do futebol, são usadas para atender à expectativa deste novo público, já que as bilheterias ainda são uma fatia importante do modelo de receita da maioria dos clubes. Por enquanto, só os maiores expoentes das grandes economias podem se dar ao luxo de abrir mão de cobrar valores pouco acessíveis pelos ingressos por terem construído ao longo dos últimos anos um modelo de gestão sólido que já anda sozinho – por exemplo, Bayern e Dortmund.

O Palmeiras vive esse processo de ajuste. Neste ponto da História, é impensável abrir mão do potencial de receita do Allianz Parque. Se há 30 mil pessoas dispostas a pagar valores acima do que a média da torcida pode, é esse o patamar a ser praticado. Nosso clube viveu por anos sob gestões paupérrimas, muito abaixo das de nossos principais rivais. Isso explica o rendimento tão pobre dentro de campo nas últimas décadas. Foi o preço de ser o mais amador num ambiente cada vez mais profissional.

A casa está sendo arrumada, num passo veloz, graças a uma convergência de ações relacionadas direta ou indiretamente ao Allianz Parque. É possível, dentro de alguns anos, que o clube goze de tal saúde financeira que vai poder voltar a conciliar a raiz popular do esporte com a competitividade do mercado, e poderá então abrir mão da receita potencial das bilheterias em nome da reinclusão das classes menos favorecidas nas arquibancadas, sem perder competitividade econômica.

Neste momento da História em que o clube está optando por usar o potencial econômico da fatia mais abastada da torcida para auxiliar nesse processo de reconstrução, há o risco de transformar o ambiente do estádio em algo frio e sem graça, se essa tendência durar muito. Algumas aberrações acontecem, como os bastões de bate-bate e o telão que fecha closes em torcedores aos 40 do segundo tempo – e os caras acenam e sorriem, quando o momento é de absoluta tensão, pelo menos aos mais afeitos à real atmosfera de um estádio de futebol. Alguns erros são gritantes.

Aparentemente estamos sob o comando de pessoas competentes, que aprendem com seus equívocos. Podemos verificar essa tendência tanto na gestão do futebol, a parte mais aparente, como em detalhes como o preenchimento dos setores laterais do Allianz Parque. Hoje temos um processo de precificação atuante no clube. Os setores Leste e Oeste, antes vazios, já enchem. A estratégia de manter fechado o setor superior em jogos menores está se mostrando acertada, e preços mais acessíveis já puderam ser praticados num jogo de apelo menor.

Não existe um processo de elitização deliberado, muito menos uma "guerra de classes". Existe um movimento gerencial, que eventualmente tem seus efeitos colaterais indesejáveis, mas nem de longe pode ser associado a um desejo higienista ou a uma cultura de ódio. Cada coisa em seu lugar.

O Palmeiras está tentando voltar a dar orgulho a sua imensa torcida, a ser competitivo, está tirando a diferença construída pelos rivais nas últimas décadas, e que tende a ser maior ainda com os recentes e desastrosos acordos com a televisão, firmados há poucos anos. Isso requer sacrifícios – e assumir riscos. Pode até haver outra fórmula para se manter um alto nível de competitividade abrindo mão da hoje importante receita das bilheterias – o espaço dos comentários é todo de vocês.

Estamos inseridos num contexto histórico de mais de cem anos, sob um sistema econômico implacável, e enquanto a regra for essa, não existe mágica. Que o digam a Portuguesa e o Guarani. Mas ainda existe o futebol onde tudo se resolve dentro de campo e no qual o poder econômico não interfere. A várzea ainda pulsa. Cada um vive o futebol como seu coração permitir.


18/05/2015

Payssandú e o Planeta dos Macacos

Largo do Paiçandu, 1924 em São Paulo. Payssandú na grafia da época. 
Gostei da foto, pesquei ela na página "Memórias Paulistanas" no Facebook. 
Nessa época acho que a cidade não tinha cheiro de urina humana e nem bagunças de torcidas ou de black blocs. O crime organizado era coisa de americano, Chicago ainda fica longe daqui.
44 anos depois desta fotografia ter sido feita estava eu sentado numa das poltronas estofadas em vermelho do Cine Ouro. Na foto o cinema ficava bem à direita, à esquerda da igreja, quase de esquina onde se vê um edifício mais escuro. 
Fui assistir Planeta dos Macacos, o filme original com Charlton Heston. O cine Ouro era um dos mais caros da cidade. Eu já trabalhava e tinha grana para algumas extravagâncias.
Me lembro que antes do filme teve uma apresentação de um pianista cujo nome não me recordo. Provavelmente constava no cartaz ao lado da bilheteria, mas 47 anos depois dar crédito ao artista ficou impossível para mim. Lamento.
Saí do cinema atordoado pela a mensagem do filme. Foi demais tentar compreender o fim do mundo de forma tão símia.
Naquele final de tarde de domingo cinzento o Largo do Payssandú ainda não cheirava urina humana e nem se via nóias zumbizando por suas entranhas.
Meio deprimido eu caminhava até o ponto final do bonde que ficava na Praça Clóvis Bevilácqua no centro velho. Me perguntava se o mundo acabaria da forma como o filme narrava: numa grande guerra nuclear dizimando a inteligência dos humanos para dar aos macacos a supremacia da inteligência na face da terra. 
Anos depois me dei conta que não foi preciso disparar um megaton sequer no planeta para aniquilar com essa "inteligência", pois uma outra reação química e de natureza biológica estaria fazendo o papel na surdina.
Ao invés da custosa desintegração de átomos de urânio sob pressão nuclear, a urina lançada em praças públicas, vielas, becos e ruas escuras do terceiro mundo vem fazendo o trabalho com maior eficiência. 
O problema é que os macacos também estão sendo dizimados com esse bombardeio ácido. Talvez as baratas sobrevivam e sejam a nova inteligência.
Então, Apes, aerosol nelas e nos mijões também e que se dane a camada de ozônio.

17/05/2015

Domingueira

Só pra instigar, quem iria nessa? Com uma conexão de banda larga, de resto, beleza! 
Artigo 100% subtraído do site ciclovivo.com.br 
Casal canadense cria e mora em sua própria ilha flutuante autossustentável 
08 de Maio de 2015    
A estrutura é formada por 12 plataformas. 
Os artistas canadenses Wayne Adams e Catherine King adotaram um estilo de vida totalmente independente. Eles criaram uma pequena ilha flutuante onde plantam seus próprios alimentos, geram a energia e água necessárias para o consumo e trabalham. 
O complexo habitacional começou a ganhar forma em 1992, quando o casal decidiu investir da “Freedom Cove”. Localizada na costa de Tofino, em British Columbia, Canadá, a estrutura é formada por 12 plataformas, por onde estão espalhados viveiros, estufas, hortas, a casa e um estúdio, que permite ao casal produzir peças artesanais vendidas em comércios locais. 
Adams e Catherine garantem que é possível viver ali durante todo o ano, independente das condições climáticas. A ilha já passou por grandes tempestades e sobreviveu muito bem. Além disso, eles têm em mãos tudo o que precisam e o suficiente para criar dois filhos ao longo de mais de 20 anos. 
 A energia usada para abastecer o pequeno complexo é obtida a partir de placas fotovoltaicas e transformadores. A estrutura também conta com sistema de captação da água da chuva e parte da água potável é retirada de uma cachoeira próxima e usada para suprir a demanda da família. As hortas e estufas produzem os vegetais e frutas. Eles tentaram por um tempo criar galinhas também, mas perceberam que os animais acabavam sendo presas fáceis e desistiram da opção.   
Entre os meses de junho e setembro, o casal abre as portas de sua ilha para receber visitantes, que conhecem cada detalhe deste projeto e podem entender melhor como tudo funciona.

16/05/2015

1974 - Conceição conheceu a liberdade

 Pinterest  Gueule-de-loupviolett-tumblr.com 
Como de costume o relógio despertou às 06h30. A mão alcançou a trava e mais uma vez, por conta do sono, ela tombou o aparelho. Os trincados do vidro depois de anos já se mostravam amarelados, mas a peça se mantinha na estrutura.  
As coisas de antigamente eram para sempre.
Empurrou o cobertor para o lado e jogou a perna direita e depois a esquerda ao chão. Sentou-se à cama e com os pés procurou os chinelos. Os calçou e seguiu ao banheiro, a bexiga parecia querer explodir. 
O penico ficou de longe esquecido. Virou vaso para a samambaia, lá no quintal. O banheiro agora ficava dentro de casa. 
Dez minutos após voltou ao quarto para acordar Seu Francisco. Depois de alguns cutucões deu-se conta que o marido não se mexia, não respirava, estava frio, parecia um cadáver. Os olhos estavam bem fechados. 
Pensou: morreu. 
Depois de quase cinquenta anos Dona Conceição não tinha mais quem a inibisse nas opiniões e nem a quem precisasse cozinhar na hora certa, senão a ela mesma, quando e o que quisesse.
Até os 17 os pais europeus eram os inquisidores. A partir daí o marido tomou o lugar deles. Os filhos não a ouviam há anos. Muito menos as noras e os genros. Os netos, todos mal-educados para o gosto dela. 
Conceição sentiu-se livre.  Finalmente.
Iria viver a partir dali com seus setenta e tantos anos, como sempre quis viver: sem ter que dar satisfação a ninguém, muito menos viver pra contar histórias e dar milho aos pombos. 
Isso é coisa de quem se sente preso.

15/05/2015

Guturalidades

Humanos, alguns insistem em se manter próximos às origens.
 Estariam esses na categoria, humanos? 
Parece que qualquer tipo de fanatismo dificulta o processo civilizatório.

14/05/2015

EU CONFIO EM VOCÊ, E VOCÊ CONFIA EM MIM?! (Blind Social Experiment)

Atitudes que drenam energia

Do site: www.sobmalhete.com 
21/06/2013
 1 – Pensamentos obsessivos
Pensar gasta energia, e todos nós sabemos disso. Ficar remoendo um problema cansa mais do que um dia inteiro de trabalho físico. Quem não tem domínio sobre seus pensamentos – mal comum ao homem ocidental, torna-se escravo da mente e acaba gastando a energia que poderia ser convertida em atitudes concretas, além de alimentar ainda mais os conflitos. Não basta estar atento ao volume de pensamentos, é preciso prestar atenção à qualidade deles. Pensamentos positivos, éticos e elevados podem recarregar as energias, enquanto o pessimismo consome energia e atrai mais negatividade para nossas vidas. 
2 – Sentimentos tóxicos 
Choques emocionais e raiva intensa também esgotam as energias, assim como ressentimentos e mágoas nutridos durante anos seguidos. Não é à toa que muitas pessoas ficam estagnadas e não são prósperas. Isso acontece quando a energia que alimenta o prazer, o sucesso e a felicidade é gasta na manutenção de sentimentos negativos. Medo e culpa também gastam energia, e a ansiedade descompassa a vida. Por outro lado, os sentimentos positivos, como a amizade, o amor, a confiança, o desprendimento, a solidariedade, a auto-estima, a alegria e o bom-humor recarregam as energia e dão força para empreender nossos projetos e superar os obstáculos. 
3 – Maus hábitos 
Falta de cuidado com o corpo
Descanso, boa alimentação, hábitos saudáveis, exercícios físicos e o lazer são sempre colocados em segundo plano. A rotina corrida e a competitividade fazem com que haja negligência em relação a aspectos básicos para a manutenção da saúde energética.
 
4 – Fugir do presente 
As energias são colocadas onde a atenção é focada. O homem tem a tendência de achar que no passado as coisas eram mais fáceis: “bons tempos aqueles!”, costumam dizer. Tanto os saudosistas, que se apegam às lembranças do passado, quanto aqueles que não conseguem esquecer os traumas, colocam suas energias no passado. Por outro lado, os sonhadores ou as pessoas que vivem esperando pelo futuro, depositando nele sua felicidade e realização, deixam pouca ou nenhuma energia no presente. E é apenas no presente que podemos construir nossas vidas. 
5 – Falta de perdão 
Perdoar significa soltar ressentimentos, mágoas e culpas. Libertar o que aconteceu e olhar para frente. Quanto mais perdoamos, menos bagagem interior carregamos, gastando menos energia ao alimentar as feridas do passado. Mais do que uma regra religiosa, o perdão é uma atitude inteligente daquele que busca viver bem e quer seus caminhos livres, abertos para a felicidade. Quem não sabe perdoar os outros e si mesmo, fica ”energeticamente obeso”, carregando fardos passados. 
6 – Mentira pessoal 
Todos mentem ao longo da vida, mas para sustentar as mentiras muita energia é gasta. Somos educados para desempenhar papéis e não para sermos nós mesmos: a mocinha boazinha, o machão, a vítima, a mãe extremosa, o corajoso, o pai enérgico, o mártir e o intelectual. Quando somos nós mesmos, a vida flui e tudo acontece com pouquíssimo esforço. 
7 – Viver a vida do outro 
Ninguém vive só e, por meio dos relacionamentos interpessoais, evoluímos e nos realizamos, mas é preciso ter noção de limites e saber amadurecer também nossa individualidade. Esse equilíbrio nos resguarda energeticamente e nos recarrega. Quem cuida da vida do outro, sofrendo seus problemas e interferindo mais do que é recomendável, acaba não tendo energia para construir sua própria vida. O único prêmio, nesse caso, é a frustração. 
8 – Bagunça e projetos inacabados 
A bagunça afeta muito as pessoas, causando confusão mental e emocional. Um truque legal quando a vida anda confusa é arrumar a casa, os armários, gavetas, a bolsa e os documentos, além de fazer uma faxina no que está sujo. À medida em que ordenamos e limpamos os objetos, também colocamos em ordem nossa mente e coração. Pode não resolver o problema, mas dá alívio. Não terminar as tarefas é outro “escape” de energia. Todas as vezes que você vê, por exemplo, aquele trabalho que não concluiu, ele lhe “diz” inconscientemente: “você não me terminou! Você não me terminou!” Isso gasta uma energia tremenda. Ou você a termina ou livre-se dela e assuma que não vai concluir o trabalho. O importante é tomar uma atitude. O desenvolvimento do auto-conhecimento, da disciplina e da terminação farão com que você não invista em projetos que não serão concluídos e que apenas consumirão seu tempo e energia. 
9 – Afastamento da natureza 
A natureza, nossa maior fonte de alimento energético, também nos limpa das energias estáticas e desarmoniosas. O homem moderno, que habita e trabalha em locais muitas vezes doentios e desequilibrados, vê-se privado dessa fonte maravilhosa de energia. A competitividade, o individualismo e o estresse das grandes cidades agravam esse quadro e favorecem o vampirismo energético, onde todos sugam e são sugados em suas energias vitais. 
10 - Preguiça, negligência 
E falta de objetivos na vida. Esse ítem não requer muitas explicações: negligência com a sua vida denota também negligência com seus dons e potenciais e, principalmente, com sua energia vital. Aquilo do que você não cuida, alguém vem e leva embora. O resultado: mais preguiça, moleza, sono…. 
11 - Fanatismo 
Passa um ventinho: “Ai meu Deus!!!! Tem energia ruim aqui!!!” Alguém olha para você: “Oh! Céus, ela está morrendo de inveja de mim!!!” Enfim, tudo é espírito ruim, tudo é energia do mal, tudo é coisa do outro mundo. Essas pessoas fanáticas e sugestionáveis também adoram seguir “mestres e gurus” e depositar neles a responsabilidade por seu destino e felicidade. É fácil, fácil manipular gente assim e não só em termos de energia, mas também em relação à conta bancária! 
12 - Falta de aceitação 
Pessoas revoltadas com a vida e consigo mesmas, que não aceitam suas vidas como elas são, que rejeitam e fazem pouco caso daquilo que têm. Esses indivíduos vivem em constante conflito e fora do seu eixo. E, por não valorizarem e não tomarem posse dos seus tesouros – porque todos nós temos dádivas – são facilmente ‘roubáveis’.
O importante é aprender a aceitar e agradecer tudo o que temos (não confundir com acomodação). Quando você agradece e aceita fica em estado vibracional tão positivo que a intuição e a criatividade são despertadas. Surgem, então, as possibilidades de transformar a vida para melhor!
* Vera Caballero é Professora de Yoga, numeróloga, terapeuta floral, reiki master, massoterapeuta, ministra cursos e palestras sobre Bioenergias.


10/05/2015

A História e o Tempo

  Imagem extraída do Pinterest 
Apesar da noite fria Lídia Maria de Oliveira sentia-se aquecida.

Exausta, acomodou-se numa das quatro cadeiras da cozinha com os cotovelos sobre a mesa de fórmica, na tentativa de evitar qualquer pensamento senão o de querer ver o tempo passar bem rapidamente como num passe de mágica, cinco anos à frente, dez, talvez.

Se ateve às poucas chamas que saiam do fogão à lenha onde pipocavam fagulhas dos pedacinhos de madeira seca que queimavam no ar.

Para ela, de certa forma, o inverno em Campos do Jordão era contornado às quatro e meia da manhã daquela madrugada fria de segunda para terça-feira. O sono não, esse insistia com toda rudeza.

Lembrou ter se deitado às dez da noite e levantou-se às onze e quinze. Uma hora e pouco dormindo ininterruptamente era coisa rara nos últimos tempos.

Retornou para cama à meia noite e quatro minutos. Caminhou atenta evitando os tropeços que fatalmente provocariam ruídos inconvenientes ao saborosíssimo silêncio que se estabelecera. 

O relógio digital sobre o móvel ao lado da cama indicava horas que às vezes se arrastavam e outras, ilogicamente, aceleravam. As luzes esverdeadas deste serviam mesmo é de lanternas para o quarto escuro.

O choro da criança mais uma vez a despertou. Isso, quarenta e sete minutos após. 

É assim mesmo, filha! Lembrou-se do que a mãe dizia.

Uma hora e cinquenta e seis minutos da manhã. 

Percebeu ter cochilado em pé por dois minutos e meio, carregando os quatro quilos e duzentos gramas pelo colo. 

Acordou assustada, sem equilíbrio, apoiou-se no guarda-roupas para evitar a queda.
Uma tragédia podia ter acontecido, pensou ela, culpando-se. 
As noites têm sido difíceis nos últimos tempos para Lídia Maria de Oliveira, menina-moça até bem pouco e agora madura com seus 22 bem vividos. 

O marido levantava às cinco da manhã para pegar no batente quase todos os dias da semana. Era caseiro na chácara onde moravam e largava do serviço somente às sete da noite.

Então precisava dormir, tinha que garantir o ganhão-pão e a moradia da família que há nove meses aumentara no tamanho com a chegada do gorducho.

Meia hora depois estava de volta, agora aquecida na cama e no maior silêncio do mundo, Lidia Maria de Oliveira colocou a mão sobre o ombro de José Luis de Oliveira e disse baixinho: 
__ Ô Luis, acorda, tá na hora! Levanta e não faz barulho pra não acordar o Zezinho. Vou tentar descansar mais meia horinha. Tchau!
A história de uma forma ou de outra se repete por todos os cantos do mundo e em todos os tempos de todos os tempos. Aqui, ali ou em qualquer lugar, mãe é mãe até de baixo d'água. 
Elas estão sempre ao nosso lado. Sempre. Ainda bem!

05/05/2015

Deus e Freud no vice-campeonato do Palmeiras

Imagem Google
Do blog do Juca Kfouri, o texto de Erika Gimenez Barbuglio. Resolvi guardá-lo aqui. 
Deus e Freud no vice-campeonato do Palmeiras.
Mais um fim de jogo.
Dessa vez o último jogo do campeonato. E perdemos…
Hora de cuidar do coração, juntar os cacos da paixão, aceitar a derrota e comemorar o vice-campeonato…
Comemorar o segundo lugar?
Mais do que em qualquer outro país, tal ideia no Brasil beira o absurdo. Questão cultural, que nos impede de apoiarmos mais o esporte e cultivar nossos atletas.
Mas, voltemos no tempo, cinco meses atrás, dia 07 de dezembro de 2014. Lembro-me muito bem, todo palmeirense lembra. Não, não estávamos disputando uma final, estávamos aguardando a vitória do Santos para permanecermos na Série A do Campeonato Brasileiro. E comemoramos com alívio na Turiaçú nossa sobrevivência.
Naquele dia, festejei na calçada um gol santista como se fosse um gol do meu Verdão…
2015 veio e muita coisa mudou: técnico, equipe, dirigente. Mas algo se consolidou, em grande aliança: Palmeiras e sua torcida. Estamos ainda mais unidos, acreditamos mais, tivemos nosso orgulho resgatado, nos sentimos novamente grandes, gigantes. Nosso amor foi renovado.
Perder é sempre ruim, mas não posso deixar de observar que foi uma honra disputar uma final tão rapidamente depois de tudo que sofremos em 2014. E honra maior foi disputa-la com o adversário que sem dúvida mereceu vencer.
Claro que ficou o gosto amargo da derrota, claro que o “é campeão” ficou engasgado. Claro que sofri nos pênaltis, fechei os olhos, cruzei os dedos. E terminei o domingo enxugando lágrimas, minhas e do meu pequeno Dante…
Mas se pelo pensamento racional muitas vezes não conseguimos êxito para amenizar a dor, porque o ser humano, creio eu, é mais emoção do que razão, vamos tentar os mecanismos de defesa que temos.
Mais uma vez a vida me mostra que aprendo mais com meu filho do que penso ensinar… Após torcer, gritar, sofrer e chorar durante a partida, no fim do jogo pego aquele meninão no colo ao ver seus olhinhos cheios de lágrimas, embora ele tentasse escondê-los, afinal, meninos não choram…
Se ele tentava se conter, eu não consigo e, tentando consolá-lo, choro baixinho, procurando esconder dele as lágrimas que teimam em cair, enquanto busco manter o controle porque, afinal, sou adulta, mãe e bem crescida…
Tento conversar, munida de minha autoridade de gente grande, argumentando que chegamos longe e somos vice, oras!
– Não, mãe, eu não queria ser vice, eu queria ganhar! Eu rezei e Deus não me ouviu…
– Claro que ouviu, filho, mas Deus não joga futebol nem torce para nenhum time – ainda bem!!
Nesse momento, Freud entra em cena: me olhando fundo nos olhos, Dante desliga o canal que transmitia o jogo e liga o videogame: – Então, agora quem vai jogar sou eu!
Sim, foi Santos x Palmeiras no futebol virtual da sublimação, e adivinha quem ganhou?
Ganhamos todos! Jogar, torcer, vencer, perder, sofrer, superar, comemorar: emoções, excesso de vida acontecendo dentro das quatro linhas brancas…
E eu assistindo um menino a tornar-se um homem, com a camisa do Palmeiras…
Obrigada pela lição, filho! Obrigada, Palmeiras! Estamos vivos e a luta nos aguarda!

03/05/2015

Avanti Palestra!

Não deu ainda! Não foi dessa vez, mas não faz mal, estamos chegando. 
O legal é que voltamos e agora com um mega estádio, administração saneada e um time bem competitivo.  
Pra desgosto de alguns que se esforçam na carga negativa. 
Aos gozadores do bem, tudo bem, de boa.
Sem complexo de Barcelona e com personalidade própria a gente se sente mais livre e forte. 
Avanti Palestra!

02/05/2015

Palavra boa é palavra líquida

Me dá um abraço, pois é a única coisa falsa deste programa!
Conheci o poema de Viviane Mosé, o qual publico hoje aqui, através do PROVOCAÇÕES, programa da TV Cultura de São Paulo, apresentado por Antônio Abujamra, que a meu ver nos deixou precocemente nesta semana, e dirigido por Gregório Bacic, um grande sujeito que conheci quando passei por esta emissora e que do qual espero agora novas Provocações.  
Aos dois e a equipe meus sinceros reconhecimentos pelo trabalho diferenciado. Sou fã do programa desde o início, há quase quinze anos.
 
Receita para arrancar poemas presos
Viviane Mosé
A maioria das doenças que as pessoas têm são poemas presos.
Abscessos, tumores, nódulos, pedras são palavras calcificadas,Poemas sem vazão.Mesmo cravos pretos, espinhas e cabelo encravado.Prisão de ventre poderia um dia ter sido poema. Mas não.Pessoas às vezes adoecem da razãoDe gostar de palavra presa.Palavra boa é palavra líquida, escorrendo em estado de lágrima.Lágrima é dor derretida. Dor endurecida é tumor.Lágrima é alegria derretida. Alegria endurecida é tumor.Lágrima é raiva derretida. Raiva endurecida é tumor.Lágrima é pessoa derretida. Pessoa endurecida é tumor.Tempo endurecido é tumor. Tempo derretido é poema.

Viviane Mosé é psicóloga e psicanalista. Escreveu e apresentou, em 2005 e 2006, o quadro Ser ou não ser, no Fantástico, onde trazia temas de filosofia para uma linguagem cotidiana. (Youtube)
 

01/05/2015

Deixa que eu conto

A Incapacidade de Ser Verdadeiro
Carlos Drummond de Andrade  
Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. 
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. 
Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias. 
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. 
Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia. 

DEIXA QUE EU CONTO
Carlos Drummond de Andrade
 
SP - Editora Ática, 2003