23/06/2013

Sem Partidos?

A questão não é a pregação do antipartidarismo como argumentam alguns defensores do partido que está no poder, ou dos partidos, melhor dizendo, pois a coisa é tão confusa que os interesses se misturam e vira um balaio de gato. Justificar as manifestações recentes por todo o país como tentativa de golpe às instituições é pura miopia, um sinal medroso do desespero. Acho que a questão vai muito além.

Badernas e depredações à parte, o que se viu nessas duas últimas semanas pelo Brasil e parece que ainda veremos por sei lá quanto tempo mais, com o povo nas ruas se rebelando, é um claro sinal de que ninguém aguenta mais ser passado pra trás. A panela de pressão explodiu e o feijão voou pra tudo quanto é lado. 
De um aparentemente simples aumento de 20 centavos no preço do transporte público na cidade de São Paulo, o que seria mais um a engolir, salvo alguns resmungos, deu no que deu. Viu-se dias depois um governador e um prefeito, politicamente adversários, porém nativos de um mesmo útero conservador, renderem-se com o rabinho entre as pernas.

Se o Movimento Passe Livre foi instigado por esse ou aquele grupo para se movimentarem dando início à campanha 2014, eu não sei. Mas se foi, o tiro saiu pela culatra, o disparo provocou o efeito ratoeira - a primeira desarmada abruptamente acionou uma vizinha e esta acionou outras que disparam outras e tantas outras mais gerando assim o maior barulho. 
Os políticos ficaram perplexos diante da cascata de ratoeiras no ar, estão atônitos. O povo agora efetivamente cobra deles a boa vida que levam na corte, escandalosamente custosa para nós. Cobram-se os péssimos serviços públicos que lhes seriam de direito, todos, sem exceção, um lixo. 
As pessoas despertaram para o assunto da Copa do Mundo na medida que viam surgir pelo horizonte os majestosos estádios de futebol, construídos com dinheiro público, embora digam que se trata de um empréstimo. Alguns construídos ou reformados em cidades que após o evento terão pouca ou nenhuma utilidade, enquanto hospitais, escolas, estradas, portos e uma infinidade de prioridades ficam pra trás. Isto é, dinheiro de impostos absurdos mal utilizados. 

A corrupção é a pauta da manifestação. Ainda que infestada pela histórica desordem, ela é o gás que provocou a revolta. A tirania disfarçada de democracia foi finalmente detectada pelo povo e daí a indignação e a revolta.

Em meio a isso tudo, chegaram os baderneiros, incendiando, depredando, saqueando e entre eles, possivelmente, alguns contratados profissionais da desordem, hábeis na condução do tumulto. Os filhinhos de papai não ficaram de fora, marcaram presença efetiva. Lembrando que organizações criminosas que jamais ficariam à parte da bagunça, marcaram o ponto fielmente. Enfim, com a manifestação veio tudo que temos na sociedade, de bom de de ruim e a panela de pressão explodiu.

Com eles, concomitantemente, a força pública, a reação pesada. A polícia descendo o cacete em quem estiver pela frente. Um prato cheio para a imprensa, danada pela audiência e pela perspectiva nas tiragens. Tendenciosa? Claro que é. Óbvio que é, tem gente de carne e osso lá dentro e provável, alguns bandidos também e duvido quem saiba o que seria, absolutamente, o que é ser imprensa livre. Sempre haverá alguém discordando, não importando se é minoria ou não, à sua maneira se rebelam, eles também são participantes da manifestação.

As redes sociais entraram nessa e se mostraram fundamentais nas mobilizações. Mesmo com a proliferação barata de idéias, que naturalmente faz parte, coube a ela o papel importante no desabafo. Lançam-se pedras somente com teclados de computadores.
Sendo uma ferramenta ultra rápida, os usuários se desprenderam e mandam pau em tudo, até mesmo sugerindo a queda da presidente, o fim dos partidos políticos e a extinção do Congresso Nacional. Óbvios exageros. Bobagens emocianadas, não me excluo.

Acho que na verdade o afoito não quer bem isso. Penso que ele exprime de forma desesperada o absoluto descontentamento de como os ocupantes dos cargos públicos no Brasil trabalham (se é essa a palavra), os eleitos ou os não, e não exatamente contra os cargos em si que eles ocupam, portanto, trata-se dos ocupantes e não dos ocupados. 

Compreendo que ninguém ou quase ninguém das quase duas centenas de milhões de brasileiros querem alterar as regras. Ninguém, salvo alguns poucos, talvez, queira tirania. Querem sim a liberdade, a honestidade, o respeito, viver a vida e o retorno sadio de cada centavo que paga de impostos. Quer ver seus representantes eleitos de maneira transparente e que jamais eles se conchavem contra nós. Possivelmente a sonegação seria menor ou quase nenhuma.

Acho que não nos importaríamos se existissem cem ou duzentos partidos políticos, não é essa a questão, bastaria que dentro deles somente pessoas corretas e de boa vontade se dispusessem a ocupar vagas públicas. Só isso. 
A partir daí as coisas mudariam de verdade e a melhor Copa do Mundo, por exemplo, sem dúvida nós faríamos, apesar da FIFA. Outros países já fizeram bem legaizinhas, sem roubalheiras. Por que nós não conseguiríamos? Já pensou, com essa seleção, detonando como está? Daria pra gritar gol com o peito lavado.

Vamos ver o que vem nas próximas semanas. O gigante a quem nos referimos somos nós mesmos que até então descansávamos, achando que estávamos em berço esplêndido. Chega de saudade, vamos para as ruas organizados e em paz, podemos mudar sim.

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