18/05/2015

Payssandú e o Planeta dos Macacos

Largo do Paiçandu, 1924 em São Paulo. Payssandú na grafia da época. 
Gostei da foto, pesquei ela na página "Memórias Paulistanas" no Facebook. 
Nessa época acho que a cidade não tinha cheiro de urina humana e nem bagunças de torcidas ou de black blocs. O crime organizado era coisa de americano, Chicago ainda fica longe daqui.
44 anos depois desta fotografia ter sido feita estava eu sentado numa das poltronas estofadas em vermelho do Cine Ouro. Na foto o cinema ficava bem à direita, à esquerda da igreja, quase de esquina onde se vê um edifício mais escuro. 
Fui assistir Planeta dos Macacos, o filme original com Charlton Heston. O cine Ouro era um dos mais caros da cidade. Eu já trabalhava e tinha grana para algumas extravagâncias.
Me lembro que antes do filme teve uma apresentação de um pianista cujo nome não me recordo. Provavelmente constava no cartaz ao lado da bilheteria, mas 47 anos depois dar crédito ao artista ficou impossível para mim. Lamento.
Saí do cinema atordoado pela a mensagem do filme. Foi demais tentar compreender o fim do mundo de forma tão símia.
Naquele final de tarde de domingo cinzento o Largo do Payssandú ainda não cheirava urina humana e nem se via nóias zumbizando por suas entranhas.
Meio deprimido eu caminhava até o ponto final do bonde que ficava na Praça Clóvis Bevilácqua no centro velho. Me perguntava se o mundo acabaria da forma como o filme narrava: numa grande guerra nuclear dizimando a inteligência dos humanos para dar aos macacos a supremacia da inteligência na face da terra. 
Anos depois me dei conta que não foi preciso disparar um megaton sequer no planeta para aniquilar com essa "inteligência", pois uma outra reação química e de natureza biológica estaria fazendo o papel na surdina.
Ao invés da custosa desintegração de átomos de urânio sob pressão nuclear, a urina lançada em praças públicas, vielas, becos e ruas escuras do terceiro mundo vem fazendo o trabalho com maior eficiência. 
O problema é que os macacos também estão sendo dizimados com esse bombardeio ácido. Talvez as baratas sobrevivam e sejam a nova inteligência.
Então, Apes, aerosol nelas e nos mijões também e que se dane a camada de ozônio.

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