26/04/2013

Eu no Castelo do Lalau.

Estive recentemente num local que se tornou emblemático na cidade de São Paulo. Um claustrofóbico edifício de muitos andares, mais de vinte eu acho. De arquitetura robusta e tendenciosa ao modernismo. Lá foram centralizados os julgamentos das ações trabalhistas da cidade, local onde empregados e empregadores, acompanhados de advogados e representantes, diante do juiz ou juiza põe a boca pra quebrar. O circo é lá.

Do meu celular
Fui ao Tribunal Regional do Trabalho - TRE/SP convocado pela empresa onde trabalho como testemunha numa ação trabalhista movida por um antigo funcionário.
Essas coisas são muito chatas, encontrar um colega de trabalho numa situação constrangedora não é nada fácil, mas senti que o colega reclamante estava mais constrangido do que eu. Eu, na verdade, não me sentia assim, estava mais para surpreso com tudo o que via e, naturalmente, um pouco incomodado. Sabemos que não é nada pessoal. Naturalmente ele se viu no direito de pleitear alguma coisa e recorreu à justiça. Nada demais isso.
Mas a questão não é essa. O que me chamou mesmo a atenção foi o edifício em si. Um monumento de concreto e vidro cuja arquitetura destoa dos antigos prédios vizinhos na Barra Funda.

Tratava-se como disse do TRE/SP, edifício cuja obra deu o que falar. Para sua construção foram repassados pelo Ministério da Justiça a soma de R$ 223,9 milhões  e desse montante foram desviados cerca de R$ 169,5 milhões e, pasmém, o mentor do desvio nada mais nada menos que um juiz Seu nome: Nicolau dos Santos Neto, o homem presidia a comissão de obras da construção do TRE/SP.
Em Miami onde comprou uma enorme mansão e desfilava com carros luxuosos, esbanjando gorjetas de até 500 dólares se tornando o rei da cocada preta entre os latinos E gringos da cidade.
Um verdadeiro escândalo que foi descoberto e, pasmém ainda, a justiça brasileira, caiu de pau no gato. Prenderam o sujeito através de deduragens, pelo dinheiro mal repartido entre os bandidos ou coisas assim. Soltaram o homem e o prenderam de novo e depois, pelas entre-linhas das leis o fizeram cumprir a pena em sua própria residência, aliás, outra mansão luxuosa que fica no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. Aquele que é cercado de favelas por quase todos os lados. E por final, recentemente, o prenderam de novo, agora em regime fechado. Mesmo idoso, com mais de 80 anos e com a  saúde fragilizada, o velho Lalau, como ficou conhecido, foi parar atrás das grades. A lei da bandidagem é bastante severa, não perdoa, bem diferente da nossa.
Parte do dinheiro retornou aos cofres públicos, a outra, nem sabemos onde foi parar, provavelmente revertida nos bens que foram adquiridos pelo ex magistrado, na condição de suprema de corrupto e nas mãos de outros tantos envolvidos. Enfim, pulverizou-se.

Entrando no edifício de pronto me senti agoniado, a energia era tão negativa que cheguei a perceber fantasmas me rodeando, sem exageros, senti de verdade. Quem sabe, fantasmas de trabalhadores que já se foram deste mundo sem mesmo ter resolvido pendências pleiteadas enquanto vivos. E a presença dos vivos, os advogados, advogadas, reclamantes e reclamados, os seguranças me incomodaram também. O clima é péssimo para quem tem ojeriza disso tudo.
O Edifício do Lalau é representativo. Grandioso, exagerado e inescrupuloso. Foi construído com exuberância com intenção de centralizar os diversos fóruns que existiam no passado, mas nitidamente, nada funcional. Ouvi dizer por lá que se estuda distribuir fóruns pela cidade novamente. Afinal o estado tem de plantação de dinheiro, pra ele fica mais fácil essas decisões.
O TRE/SP é sem dúvida mais um monumento ao modo brasileiro de gerir recursos públicos, uma reverência à  formação do país que é rico em histórias de escândalos. Um país do verde das matas e dos verdes dos dólares acumulados nas mãos de poucos. Talvez por isso haja tanta corrupção.


Sai fora Satanás! Cai fora fantasma do cacete. Vai para o raio que o parta onde está o Lalau, agora tomando mingau.

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