29/10/2011

O tempo passa...


Não acredito, estamos no final de outubro. Como o tempo passa e o final do ano está tão próximo.
Outro dia conversava com um amigo sobre a sensação do tempo passar mais rápido quando nos tornamos adultos. Quando crianças ou mais jovens parecia que o tempo era maior, tudo era mais demorado, os dias eram mais longos. Não sei, essa era a impressão. 

Isso me levou a pensar no ano que em breve se encerrará.
Mas, já!  Sim, já! - repondo pra mim mesmo. Pode ir se preparando, meu caro, que o final do ano se aproxima e você não fez a metade do que se propôs a fazer. Pode ir se programando para o novo ano e planejar melhor todas as suas pretensões. Renovando as esperanças. (aqui caberia um sorriso ou um riso, dos irônicos)
Quem me ouve falando assim vai pensar que um sou sujeito organizado. Bobagem, não sou. Sou um ansioso sonhador, um eterno otimista que não se coloca como rendido e está sempre pronto pra guerrear, embora me julguem um calmo.
Mas, voltando ao tempo, você já teve essa sensação também? Imagino que sim, muitas pessoas falam a mesma coisa e geralmente as que percebem isso são as mais velhas (com perdão da má palavra), mais vividas, dizendo de forma mais cortês.
Penso que nos dias de hoje estamos tão envolvidos com o nosso dia a dia que nem nos damos conta propriamente do dia.
Acordamos ao som de um sonoro despertador ou pela nossa própria ansiedade, já fazendo conta do horário pra chegarmos ao trabalho e despacharmos tudo que é de mais chato pela frente.
Pensamos nas contas, nos insucessos, no que ficou pendente no dia anterior e torcendo para que tudo acabe bem nesse novo dia. 
A ansiedade acelera nossos passos. O café da manhã é breve com pouca conversa em casa - bom dia daqui, uma recomendação dali e vamos em frente.
No caminho, coincidência ou não, as coisas parecem se repetir. Os mesmos carros, as mesmas pessoas. O farol que raramente está aberto a nosso favor e quando isso acontece parece que começamos o dia com o pé direito - um sinal de coisas positivas à frente. Só rindo mesmo.
A ansiedade nos conduz. Reparo sempre como as pessoas estão mais tensas pela manhã, embora algumas tentem se mostrar diferentes. Não é verdade? 
Um simples fato logo cedo pode definir se o dia será bom ou ruim, como se recebêssemos um sinal enviado por forças ocultas que conduzem nossas vidas a seu bel-prazer. No meu caso me irrito logo de cara quando saio da garagem e os malditos carros me impedem a saída mais tranquila. Isso acontece dia sim, dia não. Na cabeça vem - filho da puta, podia ter me esperado! Nem sei quem está dirigindo, mas o carro em si desperta um rancor repentino como se fosse um monstro querendo me atacar. E quantos monstros encontro no percurso de quinze quilômetros até o trabalho nos quase trinta minutos que gasto diariamente (quando o trânsito está bom). Ouvindo os locutores falando sobre o trânsito caótico, acidentes com vítimas que deixam tal avenida congestionada, corrupção de políticos,  sobre o Palmeiras, meu time do coração que perdeu ou empatou na noite anterior (faz tempo que ele anda mal) e tudo mais.
É, penso, nada de novo de novo.
Mas, sendo eu um otimista, me esforço para não me deixar levar pelos sinais das tais forças ocultas. Fico atendo aos pensamentos e os remeto para coisas boas.  Vem um monte de ideias e em todas me saio muito bem. Penso também - Vão se danar, eu vou fazer o meu dia ser melhor e vocês não vão interferir. 
Às vezes eu consigo e me dou bem, outras, apanho feio e quando isso acontece, lá no final do dia, já estirado na cama em busca do sono profundo que raramente acontece, ponho na cabeça que o dia seguinte será melhor - o tiro feriu, mas não me matou. Acho que todo mundo faz isso, uns apelam para as crenças outros somente aos pensamentos positivos.
A rotina faz com que os dias sejam muito parecidos e daí vem a sensação de que o tempo passa mais rápido. Deveria ser o contrário, mas, não, como mágica o efeito ao longo dos meses faz com que a gente acabe perdendo a referência e tudo se mistura como numa massa de pizza e quando nos damos conta o tempo se foi e a frase sai como num início de papo bobo: 
Putz, estamos em outubro já, logo vem o natal, fim de ano e depois o carnaval!
Bom dia, então! Vamos viver nossos dias.

26/10/2011

Pelo Twitter


Boa parte da vida da gente é dedicada ao trabalho.

Dificilmente em outra profissão eu teria oportunidade de circular por corredores dos lugares por onde trabalhei.

Raramente quando alguém sai de uma empresa - um banco, um estabelecimento comercial, indústria ou sei lá o que, ela tem chance de retornar a ela - trabalhando ou simplesmente passeando. Não é comum. Ainda mais quando se viveu intensamente, trabalhando.
A sensação é gostosa, bastante estranha e ao mesmo tempo um pouco assustadora. As lembranças se misturam e vêm à mente numa velocidade incrível. A história em fragmentos é revisada e em segundos nos damos conta que o tempo passou. 
O tempo passa o tempo todo. Passa e como passa. Assim como passa o vento que leva o tempo que passa pela gente.
Precisei ir, dias atrás, em duas emissoras de TV onde trabalhei durante anos. Fui a elas a trabalho e reencontrei velhos amigos, queridos colegas e pessoas quase esquecidas na memória, mas que, também com elas compartilhei momentos alegres e tristes na convivência das nossas atividades. 
Com esses relembramos após pequenos acenos e sorrisos leves coisas que eu julgava terem sido apagadas, deletadas, como se diz hoje em dia. Com os que foram mais próximos, os abraços e muitas lembranças.
As pessoas se instalam, se apropriam e se guardam na nossa memória. Ficam escondidas, camufladas e de tempo em tempo se manifestam de alguma forma para serem lembradas através das coisas mais comuns como nos encontros ocasionais, ouvindo uma música, algumas roupas mais antigas, comidas, cafezinhos que tomavam juntas com conversas no final do dia, situações revividas hoje que nos remetem ao passadas e tantas outras coisas assim.
As que nos marcaram, parecem como que nascidas para estarem sempre com a gente - a vida toda. Até o infinito que nunca acaba.
Algumas ainda, fisgaram a alma de forma inexplicável, voluptuosamente e se prenderam na gente como que fossem nossa própria pele. Tem coisas que não se explicam. São assim porque são assim e pronto.
Esses reencontros me fizeram bem. Além de rever as pessoas, que por si só foi muito bom, olhar as paredes repintadas da mesma cor, os corredores enormes, os sons no ambiente, o ruído das catracas, os quadros de avisos nas paredes e tantas coisas que com os anos e a distância ficaram tão diferentes do que guardava na memória, provocaram em mim uma certa nostalgia. Confesso que me emocionei. 
A sensação foi como viajar no tempo. Cinco, dez, quinze, vinte anos, talvez mais. Me dei conta que conversava com os amigos usando gestos e palavras da época e todos eles se comportavam da mesma forma. Numa espécie de hipnose coletiva, tivemos o comportamento à revelia ao nosso controle.
Pareceu um verdadeiro deslocamento temporal, bem sentido, percebido em cada poro do corpo. Talvez dissesse o inspirado - a única maneira de viajar no tempo seria com o sensorial, com a alma.
O trabalho foi feito muito rapidamente sem que desse conta da facilidade e retornar para outubro de 2011 foi num piscar de olhos, exatamente no momento da despedida, no até breve, no - obrigado, meu caro, foi um prazer te encontrar.  
A máquina do tempo me trouxe de volta para o futuro, rapidamente. Quando entrei no carro e virei a chave do contato senti o tempo passar como num sopro.
No caminho de volta fui me reintegrando, carregando comigo as sensações da viagem. Dias depois elas viraram memória resolvi aqui, compartilhar. 
É preciso viver intensamente cada segundo da vida. Dessa forma o presente ficará bem registrado e no futuro nos lembraremos dele como um passado bem vivido. E o melhor de tudo, sabendo ter mais presente para se viver.
Até lá, então. Nos vimos, nos vemos e nos veremos. Nos falamos ao menos pelo Twitter.

15/10/2011

A Copa do Mundo vem aí!


Como pode custar tão caro assim? 
A organização TRANSPARÊNCIA BRASIL divulgou tempos atrás em seu site e posteriormente a TV Globo pelo seu jornal Bom Dia Brasil dados sobre os custos dos parlamentares brasileiros.
Primeiro, me chamou a atenção o singelo título do site do governo federal,  “Transparência Brasil” como se fossem de verdade transparentes. E depois, claro, os próprios dados que são estarrecedores, embora não causassem estranheza e ainda as comparações com os custos com alguns países do primeiro e do último mundo.
Ontem li e assisti uma postagem de uma colega no Facebook compartilhando a matéria exibida pela Globo. Ela indignada e não poderia estar diferente.
Diz o texto que o custo do Congresso Nacional, isto é, os nossos senadores, deputados federais e os que os cercam são os mais caros do mundo.
Dá para acreditar?
O minuto de trabalho de cada um desses senhores - senadores e deputados custa ao contribuinte, no caso, nós quem os elegemos é de R$ 11.545,00 - ONZE MIL, QUINHENTOS E QUARENTA E CINCO REAIS. Quase 20 salários mínimos por minuto de “trabalho”.
Por ano, cada senador custa R$ 33.000.000,00 - traduzindo os tantos algarismos: TRINTA E TRÊS MILHÕES por ano, cada um. São cerca de noventa e tantos. 
Cada deputado federal - a Câmara tem mais de quinhentos, tem um custo anual de  R$ 11.200.000,00 - ONZE MILHÕES E DUZENTOS MIL REAIS.
Pagamos por ano para cada político de Brasília,  cerca de seiscentas pessoas que formam o grupo de legisladores federais, um pouco mais de R$ R$ 10.000.000,00 - DEZ MILHÕES DE REAIS.
Se considerarmos também os vereadores dos mais de cinco mil municípios no país e os deputados estaduais, vai se saber a qual número chegaremos. E aqui são apontados somente custos de um dos três Poderes da federação, o Legislativo.
Foram feitas comparações na mesma proporção com alguns países.
BRASIL - R$ 10.200.000,00
ITÁLIA - R$ 3.900.000,00
FRANÇA - R$ 2.800.000,00
ESPANHA - R$ 850.000,00
ARGENTINA - R$ 1.300.000,00
Enfim, por que tão caro assim? Não daria para aproveitar melhor o dinheiro dos impostos recolhidos? Quais os benefícios que eles estão nos trazendo? 
Não dá para acreditar na paciência do povo brasileiro. E muito menos no que eles dizem sobre Deus ser brasileiro.
A Copa do Mundo vem aí. Viva o Brasil!

12/10/2011

Dia das Crianças




tirasdoeuricefalo.blogspot.com













Se existem guerras, não entrem nelas.
Se existe inveja, não invejem.
Se há ódio, não odeiem.
Se existe rancor, não alimentem o peso em vocês.
Se existe trapaça, não se submetam.
Se existe ciúmes, bobagem, não vale a insegurança e a dor de cabeça.
Se existe roubo, jamais roubem.
Se existe suborno, nem pensar em se envolver.
Se há opressão, não oprimam.
Se há fome, ensinem a plantar.
Se há posse, comprem honestamente. 
Se existe miséria, não sejam miseráveis.
Se existe poder, não sonhem com ele, acabarão oprimindo crianças iguais a vocês.
Se matam, nunca matem. Deixem viver.
Se há egoísmo, despachem ele.


Sejam felizes. Só depende de vocês mesmas.
Acreditem na boa fé dos seus pais. Mas pensem por vocês mesmas.
Acreditem nos animais e na natureza como um todo.
Acreditem no que a terra oferece de mão beijada. Ela só nos pede afagos.


Minhas lindas, amadas e estimadas. Fiquem alertas com o Pastor, com o Bispo e com o Papa. Com o Presidente, o Deputado e a Vidente.
Fiquem atentas com as normas. Geralmente são tendenciosas. Sejam independentes. 
Nem tudo que é lei é legal.


Permaneçam crianças ao longo de suas vidas. Mesmo lá na frente quando estiverem andando de bengalas pelas calçadas.


Sonhem sempre.




Catarina - Cacá. Amada e estimada.











DIA DAS               CRIANÇAS

DIAS DAS CRIANÇAS








Gabriela - Bibi. Amada e estimada.















ADORO VOCÊS 



Alice - Amada e estimada.



Cecília - Amada e estimada






Olivia - Amada e estima


09/10/2011

Sereno




Acordei neste domingo bem cedo e não sei a razão, desde os primeiros minutos, assobiava uma música. Acho que ninguém ouvia. Nem eu ouvia, estava só no meu pensamento. Provavelmente sonhei com ela.

O dia foi tranquilo porque me sentia calmo. Sereno o tempo todo. Em Piracaia e agora aqui em São Paulo.
Nem mesmo o congestionamento que encarei no retorno alterou o estado de espírito. Vim numa boa em duas horas e meia, quando normalmente faço o percurso de 85 quilômetros em menos de uma hora.

Vim pensando na letra da música. O que ela significava.

Uma mensagem bastante simples.
Escrita por uma pessoa simples.
Uma linha melódica simples feita somente com três ou quatro acordes.
Um instrumento, um piano. A voz do cantor passeia no arranjo simples.
O que a letra sugere é algo simples.
Imaginar todo mundo simples, vivendo sua vida.




Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje
Imagine não existir países
Não é difícil de fazê-lo
Nada pelo que lutar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz
Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu tenho a esperança de que um dia
você se juntará a nós
E o mundo será como um só
Imagine não existir posses
Me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade humana
Imagine todas as pessoas
Compartilhando todo o mundo
Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo será como um só

O sujeito (desnecessário dizer quem) compôs a música quando, provavelmente, se sentia sereno.
Inspira a quem se deixa levar por ela.

Bons dias para todos nós. Simples, serenos. Vivendo a vida em paz.


08/10/2011

A multa.


Obra de Julianna De Mello 

Final de domingo. Onze e meia da noite e estou com fome. Freio o carro antes da faixa de pedestre e aguardo calmamente o farol vermelho se abrir no cruzamento da avenida Rangel Pestana esquina com uma rua que não sei o nome - bem próximo à Praça da Sé no centro velho de São Paulo. 
A voz suave da locutora da rádio falava alguma coisa sobre Brasília. Não dava tanta atenção a não ser ao fato de que em Brasília, num domingo, pudesse acontecer alguma coisa envolvendo participação de políticos. A voz da locutora mais me servia de companhia.
Olhava para os lados para frente e retrovisor. Espelho direito e esquerdo. Meu carro ali era o único e estava responsavelmente parado no cruzamento que durante os dias da semana  têm tráfego intenso. 
Nenhum veículo atravessava a tal da rua. 

Deviam liberar faróis aos domingos, após às onze e meia - pensei.
Uma mulher aparentando vinte e poucos anos e relativamente bem vestida, surgindo do nada se aproximou. Com passos determinados caminhou em minha direção, chegando inclinanou-se e bateu no vidro lateral com certa força me olhando profundamente. Ouvi o toc toc toc que ressoou como um estrondo dentro do carro.
Ela estendeu a mão esquerda em concha, mantendo a direita na altura da cintura sob o casado vermelho bem recortado que parecia ser de grife. 
Na fração de tempo do momento em que a percebi até a sua chegada, notei que a elegante pedinte trajava um jeans claro, justo, delineando o corpo de certa forma atraente e calçava um par de tênis branco que amarelava sob o efeito da iluminação pública. Os cabelos castanhos claros, quase loiros e levemente ondulados caiam-lhe sob o rosto magro de bom traçado e a pele me parecia tenra. Os dentes perfeitamente alinhados, branquinhos, mostravam que um dia conheceram tratamentos mais refinados. Não me pareceram postiços. 
Essas coisas que notamos do nada em nosso dia a dia que passam aos relances e concluímos, precipitadamente, sem sentido algum.
__ O senhor pode me ajudar moço? Por favor! 
Acho que foi isso que ela disse. A interpretação teve colaboração de leitura labial.
Abaixo o vidro gentilmente e pego umas moedas no console logo à frente do câmbio - lugar destinado ao porta copos.
__ Bem, querida. Só tenho isso agora. Me desculpe.
Procurei ser gentil. Mesmo apreensivo, supondo que talvez, finalmente, estaria diante de um possível assalto - até então me gabava do recorde entre os paulistanos de nunca, sequer, ter sofrido ameaça dessa espécie de deliquência. Apostei na imagem da serenidade cortês, acreditando assim, ter alguma chance de escape da situação e figura que aceleravam a minha adrenalina. Passei para para a mão esquerda dela umas quatro ou cinco moedas que provavelmente somavam pouco mais de um real.
__ Só isso moço?  Perguntou movimentando a mão direita que se escondia sob o casaco. 
__ Só isso, meu bem. Sinto muito. Da próxima vez te arrumo mais - passo por aqui todas as noites e amanhã você terá bem mais, prometo.
Respondi com voz firme e bem dirigida.
A mão direita dela sob o casaco movimentou-se nervosamente. O olhar profundo quase submisso se transformou. As sombrancelhas  arquearam-se e se aproximaram entre si sob o nariz delicadamente fino. Os lábios carnudos pareceram mais finos. Seu rosto lembrou uma ave de rapina diante do  ataque certeiro.
__ Olha aqui, você não está entendo. Me passa tudo o que você tem ai. Rapidinho, vai, vai. Grana, celular... tudo.
Jogou as moedas na minha cara. Meu óculos saiu do lugar.
__ Fique calma. Vou te passar minha carteira que está no bolso de trás.
__ Vai logo, porra.
Minhas mãos tremiam sob o volante. Olhei para o farol que permanecia, irritantemente vermelho. 
Dois, três, quatro segundos - pareciam uma eternidade.
A voz suave da locutora do rádio dizia alguma coisa que nem entendia direito.
Pensei - vou sair em disparada. Não vou dar nada pra essa mulher. Não vou ser assaltado. Não. É melhor eu entregar o que tenho e vou embora numa boa. Será que é arma mesmo que ela tem ai?
Incrível, tudo vem à cabeça. O coração bate acelerado, o suor corre pelas mãos que ficam frias, os braços, o corpo, tudo fica gelado. A gente treme até o último fio de cabelo.
__ Cadê o celular, tio?
A voz vinha de longe, muito longe. O som do rádio me parecia mais alto.
Cinco, seis, sete, oito segundos. Uma eternidade.
Me inclinei dissimulando buscar a carteira no bolso da calça. Olhei a mão sob o casaco vermelho e pressenti um estrondo que iria sair de algo pontiagudo voltado para mim se não obedecesse a loira acastanhada. 
Respirei fundo e do nada, impulsivamente, como se não fosse eu mesmo, uma outra pessoa, não sei quem e nem como, levei a mão ao câmbio, engatei a primeira marcha e fiz o pé direito pisar fundo no acelerador, tal e qual um corredor de Fórmula 1 faz no momento da largada.
Saí de lá em disparada, protegendo o corpo de um possível tiro cuja bala, nada doce, se me atingisse, atravessaria meus miolos esfacelado-os e misturado os pedaços dele ao sangue que sujaria todo meu carro que, aliás, também é vermelho.
Dois quilômetros à frente, depois de ter passado por outros tantos faróis vermelhos me restabeleci. E perplexo com a experiência cheguei em casa mais tarde com as pernas ainda bambas, mas nada contei aos meus.
O farol vermelho no momento da fuga fez com que a câmera do radar disparasse um flash que levaria dias depois eu receber do Departamento Estadual de Trânsito um aviso de cobrança. Um envelope lacrado pelas bordas com meu nome e endereço estampados em caixa alta na capa. Dentro o formulário indicava o flagrante do crime, contendo o dia, a hora, placa e outros tantos números. Uma foto em preto e branco, ridícula, de um carro - o meu, conduzido por um motorista relapso, provavelmente alcoolizado que quase atropelara uma pedestre, fotografada bem ao lado do veículo - pensaria um avaliador mal informado. 
Multa grave de cento e tantos reais e sete pontos na carteira.
A mesma câmera não registrou a aflição, a sensação de impotência e o risco que correu o motorista. Não registrou a tentativa de assalto que se tivesse acontecido teria sido talvez, mais honesto. O institucional, nem recorrendo. Resignado paguei a tal conta.
A pedinte, uma linda mulher, deve ter se dado melhor em outras oportunidades. 
De certa forma me dei bem também, ainda não sofri assalto. Me refiro esses que acontecem todos os dias.

Os regulamentados, não escapamos. Desses não tem jeito mesmo. As instituições são bem organizadas, muito eficientes na cobrança e cada vez mais se parecem com as do primeiro mundo.
São chamadas de Caracú. Elas entram com a cara e nós entramos com o resto.

01/10/2011

Não sei se é verdade, só sei que aconteceu.

                                                                                                                                    
Alice
Torcedor fanático do Palestra Itália, antigo nome do hoje conhecido Palmeiras, que, segundo a história, foi fundado por dissidentes do clube rival, Sport Club Corinthians Paulista, seu Giacomo, vizinho, amigo da família, patrício como se diziam os imigrantes italianos, contou à todos ali reunidos num almoço fraterno de domingo, uma história que sinceramente até hoje tenho dúvidas da veracidade. Meu avô morreu afirmando que a história era verdadeira. Talvez a imaginação voraz de imigrantes saudosos da Pátria Mãe, encharcados de vinho tivesse provocado uma alucinação coletiva.
Falando alto, gesticulando muito, seu Giacomo cantava a glória de ser palestrino. Lances de Romeu Pellicciari, Oberdan e outros tantos lhe vinham à boca. Todos aplaudiam compartilhando e complementando com detalhes sempre enaltecendo as histórias fabulosas.
Catarina (Cacá)
Um episódio em especial foi lembrado o qual poucos se recordavam mas, mesmo assim aplaudiram e muitos com lágrimas nos olhos ouviram.
Contou ele: (dispenso o sotaque italiano)


__ Lembram-se do pênalti? Sim aquele cobrado pelo argentino que o Palestra tinha acabado de contratar, o Borrado?
Cerca de vinte pessoas mais ou menos sentados ao redor da mesa colocada no quintal ficaram em silêncio. Que pênalti é esse? pensaram em comum.
__ Não se lembram? Eu estava lá e vi tudo. Jogava o Palestra e o Corinthians, final do campeonato paulista de 38. O jogo estava zero a zero e o empate dava a vitória ao Corinthians.
Silêncio no ambiente.
Gabriela (Bibi)
__ Então, dois minutos de acréscimo, faltando mais um minuto para encerrar a partida - pênalti. Borrado foi derrubado covardemente pelas costas por um lateral esquerdo, Barbosinha, acho, um negro de 1,90 de altura, quando certamente iria fazer o gol da vitória e levaria o Paletra a mais um título. 
Depois de muito bafafá e diz que me diz em campo, o juiz restabeleceu a ordem e o próprio Borrado, jogador argentino de origem italiana se posicionou para cobrar o pênalti. 
Todos olhavam atentos para seu Giacomo ouvindo a história.
__ O estranho meus patrícios é que Borrado ficou de costas para o goleiro corinthiano, de costas para a trave rival para onde deveria dirigir a bola. Até mesmo os jogadores, adversários e parceiros não entenderam o que Borrado estava fazendo.
Distanciou-se aproximando-se do goleiro, este sem compreender manteve-se posicionado, ligeiramente inclinando e saltitando sobre a linha divisória. Silêncio absoluto no estádio. O público presente também não compreendia o que ele estava fazendo.
Na mesa os patrícios ouviam o relato cada vez mais curiosos. Os garrafões de vinho iam esvaziando.
Seguiu seu Giacomo, agora sentindo-se mais dono da atenção dos presentes.
__ O juiz apitou. Borrado deu mais um passo para trás.  Com as mãos na cintura em gesto sereno e concentrado, provocou em seu rosto a expressão de quem faz uma força muscular intensa. Ninguém entendia - de costas para o gol quase ao lado do goleiro adversário. 



Cecília
Ouviu-se então um estrondo gigantesco que ecoou para além dos muros do estádio. O gás fétido exalado de suas entranhas o impulsionou de tal forma que o pé esquerdo alcançou a bola na marca do pênalti e a fez seguir como um raio em direção à trave de seu próprio time. Lá, calculadamente, ela rebateu tão fortemente que curvou os paus devolvendo à esta a direção certeira do gol adversário encontrando a rede que amorteceu a pelota.

Olivia


Não houve fotógrafo que pudesse registrar tal fato diante da rapidez do movimento. 
O juiz apitou. Gol. O final do jogo foi logo após o gol de Borrado. 










Meu avô morreu décadas depois afirmando em suas últimas palavras que estava presente no estádio nesse dia com seu Giacomo e assistiu o Palestra ser campeão naquele ano.
Avô (vô)
Eu pretendo repassar e colorir um pouco mais essa história para as minhas netas. Mudar o nome do jogador - Brad Pitti, talvez. O Palmeiras representando o Brasil numa final de Copa do Mundo, quem sabe.


Afinal, são coisas de avô, ninguém precisa levar a sério, só rir dele.