05/02/2013

A sorte de Oswaldo

Oswaldo, desolado, decidiu antecipar sua partida e dar um tiro na cabeça. Na segunda feira passada pela manhã, antes de sair para o tratamento médico de rotina, se lembrou de conferir o resultado da Mega Sena. A aposta foi feita no sábado pela manhã e como de costume foi à Lotérica A Sorte é Sua, bem ao lado da relojoaria onde aproveitou para levar ao conserto o velho Cuco que desde a semana passada parou de funcionar. 
Buscou o registro da aposta na terceira gaveta do móvel rústico da sala de estar, onde costumava guardar a papelada. Pegou a aposta, deu uma boa olhada nos números e ligou o computador. A banda larga conectou a Internet de pronto e no site que se abriu ele clicou: Mega Sena - Resultado do Concurso 1465 de 02/02/2013. Lá encontrou os números:
06 11 16 26 44 53 
Em silêncio ele conferiu e reconferiu o bilhete várias vezes, não acreditando no que via estampado no papel levemente sedoso. Lembrou-se ainda do boa sorte que a simpática moça de seios grandes lhe dissera, a do guichê da lotérica A sorte é Sua, com aquele sorriso descabido pra lá de malicioso nos lábios.
Os milhões acumulados iriam mudar sua vida (?) da água para o vinho, mas ainda não foi dessa vez, pensou cabisbaixo. O papelzinho marcava um número acima em cada dezena da aposta: 
07 12 17 27 45 54 
Seria o sinal para o fim, proclamou. No entanto, o revólver calibre 38 que herdara de seu pai e que guardava com afeição na quarta gaveta do mesmo móvel, não estava municiado e nenhuma bala Oswaldo encontrou revirando a casa. 
Outro tipo de suicídio ele descartou por total falta de convicção. Se tivesse que acabar com a vida, igual ao pai e a mãe ele faria, nunca diferente. E depois da adrenalina baixar, o ímpeto de se matar foi parar no mesmo lugar, nas ideias.
Conformou-se. Decidiu esperar pelo transcurso natural do bom e velho destino, afinal o câncer que lhe comia as vísceras, foi o que apontou o último exame médico, o da semana passada, o deixava com os dias contados. O final estava próximo e nem valia a pena continuar o tratamento e nem, tão pouco, gastar uma bala de revólver para ferir-se mortalmente. Preferiu morrer em casa sozinho, puto da vida por nunca ter sentido, sequer, o gostinho de ganhar alguma coisa em loterias. 

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