30/04/2013

O último segundo da triste história de Ana Júlia.

Em reverência à hipocrisia.

Ela nunca imaginou que chegaria a este ponto, querer dar cabo da própria vida, mas é o que entendeu ser a única saída. 
Nem nos pensamentos mais absurdos, Ana Júlia considerou que um dia pudesse pensar nisso. A vida toda acreditou piamente que, por mais difícil que fosse a situação, o suicídio jamais ela cometeria. Oportunamente se manifestava contra a atitude mesquinha das pessoas fracas de espírito: em hipótese alguma uma pessoa poderia cometer um ato tão pequeno contra si próprio, isso é coisa de quem não tem Jesus no coração.
Ana Júlia, aos trinta e oito anos, casada desde os dezenove, fiel ao marido, educando as duas filhas com o maior fervor da fé cristã, envolveu-se com outro homem.
Jacinto, o galante dono da maior funerária da cidade, foi um canalha  da maior estirpe. A iludiu, a fez de gato e sapato, sob juras de amor eterno, lisonjeiras aos extremos, dilacerando seu coração e o corpo sublime por entre os caixões vazios da agência da Rua XV de Novembro.
Por ele, pela atenção recebida de tão nobre cavalheiro, Ana Júlia deixou de lado todas as convicções de mulher séria, bem casada e mãe de família. 
Somente agora soube o que ele pretendia - ganhar a aposta que fizera com os amigos do bar. O vídeo bombou na Internet, foi parar no You Tube com mais de um milhão de viewers, maculando definitivamente sua reputação.
Lhe restava, portanto, o desaparecimento, simples e direto e do alto da montanha, por entre as rochas, Ana Júlia se atirou.

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