24/11/2012

Minha homenagem

Dentro deste corpo pequeno tem uma alma gigante, ativa e determinante, que grita em silêncio e cala a minha paz. É ela quem me inspira. Gostaria eu de tocá-la.
Por debaixo da estrutura magnifica, harmoniosamente construída num lapso da natureza, tem um espírito que me seduz. Gostaria eu de afagá-lo.
Atrás desses cabelos lisos que se perdem na forma quando os ventos fortes os encontram, atrás desses lábios pontiagudos que me procuram na quietude, atrás do olhar penetrante, que são as janelas do seu interior, tens a energia que me traga, que me devora. Acalentá-los todos, eu gostaria.
Me envolvem os teus braços, cercando-me as entranhas, deixando-me doente, carente, latente, com marcas pelo corpo de sangue sugado. Do nada você apareceu, me dei conta de tua presença somente depois, bem depois. Muito tempo depois. Nossos corpos se encontraram numa luta sem suor. Senti calor e senti dor.
Encontrei, então, você,  com as unhas embrenhadas, todas em mim, me desejando mais do que eu a você. Foi assim que pensei em ti.

Domingo passado em Piracaia resolvi entrar no mato. Sair do urbano e me embrenhar pela natureza pura e curtir um relaxamento. Daqueles que a gente quer estar sozinho com nossos pensamentos. Apreciei o som das águas do rio que passava por ali, batendo nas pedras criando músicas agradáveis aos meus ouvidos. As águas vindas não sei de onde seguiam seu caminho fazendo desenhos curiosos nas margens estreitas do pequeno riacho. Os peixinhos se exibiam para mim. Ouvi os passarinhos cantando, notei o verde musgo das folhagens, me ative a algumas admirando suas formas. Até fotografei uma ou outra.
Sentei-me sobre um tronco de árvore caído ao chão, olhei para os lados com toda a calma que abatera em minha alma. Senti o sabor do oxigênio entrando pela minha boca, buscando meus pulmões.
O homem precisa voltar-se à sua vocação. A composição química do cimento e as formas simétricas das estruturas urbanas, com o tempo, inibem a liberdade que precisamos ter.
Foram momentos de intenso prazer. Me recompus.
No dia seguinte, somente na segunda feira é que me dei conta do sinistro, quando percebi que me coçava nervosamente. Pelo corpo vi várias marquinhas  roxas, resultado de um ataque de um ou mais nojentos carrapatos. Daqueles encontrados nos matos, mais ainda em dias quentes precedidos de chuvas, e que fizeram a festa em mim. Sugaram o meu sangue como sedentos vampiros insaciáveis. Achei dois deles pela perefiferia do corpo. Contei as manchas inflamadas, avermelhadas, todas doloridas que irritantemente não paravam de coçar. Somaram, vinte e sete.
Me lembrei do pernilongo de Carlos Drummond de Andrade e inspirado nele, escrevi minha homenagem ao tão inescrupuloso ácaro que me assolou.
Carrapato filho da puta.

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