31/12/2014

Paulistano nada ilustre guarda na memória o seu bairro.

Na última postagem do ano deixo uma lembrancinha, quase um dengo ao meu bairro, o Belém, Belenzinho.
 
Nasci na Penha, morei no Ipiranga quando muito criança e logo me mudei para o Belém onde fui criado.  
Mesmo antes de residir neste tradicional pedaço paulistano, cheio de histórias, não saia da casa dos parentes que sempre moraram por lá.  
Eu simplesmente adorava andar de bonde e olhar as ruas de paralelepípedos. Ver as lojas, as pessoas elegantes indo para todo lado com pressa. Era uma vida de cinema para mim. 
Gostava muito de apreciar os casarões, mesmo os decadentes, que já na época guardavam histórias, resquícios das saraivadas de balas da Revolução de 32. A arquitetura rebuscada das fachadas e seus reboques de cimento cintilante me instigavam. 
Ouvia relatos que envolviam meus bisavós, avós, pais, tios e tias, onde o cenário eram sempre as ruas deste meu bairro. Rua Saldanha Marinho, Avenida Celso Garcia, Rua Catumbi, Maria Zélia, Largo São José do Belém, Rua Herval, Julio de Castilhos, Avenida Álvaro Ramos, Rua Cajurú, Dr Clementino, Pimenta Bueno, Irmã Carolina, Redenção. 
Grupo Escolar Amadeu Amaral, Cine Teatro São José, Cine Ibéria, Multividro, Cristaleria Lusitana, Casa Silva, Brinquedos Estrela, Agostiniano São José. 
Ontem fui almoçar com minha mulher na Pastelaria Japonesa que fica na Rua Belém, entre a Visconde de Parnaíba e a Cajuru, uma pastelaria à moda antiga fundada em 1971.  
Fomos lá só para matar saudades e a fome, naturalmente. 
Numa das paredes notei uma exposição de fotografias em preto e branco e coloridas, estas bem desbotadas e entre elas, duas me chamaram a atenção, eram da construção e inauguração do Viaduto Guadalajara, isso entre 1969 e 1970.  A inauguração se deu logo após a Copa do Mundo no México, ainda sob a euforia do TRI e por isso recebendo o nome, numa espécie de homenagem a receptividade do povo de Guadalajara.
Construção do Viaduto Guadalajara entre 1969 e 1970. As duas pistas ligavam o Largo São José do Belém à Praça Ubirajara e Rua Siqueira Bueno num percurso de quase 500 metros, passando sobre as linhas dos trens da Central ou RFFSA e também sobre a Avenida Radial Leste, recém inaugurada. Muitas residências e estabelecimentos comerciais foram desapropriados para esta construção. Com o viaduto inaugurado se fecharam as porteiras sobre os trilhos que cruzavam a Avenida Álvaro Ramos e a Rua Silva Jardim onde eram frequentes os atropelamentos e colisões entre trens, automóveis e ônibus. Anos depois chegou o Metrô Belém, em 1983.
Inauguração do Viaduto Guadalajara no final de 1970.  Ponto de vista sobre o edifício que fica quase na esquina do Largo São José com a Rua Cajuru. Do lado direito se vê o Grupo Escolar Amadeu Amaral e do lado esquerdo parte da Igreja de São José. 
O pastel estava uma delícia. 
Andar pelas ruas do bairro é como andar pelo quintal de nossa casa. Cada cantinho tem um pedacinho de nossa história. É só prestarmos atenção que a memória nos alcança. 
FELIZ 2015 PARA TODOS NÓS

22/12/2014

Pitágoras, você é o culpado.

A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.

E? Tentando encontrar lógica em tudo? Não vai conseguir, amigo.

Pegando um pedacinho da história do homem na terra. 

Carlos, o irmão mais novo de Renato era perdidamente apaixonado por Fernanda, que por sua vez deixara Renato dois meses atrás para ficar com Gilson, quase um ano mais velho que ela. 
O que Gilson queria mesmo era se divertir com a garota das pernas grossas e se divertiu, embora todos soubessem que sua verdadeira paixão era Daniela, a filha do meio de Dona Zulmira, a viúva.

Daniela foi  a primeira namorada de Carlos, irmão de Renato. 

Ambos tinham Zé Cláudio como primo e amigo.

Tempos depois Fernanda encheu-se dos afagos de Gilson e o mandou plantar batatas, trocou-o por Zé.

Zé, ainda muito novo, não sabia namorar, confidenciava a garota à prima Ideli, que chamava-a de “Miga" e também do pouco que ele gostava de encostar-se nela. 

Ideli ruborizava quando ouvia Fernanda falar dessas coisas. Se lembrava de João Carlos, o ex namorado que o pai proibira a aproximação.

Nem Carlos, nem Renato, nem Gilson e Zé Cláudio atraiam a atenção de Gabriela, a mais linda das três meninas, segundo eles próprios.

Ela guardava os olhos somente para Nestor, o mecânico negro de um metro e noventa de altura que mais parecia dois em um e que trabalhava na oficina do Antonio.

Antonio ou Seu Nenê como os mais íntimos o tratavam, já com quase setenta anos, contratou Nestor no ano passado para tocar a oficina. As costas lhe doíam por demais e muitos serviços vinha perdendo para a concorrência.

Nestor fazia gatos-e-sapatos com a namorada apaixonada que mal dormia de tanta aflição. 

A paixão mata-me pelas entradas! Gabriela dizia.

Fernanda, Daniela e Gabriela eram irmãs. A primeira com 21 anos, quase 22. A segunda com 20, embora aparentasse ser a mais velha das três e Gabi, a mais nova, com 17 para 18 anos. 

As três odiavam Carolina, Deise e Estela, as bruxas da casa amarela do início da rua. 
Desde pequenas sofriam bullying das “velhas malditas” e o ódio só foi crescendo com o tempo.

Com os anos tudo se transformou num grande nada na vida de todos daquela rua. Carlos casou-se com Fernanda, Renato com Gabriela e Daniela fisgou Gilson.

Zé Cláudio fez opção pelo Nestor para ser feliz e Seu Nenê morreu de um enfarte fulminante numa sexta-feira de carnaval, dias antes do casamento dos dois. 

Ideli e João Carlos foram realmente felizes para sempre, mas separados um do outro pelo oceano Atlântico, ele mudou-se para Barcelona enquanto ela refugiava-se em Divinópolis, interior de Minas Gerais e nunca mais tiveram notícias um do outro, nem pelo Face.

Dona Zulmira foi para um asilo, pois não aguentava mais arrumar a casa e passar tanta roupa. Nunca entendeu o por quê da novela das oito ser exibida às nove e meia da noite.

Carolina, Deise e Estela tiveram seus destinos pontuados de alegrias e decepções:  a primeira tornou-se ministra de estado e lésbica a segunda, lésbica e empresária de sucesso e Estela, a mais nova, mudou-se para o interior de Goiás com a namorada e lá abriram uma pequena loja de pesca na cidade de Valente.

Os filhos de Carlos e Fernanda - três ao total: Daniel, André e Lúcio, mais os filhos de Renato e Gabriela, Lauro e Ana Maria e as filhas gêmeas de Daniela e Gilson, Sara e Jane, estudam na mesma escolinha do bairro - Escola Segredo do Coração de Jesus e são bons alunos e alunas, com exceção de Lúcio que carrega secretamente um certo retardo mental, segundo a avó Maria Madalena.

De resto tudo bem na vida deles que seguiu de boa, assim como a minha que levo tentando compreender essa parafernália geométrica. 

Ah! Tem um homem que não mencionei na história cujo nome não me recordo, só sei que ele entregava pão e foi visto muitas vezes saindo da casa de Dona Maria Madalena, principalmente nas madrugadas frias, enquanto o marido dela viajava pelo Brasil trabalhando feito louco.

O homem morreu assasinado com dois tiros na nuca. Balas perdidas, segundo a polícia. Suspeitou-se de início do corno enciumado, mas este se fez de desentendido e tudo passou batido.

Matou por amor, então pode! Disse a manchete do jornal.

Como afirmou o matemático, a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Sendo assim, fim de papo.


20/12/2014

A lição do Arco-Iris


Alguém já conseguiu passar por debaixo do Arco-Iris? 
Foto do blogueiro com seu intrépido celular.
Só nos pensamentos. 
Você anda e nunca o alcança, parece que ele está ali bem pertinho de você. 
Intocável. 
Gigante, deslumbrante, todo colorido, formando um arco que vai do leste para o oeste, como se fosse uma pintura no céu só para chamar nossa atenção.
Fenômeno de refração da luz que se espelha nas gotículas húmidas do horizonte. Resultado da disputa de espaço entre as chuvas e a luz do sol.
Por si, a composição poderia nos servir de lição. 
A natureza é benevolente, pacífica, professora. 
Embora algumas vezes se mostre assustadora. 
Judiamos dela, desdenhamos dela, no entanto, ela só nos quer o bem. 
Somos filhos da natureza. 

23/11/2014

Capim

Relaxando em Piracaia. 
Orégano, salsinha, cebolinha e manjericão. Manjerona, Alecrim, Pimenta do Reino e açafrão. 
Lembrei de um monte e aqui vai a relação: 
Pimenta Calabresa, Cravo da Índia, Canela, Noz-Moscada, Coloral, Cominho, Alho-Poró, Chimichurri, Gengibre, Louro, Páprica, Coentro, Curry, Endro Dill, Ortelã, Sálvia, Quinoa, Chia, Cebola, Alho, Boldo, Erva-Cidreira ou Capim-Santo, Erva-Doce, Camomila e Estragão.
Deve existir mais um tantão. 


















20/11/2014

Parecia um Sonho

Em toda profissão existem aspectos bacanas convivendo com outros nem sempre legais. Estes vêm por osmose, como se diz, uma espécie de taxa obrigatória pela qual o sujeito paga para desfrutar do lado bom da profissão. Afinal, Paraíso não passa de um nome de bairro de São Paulo que carrega o louro de Éden sem mesmo ter por merecer. E se quer saborear doce melado, meu raro leitor, melhor mesmo é se lambuzar. Tem que meter o pé na jaca, não tem jeito.
O cidadão pode ser médico, engenheiro, dentista ou carpinteiro - não importa, ele vai sempre reclamar de alguma coisa. No entanto, ele também não deixa escapar a oportunidade de dizer que é feliz na profissão e ainda, muitas vezes, garante que é o melhor naquilo que faz. Complementa, garantindo que perceberam seu talento ainda menino. Coisa do destino! Diz orgulhoso, olhando para o céu, insinuando Deus e os Santos como cúmplices genuínos.
Eu tenho a minha. Faz muito tempo que iniciei em TV e foi lá em meados dos anos setenta, um pouco antes talvez, se considerarmos alguns estágios não remunerados em produtoras de cinema e de publicidade, isso antes e após o serviço militar. Sim, passei pelo 39˚BIM, bem nos anos de chumbo, num quartel de infantaria dos mais bravos, lá em Quitaúna. Mesmo sendo, míope, baixinho e de pés "chatos" não escapei dos treinamentos e dos prontidões. Foi um período de contrastes na minha vida: cabeça de moleque sonhador empunhando um FAL com todo rigor. Um, dois... um, dois... atento soldado... Passou, foi um ano difícil, mas se foi.
Eu era um garoto ambicioso e cheio de ideias. Um pirralho doido que queria vencer na vida pelos sonhos e que se guiava somente pela intuição. Acertando e errando como todos aqueles que se dispõem a conquistar o mundo. Quanta arrogância de adolescente.
A gente aprende ao longo da vida a moldar o tamanho do universo. Ele vai se adequando de acordo com o que a gente enxerga como tangível. As distâncias se encurtam com o tempo. Talvez esta seja a tal  "dobra de tempo" a qual os físicos se referem.
O tempo passou, as coisas mudaram, a vida se alterou em praticamente tudo ao meu redor. Me vejo como um outro cara, mudei de opinião, adquiri novos hábitos, gostos e sei lá mais o quê. Nem saberia relacionar o antes com o depois em mim mesmo. Nas lembranças enxergamos quem fomos um dia nos baseando em quem somos hoje sem considerar as mudanças ocorridas pelo tempo. 
Mas o prazer que carrego pela profissão continua intocável, parece coisa eterna, um diamante. Talvez agora eu seja menos tolerante com o tempo, principalmente quando ele se arrasta. Não é fácil viver boa parte da vida num mundo analógico e de repente ver as coisas se transformando em dígitos rapidamente e você ter que mudar de lado correndo só para se manter vivo. Não é fácil, mas é instigante, até mesmo para um pirralho como eu.
Ando registrando o meu dia em fotografias. Fotos digitais não precisam de revelações químicas, elas são diretas, objetivas. O complexo binário organiza as imagens dando aos olhos o alento da harmonia da composição e das cores. E com qualquer smartphone mediano pode-se hoje em dia obter lindas fotografias. Sem contar que o conteúdo sempre se sobre-pôs à qualidade técnica, pois o que vale mesmo no retrato é o flagrante eternizado.
Toda vez que posso, deixo minha sala com os papéis abarrotando a mesa para caminhar e respirar TV pelos corredores. A sensação é deliciosa, me faz lembrar dos primeiros dias quando coloquei os pés por lá. Em cada canto os olhos encontram uma história, um pedacinho da vida que ficou guardadinha ali. Cada momento que vem à mente chega repleta de cenas tumultuadas, com gente falando sem que se compreenda ao certo o que estão dizendo. Parte do que dizem e fazem são lembranças de coisas que de fato aconteceram, parte, se misturam a um imaginário de interpretações que a memória foi adaptando. Acho que são desejos frustrados, desvios de tempo que se transformaram em realidades paralelas.
Sigo pelos estúdios, pelos sets de gravações. Percebo os refletores suspensos apontados milimetricamente para alvos que ainda não estão posicionados. Objetos dispostos em cena, alinhados com equipamentos de última geração prontos para o start. Cabos espalhados por todo lado, gente andando apressadamente, alguns gritando e pedindo silêncio que nem mesmo eles podem cumprir. Bastidores de televisão funcionam como indústrias, há tempo certo para tudo.
Admiro as novas máquinas que editam as imagens e os sons. Elas interligadas e conectadas a um grande servidor dispensam as velhas fitas magnéticas. Até o cheiro do ambiente mudou. A velocidade agora é medida em Mbp/s - megabits por segundo e a capacidade de armazenamento da mídia não é mais em "tempo" o tempo se foi, agora mede-se em "Giga"ou "Tera" com esses no final.
É um mundo admirável que nos impressiona muito. Ainda mais para quem alcançou um lugar onde um garoto de subúrbio jamais pudesse supor que alcançaria um dia, mesmo sendo um sonhador lá nos anos sessenta e setenta, quando a vida para ele se refletia bela como num sonho.   
Acho que por isso que ele escolheu essa profissão, para ele parecia um sonho. 
Cenas noturnas do Especial de Natal que o SBT está produzindo.
Até hoje ele acredita que seja mesmo um sonho.

Foto do intrépido blogueiro utilizando seu moderníssimo smartphone.

16/11/2014

Vontade de Vomitar

Imagem do blogueiro
Sinto vontade de vomitar quando ouço, leio ou vejo manifestações totalitaristas.  
Do manifestante, o exagero irracional. Do opositor, maniqueísta também, a mesmíssima coisa. 
Se jogássemos os dois lados numa lata de lixo não saberíamos dizer quem teria sido do primeiro grupo e quem  teria vindo do segundo. 
Procure uma igreja qualquer quando ela estiver abarrotada de fieis. Vá até o altar e pegue sorrateiramente o microfone e em alto e bom som exponha seus pontos-de-vista sobre Deus, o Diabo, os Santos e os Demônios evocados nos cultos. Democraticamente, como se diz hoje em dia. 
Adivinha o que aconteceria, meu raro leitor? Nem precisaria dizer, te enxotariam dali num vapte-vupte. 
Imagine agora um estádio de futebol monumental, um desses do tipo Arena construídos para a Copa do Mundo. Convide religiosos das mais diversas correntes. Encha o estádio de crentes e faça com que tirem a roupa, sem pudores, considerando somente uma situação hipotética e analítica. 
Cristãos em geral, católicos romanos, ortodoxos, muçulmanos, judeus, budistas, espiritualistas, enfim, representantes de todas as manifestações, peladinhos da silva na nossa Arena  
Raspe as barbas, os bigodes e tudo que se mostrar característico de qualquer crença. 
A magia aconteceria logo em seguida. Misturados  notaríamos as surpreendentes semelhanças entre uns e outros. Alguns mais moreninhos, outros clarinhos; altos, baixos, machos, fêmeas, calmos, ansiosos, mas, de modo geral, veríamos o quanto são parecidos quando estão do mesmo lado.
Acho que é da nossa natureza nos dividirmos para depois nos juntarmos em grupos com bandeiras diferentes. Criamos elas porque necessitamos nos destacar e em turma fica mais fácil. 
Pode ser uma espécie de falha mecânica na linha de produção que mereceria um chamado geral da fábrica para uma revisão gratuita. Recall (acho que é esse o nome certo)
Fundamentalistas do PT, peço que parem de querer monopolizar a verdade e debochar de quem te contradiz. O que você vê como oposto, na verdade trata-se do seu próprio eu, um reflexo no espelho, só que de maneira invertida, somente isso. Nada mais que isso. Precisa desenhar, inocente? 
Sinto vontade de vomitar vendo o que se tornou a sua revolução, mas evito te expor ao ridículo. Aqui entre nós, nem Fidel teria feito tão ruim assim.


Nos acostumamos com tudo. É assim.

Na Folha de S.Paulo deste domingo, 16/11/14
O olhar de um estrangeiro que vive no Brasil. É curioso como nos adaptamos às circunstâncias, independente de qual casta social a gente venha. 

O pior aspecto do Brasil 
POR VINCENT BEVINS 
20/08/14 13:31

A brutal desigualdade brasileira é tão onipresente que os que vivem aqui simplesmente param de notá-la. Uma mensagem inesperada do exterior serve como lembrete de um tema tão pouco discutido tanto na sociedade quanto na mídia e na eleição atual.
Moro no Brasil há mais de quatro anos, o que tem sido incrível em quase todos os aspectos, incluindo as formas que arrumei para me adaptar à cultura local. 
Por outro lado, há partes do país e do meu processo de adaptação que não gosto. Odeio sobretudo a forma como me tornei insensível a níveis chocantes, brutais e ridículos de desigualdade, que minam o avanço do país. Me acostumei a eles, passei a vê-los como algo de certo modo aceitável. 
Normalizar a desigualdade é uma das características fundamentais para ser um autêntico “brasileiro”. A maioria dos estrangeiros percebe isso logo que chega ao Brasil. Os locais entendem que a desigualdade extrema é apenas um fato da vida e trazer o assunto à tona é considerado de mau gosto, assim como tentar transgredir os limites de classe estabelecidos. Não à toa, se preocupar demais com esse assunto ou querer conhecer o Brasil fora dos círculos da elite é considerado “coisa de gringo”. Quanto mais me vejo virando local nesse aspecto (e apenas nesse aspecto), mais desconfortável fico. 
Recentemente, minha ficha caiu de um modo inesperado: através de um WhatsApp enviado por uma amiga brasileira que visitava os Estados Unidos pela primeira vez. 
De Nova York, ela me escreveu o seguinte:
“Uau, estou realmente impressionada com a igualdade social por aqui. Parabéns”.
E completou: “Os negros realmente fazem parte da sociedade aqui, não são excluídos como no Brasil”. 
Essa mensagem quase explodiu minha cabeça. Sempre achei meu país extremamente desigual e, mesmo lá, Nova York é famosa por ser uma das cidades mais desiguais. 
Sou nascido e criado nos Estados Unidos, um país cheio de problemas óbvios, provavelmente mais problemático que o Brasil, embora nenhum desses problemas me pareça relevante para esta discussão. 
Temos, por exemplo, uma conhecida tendência a atirar bombas em países alheios, matando centenas de milhares de pessoas sem nenhum resultado positivo perceptível. Além disso, a injustiça social sempre foi um de nossos maiores problemas. 
Temos um dos piores níveis de desigualdade do mundo entre os países desenvolvidos e é claro para mim que temos um grave problema racial, especialmente no que tange o tratamento de cidadãos negros. Para completar o quadro, a desigualdade americana está se agravando, tanto que Obama se pronunciou recentemente, salientando a necessidade de combater a “perigosa e crescente desigualdade”. 
Talvez nem todos os brasileiros que visitam a Europa ou os Estados Unidos sintam o mesmo que essa minha amiga (que não é nem de São Paulo nem da elite) sentiu, mas o fato de uma brasileira poder chegar em Nova York e achar que justo aquela cidade seja um farol de harmonia social é um lembrete chocante do quão profunda e problemática é a desigualdade brasileira. 
Mas isso não devia ter me chocado. Logo que cheguei aqui eu era constantemente surpreendido por elementos de uma cultura que por vezes me parecia de outro tempo. Apartamentos com duas portas distintas (uma para a família, outra para as pessoas que a servem. Jovens de classe média que nunca lavaram suas próprias roupas ou limparam seu próprio banheiro (nem muito menos tiveram um emprego antes de terminar a graduação) e que casualmente deixam escapar comentários classistas ou racistas que em outros lugares te fariam ser permanentemente expulso do convívio civilizado. 
Vários desses comportamentos foram se tornando normais para mim, como imagino que tenham se tornado normais para a maioria dos brasileiros há muito tempo. 
Claro que é fácil para mim falar desses problemas enquanto ocupo uma posição de homem branco que veio da Europa e dos Estados Unidos, locais que boa parte da classe média alta de São Paulo valoriza ainda que, ironicamente, possam ser considerados brutos, reacionários, racistas e de muito, muito mau gosto por lá. 
Não sem razão, pode-se argumentar que pessoas como eu se beneficiam desse preconceito, mesmo contra nossa vontade. Porém, meus amigos brasileiros de origem africana ou indígena ou que vieram da classe trabalhadora, normalmente veem suas críticas a essa divisão de classes desmerecidas como se eles fossem bolcheviques perigosos ou arrivistas que querem pongar no sistema de cotas toda vez que reclamam disso. 
É verdade que o Brasil é um dos poucos países do mundo que tem reduzido a desigualdade de renda na última década, mas o país ainda tem um longo caminho pela frente se quiser alcançar tanto a justiça social quanto o aumento de sua produtividade econômica. Olhando para a eleição que se desenrola, no entanto, a impressão que dá é que o país só precisa de algumas correções tecnocratas, ou de um candidato um pouco menos manchado por acusações de corrupção. Acompanhando para o noticiário, você pode pensar que os avanços sociais alcançados desde 2003 já foram revolucionários e assustadores o suficiente e que já não há muito o que dizer sobre isso. Ao estudar qualquer grande jornal brasileiro, você logo constata que são todos escritos pela classe média alta e branca para a classe média alta e branca, porque de fato são. 
Durante o episódio dos rolezinhos, no começo do ano, houve um debate sobre o chamado “apartheid” brasileiro. Acho a palavra deslocada já que não existe uma sanção do Estado em relação a essas divisões. 
Uma amiga disse que o Brasil tinha praticamente um sistema de “castas”, o que acho mais próximo da verdade considerando que, para um membro da classe média local, a ideia de chegar num almoço de domingo e apresentar à família um namorado da classe trabalhadora é um fato basicamente inédito. De fato, conheci no Brasil pessoas de ambas as classes sociais que admitem nunca ter tido uma conversa de verdade com um membro de outra classe. 
Mas por que não falamos sobre isso? Porque é tudo muito óbvio.


09/11/2014

Defaunação e a Seca no Sudeste

Podia indicar o site, mas resolvi publicar o interessante artigo aqui no blog. Defaunação


Ambiente
07/11/2014 - 04h03

Defaunação – Com floresta, sem fauna


por Reinaldo José Lopes*

Foto: Fábio Grison/ Wikimedia Commons
A divulgação anual dos números do desmatamento é crucial para estimar a ameaça a esses biomas, mas traça um retrato incompleto da situação. Mesmo em áreas não desmatadas, a defaunação – como é conhecida a diminuição acentuada da população de animais – avança a passos largos, representando um problema tão importante e difícil de controlar quanto o desmate, segundo um artigo publicado em Julho deste ano na revista Science.

O trabalho, coordenado pelo mexicano Rodolfo Dirzo, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, tem entre seus coautores Mauro Galetti, do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Rio Claro, colaborador de longa data da equipe norte-americana. A revisão na Science reforça o que Galetti e seus colegas no Brasil têm demonstrado nos últimos anos, em especial na mata atlântica: o crescente empobrecimento faunístico dos ecossistemas. “São áreas não desmatadas que estão vazias de animais, inicialmente por causa da pressão da caça, que continua muito presente, mas também por uma série de outros fatores como o corte do palmito juçara, uma importante fonte de alimento para a fauna”, afirma Galetti. O grupo liderado por Dirzo calcula que, no mundo todo, as espécies de vertebrados tenham perdido, em média, pouco menos de um terço de sua população dos anos 1970 para cá. Alguns vertebrados são atingidos de forma mais severa – mais de 40% das espécies de anfíbios, por exemplo, são consideradas ameaçadas, ante 17% das aves.

É natural que o declínio dos vertebrados seja acompanhado de forma mais assídua tanto pelos pesquisadores quanto pelo público. São, para começar, muito mais visíveis do que a maioria dos invertebrados, e muitos pertencem a espécies consideradas carismáticas, que protagonizam campanhas conservacionistas e acabam se tornando conhecidas. O levantamento publicado na Science, no entanto, reuniu também dados disponíveis sobre invertebrados, chegando à conclusão de que a situação deles provavelmente também inspira preocupação.

Cerca de dois terços dos invertebrados monitorados perderam em média 45% de sua população. “A verdade é que precisamos de mais dados, mas não acho que esse número esteja superestimado”, diz Galetti. “O que acontece é que esses declínios se referem, em geral, a invertebrados que costumavam ser muito abundantes e, por isso, eram acompanhados em trabalhos de campo. O cenário provavelmente seria pior se espécies naturalmente mais raras entrassem na conta.”

Efeito dominó

Além das consequências mais óbvias da escassez de animais, como o risco de extinção, a defaunação preocupa porque pode desencadear uma série de efeitos dominó ecológicos: a perda de espécies-chave tende a afetar diversos outros animais e plantas, com repercussões que podem comprometer tanto o funcionamento normal de um ecossistema quanto os serviços ambientais que ele proporciona aos seres humanos, como a fertilidade do solo ou a abundância de água potável. O efeito é mais óbvio com predadores do topo da cadeia alimentar, como as onças. Sua presença impede que predadores menores sobrepujem os demais, resultando numa diversidade maior desses “súditos” dos felinos.

Herbívoros de grande e médio porte, por sua vez, são os principais responsáveis por dispersar sementes de frutos grandes (as antas desempenham esse papel com maestria), além de atuar também como “arquitetos”, abrindo clareiras e amassando plantas jovens. Até a abundância de anfíbios depende, em alguma medida, do pisoteio das margens de cursos d’água pelos grandes herbívoros, já que esse processo abre depressões onde rãs e sapos podem se abrigar.
Para qualquer tipo de fauna, porém, a situação na Mata Atlântica não parece ser das melhores. Num trabalho publicado em Julho do ano passado na Biological Conservation, Galetti e colegas mapearam a situação de quatro espécies irônicas do bioma: o maior predador (a onça-pintada), o maior herbívoro (a anta), o maior devorador de sementes (a queixada) e o maior dispersor arbóreo de sementes (o muriqui, maior macaco das Américas). 

Analisando dados de quase 100 locais diferentes, eles chegaram à conclusão de que em 88% dos remanescentes da floresta não há mais nenhuma dessas espécies, e em 96% dos casos pelo menos uma delas está ausente. O pior é que, de acordo com o grupo da Unesp, menos de 20% dos fragmentos remanescentes da mata seriam adequados para abrigar o quarteto de espécies-chave.

A situação não melhora muito quando se analisa um leque mais amplo de espécies de grande e médio porte. Num estudo publicado em 2012 na PLoS ONE, do qual participaram Gustavo Canale, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), e Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), a equipe avaliou a presença de 18 espécies de mamíferos (incluindo, além dos citados acima, tamanduás, tatus e bugios, entre outros) em quase 200 fragmentos de mata atlântica, espalhados por três estados (Minas Gerais, Bahia e Sergipe). Resultado: só quatro das 18 espécies, em média, ainda ocorrem em fragmentos de até 5 mil hectares. E, mesmo em pedaços de mata com área maior do que isso, só sete espécies costumam ocorrer juntas.

Nos poucos lugares em que esses animais ainda existem, o temor dos biólogos é de que machos e fêmeas teriam dificuldade para encontrar parceiros. A redução da população também aumentaria o risco de cruzamentos entre parentes próximos, gerando filhotes com problemas congênitos ou dificuldade para resistir a doenças. Os dados disponíveis a respeito das onças-pintadas no bioma sugerem um cenário desse tipo, diz o geneticista Eduardo Eizirik, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. “Claramente há uma redução da diversidade, e os fragmentos também vão ficando diferenciados entre si, provavelmente um resultado de intensa deriva genética [perda aleatória de variação]”, afirma.

Pequenas grandes mudanças

No caso dos vertebrados pequenos e dos invertebrados, os danos ecológicos da perda de fauna são claros. Um exemplo é o papel de insetos como polinizadores, em especial as muitas espécies de abelhas – não é por acaso que o declínio das colmeias pelo mundo tem sido fonte de preocupação para agricultores. No caso dos anfíbios, bem vulneráveis a perturbações ambientais, há registros de declínios populacionais dramáticos em regiões como os Andes e a América Central. Nesses casos, dois fatores podem estar atuando numa sinergia perversa: mudanças climáticas, que esquentam os ambientes frescos e úmidos preferidos pelos anfíbios, e o fungo Batrachochytrium dendrobatidis, que se dá bem nessas condições e pode levar muitas dessas espécies ao desaparecimento.

Boa parte da diversidade remanescente dos anfíbios da mata atlântica se concentra em áreas montanhosas e relativamente mais frias, onde o B. dendrobatidis foi identificado na década passada, o que levou os especialistas a temer uma repetição do cenário dos Andes. Por enquanto, contudo, a situação está se revelando mais complexa, diz a zoóloga Vanessa Kruth Verdade, da Universidade Federal do ABC.

“Os resultados indicam que cada espécie responde de maneira diferente às alterações climáticas. Além disso, descobriu-se que a linhagem do fungo no Brasil é antiga, anterior aos declínios, o que levanta questões sobre a sua importância como causador dos declínios em território nacional”, explica. Embora haja dados sobre perdas populacionais de diversas espécies de anfíbios no país, dimensionar o problema e entender suas causas ainda é um desafio pela falta de dados históricos sobre essas populações e de conhecimento de sua variação natural, afirma Vanessa. 

De qualquer maneira, o que está claro é que a defaunação acaba fortalecendo o círculo vicioso de empobrecimento da mata. “Ela retroalimenta negativamente o sistema por meio da depauperação da vegetação arbórea, como consequência da desestruturação das comunidades ecológicas”, diz ela.

Um exemplo claro desse fenômeno vem de um grupo inusitado de invertebrados, popularmente conhecidos como besouros rola-bostas. Como o nome sugere, eles comem fezes e usam o excremento produzido por grandes mamíferos para seus ninhos. Em outra pesquisa publicada na Biological 

Conservation em 2013, Galetti e seus colegas mostraram que, em áreas defaunadas da mata atlântica, uma série de mudanças afetam os besouros coprófagos: a diversidade de espécies desses insetos cai, assim como o tamanho dos besouros, enquanto o número absoluto de indivíduos aumenta. Não se trata de mera curiosidade, porque essas alterações podem ter impacto considerável na maneira como a matéria orgânica é reciclada no solo da mata e, portanto, no crescimento das plantas e numa série de outros parâmetros.

Reconstruindo comunidades

Para Galetti, esses resultados deixam claro que é preciso repensar as ações de recuperação ambiental. “Hoje, existem muitos projetos de criação de corredores ecológicos, plantando árvores, mas reconstituir a fauna é imprescindível, porém muito mais difícil”, explica.

O primeiro e óbvio passo é fazer valer a legislação que proíbe a caça, destaca ele, mas igualmente importante talvez fosse considerar reintroduções de animais levando em conta o papel ecológico de cada um deles no bioma. “Os projetos são pensados em termos da ameaça para aquela espécie em particular. Dependendo da situação, porém, talvez outra espécie fosse igualmente interessante. É claro que é importante recuperar a população do mico-leão-dourado, mas em alguns casos talvez reintroduzir outro frugívoro tenha o mesmo efeito”, compara. Seriam, em outras palavras, “pacotes ecológicos”, incluindo um herbívoro de grande porte, outro de médio porte, predadores pequenos e grandes, por exemplo? “Sim, mas isso teria de ser feito passo a passo – os herbívoros primeiro, por exemplo, depois os carnívoros. É um processo lento de refaunação que teremos que fazer.”

* Reinaldo José Lopes é jornalista e colaborador da Revista Pesquisa Fapesp.

** Publicado originalmente na site Eco21.

(Eco21) 

05/11/2014

A seca e os desmatamentos


Artigo de Marcia Hirota*, originalmente publicado no Blog do Planeta.

Por que desmatar 79% da área de mananciais secou São Paulo.

Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica, divulgado com exclusividade pela revista Época, constatou que a cobertura florestal nativa na bacia hidrográfica e nos mananciais que compõem o Sistema Cantareira, centro da crise no abastecimento de água que assola São Paulo, está pior do que se imaginava. Hoje, restam apenas 488 km2 (21,5%) de vegetação nativa na bacia hidrográfica e nos 2.270 km2 do conjunto de seis represas que formam o Sistema Cantareira.

O levantamento avaliou também os 5.082 km de rios que formam o sistema. Desse total, apenas 23,5% (1.196 km) contam com vegetação nativa em área superior a um hectare em seu entorno. Outros 76,5% (3.886 km) estão sem matas ciliares, em áreas alteradas, ocupadas por pastagens, agricultura e  silvicultura, entre outros usos.

O estudo teve como base o último Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, que avaliou a situação da vegetação nos 17 Estados com ocorrência do bioma, no período 2012-2013. O Atlas, que monitora o bioma há 28 anos, é uma iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com patrocínio de Bradesco Cartões e execução técnica da Arcplan.

Com base em imagens de satélite, o Atlas da Mata Atlântica utiliza a tecnologia de sensoriamento remoto e geoprocessamento para monitorar os remanescentes florestais acima de 3 hectares. Neste estudo sobre o Sistema Cantareira, realizado pela SOS Mata Atlântica e Arcplan, foram identificadas as áreas de até 1 hectare.

As análises foram avaliadas em nível municipal, indicando os municípios com total de áreas naturais mais preservados. As cidades observadas foram: Camanducaia (19,6% de vegetação nativa), Extrema (15,2%), Itapeva (7,9%) e Sapucaí Mirim (42%), em Minas Gerais; Bragança Paulista (3,2%), Caieiras (50,2%), Franco da Rocha (40,8%), Joanópolis (18,8%), Mairiporã (36,6%), Nazaré Paulista (24,7%), Piracaia (17,7%) e Vargem (17,9%), em São Paulo.

As florestas naturais protegem as nascentes e todo fluxo hídrico. Com esses índices de vegetação, não é de se estranhar que o Sistema Cantareira opere, atualmente, com o menor nível histórico de seus reservatórios, já que para ter água é preciso ter também florestas.

E o que fazer diante deste quadro? 
"O primeiro desafio é proteger o que resta de Mata Atlântica e manter, com rigor, o monitoramento e a fiscalização dessas áreas para evitar a ocorrência de novos desmatamentos."
Importante lembrar que Minas Gerais, Estado que reúne não apenas as nascentes de rios que formam o Sistema Cantareira, mas também das bacias dos rios Doce, São Francisco e Paraíba do Sul, entre outros, é o recordista do desmatamento da Mata Atlântica pelo quinto ano consecutivo, de acordo com os últimos dados do Atlas da Mata Atlântica.

O segundo ponto é promover a recuperação florestal nessas regiões, incluindo-se aqui investimentos públicos e privados para restauração florestal e programas de Pagamentos Por Serviços Ambientais (PSA) voltados aos proprietários de terras, municípios e Unidades de Conservação que as preservarem.

Com o objetivo de estimular esse esforço, a Fundação SOS Mata Atlântica lançará ainda neste mês um novo edital do programa Clickarvore, com apoio do Bradesco Cartões e Bradesco Capitalização, para a doação de 1 milhão de mudas de espécies nativas para restauração na Bacia do Cantareira. 

Essas mudas possibilitarão a recuperação de até 400 hectares de áreas, que por sua vez podem promover a conservação de 4 milhões de litros de água por ano. A ideia é que os projetos selecionados colaborem para conservar e proteger os recursos hídricos conectando, nessas regiões, os poucos fragmentos de mata que hoje encontram-se isolados.

Pode parecer pouco, tendo em vista o tamanho do desafio, mas é um primeiro passo para trazer de volta as florestas e a água ao Sistema Cantareira. Esperamos que essa iniciativa contribua para o fortalecimento de políticas públicas efetivas e que possa marcar o início de esforços conjuntos da sociedade, iniciativa privada e do poder público para a recuperação desse importante manancial. Afinal, a grave escassez que enfrentamos neste ano reforça a necessidade do Estado promover a proteção dos mananciais e a gestão integrada e compartilhada da água.

A restauração da cobertura florestal nas áreas de mananciais é o pontapé para a recuperação das reservas de água. No entanto, para que traga resultados efetivos, essa iniciativa  precisa ser somada a uma ação urgente e firme do Governo do Estado no sentido de implementar efetivamente instrumentos econômicos como o PSA e a cobrança pelo uso da água a todos os usuários, o que garantirá a sustentabilidade do sistema e o acesso à agua em quantidade e qualidade para a sociedade.

*Marcia Hirota é diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica. 

Recesso

Cansado, enjoado, deprimido.
Melhor eu dar um tempo pra ver se melhoro.
Abraços aos raros leitores.

26/10/2014

Deu Reeleição e Oposição.

Burros à sombra depois da festa, afinal, ninguém é de ferro. 
O país reelegeu Dilma Rousseff como Presidente ou Presidenta da República, como alguns preferem. 
Tudo bem, vamos em frente. 
O que chamou a atenção foi a diferença pequena de percentual entre os prós e os contras - 51 pontos alguma coisa para uma e 48 pontos e outra coisa para o outro.  
Pode-se dizer que foi um quase meio a meio ou meia a meia - mussarela e calabresa. 
Imagem - Do Blogueiro
O que indica um resultado interessante para se pensar, pois ficou clara a bipolaridade de percepção, uma metade da população satisfeita com a reeleição, mas a outra, nada satisfeita. Aliás, bastante insatisfeita. Muito, mas muito mesmo.
Quem sabe assim haja estímulo para a criação de uma oposição verdadeira, ávida, cheia de clamor de povão, deixando clara para a situação a existência da parcela mega insatisfeita. E com tamanha representatividade necessária para consagrar-se uma autêntica oposição política. 
Uma oposição que se mostrará intolerante para mentiras, abusos de poder, desperdício de dinheiro público e também que parem de culpar a mídia quando de denúncias divulgadas. Não cola mais, ninguém aguenta mais isso. Nunca sabem de nada, é sempre mentira, conspiração. Como se dizia antigamente: intriga da oposição (em desuso)
Enfim, no que coube ao povo nessa eleição ele cumpriu a sua parte e até que bem. 
Agora, senhores políticos a coisa é com vocês. Me permitam, pulhas vegetativas famintas por dinheiro e poder, tratem de se comportarem como bons meninos, pois a outra metade vai estar na cola  de vocês, o tempo todo. E ai daquele de querer ser mais espertinho que nós. Cortamos o saco e damos aos porcos e quem não tiver saco cortamos o pó-de-arroz e pronto.

Burros na Sombra

Pesquisas adiantam que os burros continuarão na sombra. 
Então que continuem, pois se é esse o desejo da maioria, a minoria que aceite ou caia fora. 
Mesmo considerando uma minoria bastante representativa, metade mais um vale o eleito.
Mesmo assim, que venham as sombras, os burros estão demais cansados.
Imagem - Google
Depois do pedágio eles voltam aos palácios e só daqui dois anos darão as caras novamente. Pra pedir votos, claro e contando um monte de mentiras de novo.
 Fotos do Celular do Blogueiro - Largo da Concórdia/SP - Sábado 25.10.14

Experimente. 
É interessante parar um pouco o que você está fazendo, por alguns instantes, um minuto, dois, sei lá, só pra prestar atenção nas pessoas. Olhar pra elas misturadas na multidão e depois eleger um ou outro só pra tentar adivinhar como é esta pessoa. 
Sua vida, modo de pensar, valores, crenças, tantas coisas. Quem já não fez isso alguma vez na vida? 
Observando desconhecidos seguindo de um lado para outro, multi-coloridos, calvos, cabeludos, cabeludas, bem vestidos ou não. Altos, baixos, brancos, negros, amarelos, pálidos. 
No conjunto a diversidade desaparece, somos muito semelhantes quando vistos de cima.
Bom domingo, bom voto e se misture.

21/10/2014

MUITO MENOS ONDE NASCI

Pulhas vegetativas. Seria como nos veem?
Imagem - Google
O Estado não é dono do povo, pelo contrário, num regime verdadeiramente livre o Estado só existe para servir o povo.  Nada mais que isso. O resto é balela.

Quanto mais um governo intervém na vida de um cidadão, menos livre esse cidadão é de verdade.

Assistencialismos servem para dar manutenção na pobreza, camuflam-se de políticas humanitárias por incompetência do Estado ou por malandragem dele. Mantém a pobreza no lugar onde os assistencialistas acham que ela deva ficar.

No Brasil desde as capitanias hereditárias, desde a colonização, passando pelos imperadores, pelo golpe da Velha República, pelas idas e vindas de um golpista gaúcho, de um presidente bossa-nova, de um doido varrido, de mais golpistas, de quem quase foi e só não foi porque o Hospital de Base de Brasília não deixou, de Nova República inflacionária, de milionário deposto, de meio punk, de sociólogo liberal, de sindicalista espertalhão revelado um pragmático ganancioso e de uma presidente que adora ser chamada de presidenta, todos esses governos foram interventores. 

Why?

Entre tantas coisas me pergunto: por que me obrigam a votar quando não tenho um candidato para escolher? Inventaram o voto em branco ou nulo para esconder a obrigatoriedade. 

O Estado brasileiro entende que nós não somos suficientemente responsáveis quando nos obriga a votar. 
Até título dão para quem vota. Sem voto, sem passaporte. 

Por que? 

A democracia nos rincões latino-americanos é uma farsa baseada na vida como ela nunca deveria ser em lugar nenhum do mundo.


Muito menos onde nasci.