05/04/2013

Cotidiano urbano na periferia latina.

CIDADE URGENTE, BRASIL ALERTA, O MUNDO ESTÁ DE PONTA CABEÇA. AINDA MAIS PARA OS POBRES.
Elza como de costume aguardava a chegada do marido para o jantar. Comida fresquinha nas panelas e a salada lavada, restando nela o tempero que deixava para o momento de servir a refeição.  Os filhos banhados assistiam TV quietos no sofá novo da sala. 
Luiz saia de casa todos os dias por volta das seis e meia da manhã com a mochila ao ombro e às sete e quinze da noite retornava. Da comida caseira ele não abria mão. A do restaurante, além de cara, provocava nele a azia.
A família sentia-se mais esperançosa nesses últimos tempos, naquele mês iriam pagar a última prestação do material de construção usado na reforma da casa. A mão-de-obra foi paga em duas vezes e o quarto das crianças, um adendo ao projeto original, ficou ótimo. Com as contas em dia, finalmente poderiam comprar um carro. Um 2005 ou 2006, um fiatizinho de quatro portas era o sonho de Elza, Luiz e dos meninos Tiago e Bruno. Os passeios aos domingos estariam garantidos.
Elza com 32 anos, Luiz com 34. Tiago, 11 e Bruno com 9 anos.
Os dias, as semanas, os meses pareciam se repetir. Luiz, na tornearia, Elza, nas prendas domésticas e os meninos na escola pelas manhãs, lições de casa e brincadeiras às tardes. Às sete e quinze o pai chegava. O banho dele não passava de quinze minutos. Dez e meia, quinze para às onze no máximo, todos na cama.
Nesse dia deu sete e quinze, sete e meia, oito da noite e nada de Luiz chegar. Elza estranhou. O marido não era de parar em botecos ou coisa parecida.
Dez e meia da noite e o desespero impediu com que Elza e os filhos pudessem jantar. Ouviram um carro estacionando à frente de casa. Luzes piscando deixavam reflexos amarelados nas paredes da sala. Palmas vieram do portão. Elza levantou-se para atender, seguiu em direção aos policiais que se apresentaram, perguntando tratar-se de Elza de Oliveira dos Santos, esposa de Luiz Carlos dos Santos.
Depois do sim, Elza ouviu dos meganhas o que jamais pensou ouvir: lamento informar, senhora… seu marido, Luiz Carlos dos Santos foi vítima de um assalto e nele levou três tiros à queima roupa vindo a falecer. 
Latino, corta pra mim.

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