30/07/2013

Coisa do Zebedeu

Não digo que eu seja um ateu dos mais convíctos, somente deixei de acreditar num Deus da forma como pensava existir, um que me ensinaram deveria acreditar simplesmente porque deveria acreditar. Era assim que deveria ser. 
Uma entidade despresível, disposta a castigar a quem não o tema. Aos sessenta cansei de ser ameaçado. 

Associo essa devoção a uma forte necessidade de atenção que homens e mulheres vêm ao mundo, uma carência intrínseca à sua natureza, que evolui na medida em que elas se dão conta, inconscientes ou não, de quanto são pequenas diante do universo. A solidão provoca o medo e o medo faz com que buscamos a mão de alguém.

A religião dá conforto ao espírito e penso que é por isso que ela existe. São tantas restrições impostas pela fé que mais parecem regimes de aquartelados.

Contudo, penso que exista vida além da que vivemos aqui. Não sei exatamente de qual forma, qual modelo, mas, de certo, acredito que seja muito diferente da que conhecemos. Sem hierarquias e muito menos punições ameaçadoras.


Semana passada o Brasil recebeu a visita do líder da igreja católica, o papa Francisco. Diferente de seu antecessor, o papa Bento, que é um sujeito de semblante sério, demais fechado, nada simpático como papa, como diziam, um convicto tradicionalista que mesmo assim surpreendeu ao mundo quando deixou o cargo máximo do Vaticano, recolhendo-se numa cidadezinha do interior da Itália.


Francisco, mostrou-se diferente, bem diferente. Generoso e humilde, um intelectual sem nariz empinado. Deu-se ao povo com carinho e respeito, deixando por aqui a melhor impressão possível. Até mesmo àqueles que não fazem parte do catolicismo romano ou de religião alguma, como eu.

Possivelmente a igreja Católica tenha provocado preocupações aos opositores, por motivos óbvios. Num país extremamente carente a festa foi tamanha que a concorrência deve ter ficado de cabelos em pé. Até aí, tudo bem, mantiveram-se discretos. 

O que não vale, o que é incabível foram as grosserias de poucos com piadas de mal gosto sobre o papa e sua religião, através das redes sociais ou até mesmo em público.

Esta última, o exemplo máximo foi a de um grupo radical que se infiltrou na Marcha das Vadias lá em Copacabana. (a marcha valeu, mas o radicalismo não). Mulheres nuas ou semi nuas, mascaradas, ofenderam de forma mesquinha a crença de tantos exatamente num momento de explosão de sua fé. Foi baixo demais, muito além do ridículo, tacanho e rancoroso. 
Promoveram cenas bizarras, patéticas quando, com gestos vulgares, covardes, insultaram símbolos dos mais tradicionalíssimos cristãos. Absolutamente desnecessárias.

Está bem, a liberdade de expressão deve existir e não pode ser repudiada, mas desprezadas, algumas devem ser sim e muito. 


Por isso mesmo resolvi registrar aqui meu descontentamento. Essas pessoas que nem putas são, muito menos artistas, ainda precisam aprender como conviver com o oposto.


Tasso Marcelo/AFP Photo
Não cabe mais a intolerância, nunca coube. Isso é coisa do demônio, do Zebedeu.

28/07/2013

Amanhã vou estar melhor

Sabe quando você tem que voltar mas o coração implora de joelhos para que você fique onde está?  
Sabe quando você quer parar o tempo bruscamente, pôr o pé fundo nos freios, em algum momento, em algum lugar, em algumas horas ou dias, mas ele se mantém, atrevidamente arredio à sua vontade, de nariz empinado, olhando o vazio pela frente, sem mesmo notar você implorando para que ele pare só um pouquinho? 
Sabe quando você gostaria que a vida fosse somente da forma como você sonha quando acordado e ao sentir os pés pelo chão frio compreende que as coisas não são bem assim, aliás, muito diferentes. 
Sabe quando você é tomado por um vazio repentino, incompreensível, como num vento forte que sopra sem direção, levantando os cabelos, fazendo os olhos arderem, deixando eles prontos para um banho de água salgada? 
Pois é. Esses sentimentos vêm e vão do nada, de boca calada, sem pé e sem cabeça, mas que cutucam a alma. Mudos, esses pequenos demônios atormentam tanto que alteram até as cores do arco-iris. 
É exatamente nesses momentos que a gente precisa acreditar num abstrato, no metafísico, em alguma coisa que não se pode tocar, somente sentir. Dá algum conforto ao coração. 
Acreditar é impreciso, viver que é preciso. 

Amanhã vou estar melhor.

22/07/2013

Papa Francisco

Pô, sacanagem! Enxergaram chifres na cabeça do Papa ou estão vendo demais?
Internautas acusam revista "Time" de colocar chifres no papa
 FOLHA ON LINE - 22 JUL 2013
"A capa da última edição da revista americana 'Time', que destaca o papa Francisco e sua viagem ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, causou polêmica nas redes sociais. O motivo: o papa teria ficado com "chifres".Na capa da revista na edição para Europa, Ásia e América do Sul, Francisco é descrito como o "papa do povo", que está redefinindo o papado com "humildade e candura". A capa da edição americana traz reportagem sobre o caso do garoto negro Treyvon Martin, morto por um segurança que foi absolvido na semana passada.O problema da capa está na imagem do papa, que foi sobreposta ao título da revista. Com isso, as pontas da letra "M" ficaram acima da cabeça de Francisco, formando algo parecido com um chifre.Desde ontem o assunto é discutido nas redes sociais, questionando se teria sido coincidência ou não, ou fazendo brincadeiras sobre o tema."Como os editores [da revista] não perceberam isso?", perguntou, por exemplo, um internauta americano pelo Twitter na noite de ontem.Coincidência ou não, não é a primeira vez que a revista dá um ar diabólico aos personagens de suas capas. Entre as "vítimas" da "Time" estão figuras como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a ex-premiê britânica Margareth Thatcher, o criador da Microsoft, Bill Gates, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e o ex-presidente americano Bill Clinton, este último por duas vezes"

21/07/2013

Xarope, Papai Noel e San Diego.

UM ÚNICO ÍTEM, ENTRE TANTOS.

Lendo há pouco sobre a história da Coca-Cola fiquei surpreso com a informação de que a cada 10 segundos, 126 mil pessoas pelo mundo tomam algum produto desta marca.
Imediatamente fiz umas contas e cheguei nos seguintes números:

  • A cada minuto são cerca de 756 mil pessoas tomando Coca-Cola. 
  • A cada hora, 4 milhões e 536 mil pessoas.
  • Por dia, 108 milhões e 864 mil por todo mundo.
  • Num mês são 3 bilhões e 659 milhões de pessoas.
  • E num ano, 39 bilhões, 191 milhões e 40 mil pessoas.

Isto é, em média, nós terráqueos, já que somamos 7 bilhões de seres, tomamos 5,5 garrafas de Coca-Cola ao ano.
É um número básico, só de referência, até porque muitos nem chegam perto dela, mas que assusta, assusta mesmo.

Numa das oportunidades da vida passei por San Diego, Califórnia. Fica na costa oeste dos Estados Unidos. É uma cidade bonita, típica americana, cheia de conforto burguês. Não nego que aprecio.
Nesta cidade os Estados Unidos mantém um de seus portos com destinos militares, bem ao sul do país. Região que dá acesso ao mar sem fim do Oceano Pacífico. Próximo a este porto há também um aeroporto militar, super mega equipado.
Nunca tinha visto tanta embarcação bélica num único lugar. Nunca havia me deparado com tantos caças super-sônicos da mais alta tecnologia. Uma infinidade de navios, porta aviões, navios hospitais, muitos mesmo, de todos os tamanhos e modelos. 
Naquela costa, no mínimo, alguns trilhões de dólares estavam flutuando majestosamente. A maior força bélica do planeta estava representada ali. Chegou a ser assustador. Por que tanto armamento? Me perguntei.
Não sou do tipo anti americano, nem anti nada. Acho tudo isso uma grande bobagem, mas vendo aportado uma pequena parte do que verdadeiramente esse país investe em guerras, a cena me deixou triste.

Logo pensei: pronto, está aí uma parte de cada tostão que gastamos tomando o refrigerante do Papai Noel. 

A partir daquele dia fiquei só na água com gás de Lindóia ou de São Pedro. (como se fosse resolver alguma coisa)

Cruz credo!

Em tempo: Descobri o que é S2. É um cumprimento de despedida na linguagem das redes. Significa, Coração.

20/07/2013

Alguém sabe o que é s2 para me explicar?

Uma discreta homenagem às inúmeras postagens que vejo pelas redes sociais de mocinhas bonitinhas ou nem tão bonitinhas assim, diante de espelhos de banheiros públicos, registradas pelos celulares invariavelmente encapados por ilustrações abstratas, quando em noites de baladas para que suas amigas as vejam e se mordam de inveja do seu vestidinho novo, provocando respostas disfarçadas vêm com frases bombásticas do tipo: 

#migavctafoda Amu s2

Pra elas.
"O vento soprou tão forte naquela madrugada que a lua acabou sendo levada para mais distante que o habitual e ainda se posicionando um pouco mais à esquerda de onde eu me encontrava. De cheia passou a minguante num único segundo.
A força desse vento foi tamanha que as águas do oceano, antes acomodadas tranquilas e serenas na superfície, se transformaram em gigantescas e múltiplas ondas assustadoras e tsunamis com mais de cinco mil metros de altura invadiram todas as terras do horizonte. Fazendas e edifícios se misturaram num lamaçal sem fim. Onde antes era mar um deserto se tornou.
A vida marinha, pereceu. Vi esparramadas carcaças de baleias, tubarões, sardinhas, camarões e de toda fauna marinha. Vales, antes submersos, passaram a compor uma topografia dantesca num cenário inédito de horror, tudo sob um luar tênue.
Os raios estalados pelos céus eram tão frequentes que faziam a noite parecer dia e o dia mais dia ainda. Noite e dia se misturavam num cinza nebuloso e de nada mais valiam os relógios de ouro maciço apontando que o sol deveria pairar ao leste.
Dos confins do universo se observariam os clarões e ouviriam-se as explosões dos incontáveis trovões que precediam inúmeros relâmpagos daquele pequeno ponto de luz perdido no firmamento.
Os vulcões, até mesmo os inativos, lançaram a centenas de quilômetros de altura, lavas e gases tóxicos num vômito estridente, sem controle, esparramando por todo canto, com violência, muita terra derretida.
A vida estava sendo exterminada por forças naturais, o mundo estava acabando naquele exato momento e ninguém poderia resistir ao cataclismo.
Num golpe de sorte ou lucidez fugaz consegui sacar da minha câmera e registrar toda aquela cena espetacular e imediatamente postei no facebook para que todo mundo visse antes que ele se torna-se pó e também para mostrar aos ainda vivos o quanto eu sou bom na fotografia.
Mas o mundo não acabou e tudo voltou ao normal e minhas fotos nem saíram tão boas assim. Fica para a próxima.
 \o/

18/07/2013

Alinhado com as órbitas dos planetas Marte, Júpiter e Saturno.


DATA, HORA E ANO DO MEU NASCIMENTO DEVEM SER IMPORTANTES PARA O UNIVERSO. 


Através desses dados os astrólogos, que são os estudiosos dos movimentos dos astros e suas influências na Terra, apontam a minha personalidade e meu desempenho diante de tudo e de todos por aqui. Eles analisam o movimento dos planetas próximos a nós e a capacidade deles na interferência no nosso futuro.
Isso sempre me chamou a atenção, desde a época de Omar Cardoso na Rádio Bandeirantes, lá no início dos anos sessenta, mas nunca cheguei a uma conclusão sobre o assunto. 
O que me parece é que fazemos parte de um grande observatório, um BBB onde os participantes são manipulados a gosto do freguês, uma espécie de pequenos seres animados andando pra tudo quanto lado sem saber direito onde quer chegar, o que vale mesmo é o prêmio final. Talvez seja por isso o talento relevante do ser humano na bisbilhotice da vida alheia. Dessa forma me parece que a astrologia tem algum sentido. 
O pior de tudo é que o tonto aqui raramente deixa de bater os olhos nessas colunas. 
HORÓSCOPO DO DIA 18 DE JULHO - por Marcelo Dalla - FOLHA DE SPAULO  
 "É tempo de cultivar sensibilidade, de quebrar com a rigidez e se libertar de aprisionamentos. Marte, Júpiter e Saturno o inspiram a cultivar um objetivo positivo e pensamentos elevados. A investir em seus projetos mais grandiosos. Um clima de aventura e fantasia pode tornar a vida mais estimulante"
E…?

17/07/2013

Mais atrevimento pela frente.

Depois de três semanas tranquilas, me sinto mais calmo. Depois de décadas trabalhando duro, aos cinquenta e nove, sou mais seguro. Depois de anos de dedicação à vida profissional, me sinto mais sereno. Gostaria de tomar outros rumos, ideias não me faltam, mas sei que devo continuar no mesmo caminho, não sei por quanto tempo ainda, mas é o que quero e vou fazer neste momento. Ninguém me segura e tempo pela frente eu tenho.
Não se trata apenas de desejos, se trata também de necessidades práticas. Práticas da alma e do bolso. Gosto de estar na ativa e preciso sobreviver.Quando criança eu me imaginava aos sessenta anos sentado numa cadeira de balanço em frente a uma lareira me aquecendo do frio e da chuva que cai do lado de fora. Alguém trazendo uma sopa quente pra mim e me cobrindo as costas, dizendo para eu me proteger do reumatismo. Agora com quase essa idade sei que sou a mesma criança de sempre, cheio de planos, vitalidade e vontades. 
Fico louco quando me dizem que tenho idade para me aposentar. Gente, eu não tenho. Gosto de bagunça, pra mim a vida tem ritmo acelerado.
Fico triste quando vejo jovens se enchendo de vícios, sem rumo, sem planos, com medo do atrevimento, receios da incoerência. Arriscar-se por um sonho é o que temos de melhor na vida.

15/07/2013

Parque dos Saltos

O Parque dos Saltos fica em Brotas, cerca de 250 quilômetros da capital paulista.O lugar é lindo. A natureza é abundante, exuberante, delirante, excitante e calmante.
Clique sobre as imagens para melhor visualização.



A Casa das Máquinas que fica em meio a mata virgem foi construída em 1911. Ela servia para geração de energia elétrica que abastecia a cidade de Brotas. Restaurada, das antigas máquinas nada se vê, somente a construção de mais de um século que mantém o espírito da época.
Estar sozinho nesse paraiso é muito gratificante.

10/07/2013

Noite de 9 de Julho

Por aqui não há crise. É o que pareceu ao ver as ruas tranquilas na caminhada da noite passada. Anda-se com segurança a qualquer hora do dia. As pessoas se conhecem, se respeitam como são.
Não, não é bem assim. É tranquilo sim, bem tranquilo mesmo. Mas não é tudo isso. Eu é que me sinto bem como estou.
Praça 9 de Julho - Interior do Brasil. Noite de 9 de Julho.

09/07/2013

QUANDO

Acordei pensando nos filhos. Filhos são para sempre. Desde o primeiro momento em que recebemos a notícia de que os teremos, no instante em que nascem e quando colocamos os olhos neles pela primeira vez, vendo a cor dos olhos, o formato do nariz, da boca, do queixo. Os dedinhos gordinhos, os pés em forma de bolinha. Notamos a surpresa deles quando nos descobrem e demonstram os primeiros afetos. Quando damos conta que estão crescendo se tornando pessoas com pontos de vistas diferentes dos seus. Quando os identificamos como gente, com manias e teimosias. Quando eles te contestam sem mais e sem menos, a petulância deles acreditando que sabem mais da vida do que nós mesmos, te desafiando, colocando em cheque tudo aquilo que você ensinou. Seria essa a evolução da raça? Fazíamos a mesma coisa com os nossos pais? Gostoso demais quando eles te abraçam, te beijam, quando dizem que você é o melhor pai ou melhor mãe do mundo. A dependência deles em relação a nós. Tudo, absolutamente tudo neles é motivo de atenção. Até o agora, até sempre, sem fim, carregaremos uma aflição sem nexo dentro do peito. Um frio na barriga como se algo não desejado estivesse programado para acontecer. Meio sem pé e sem cabeça, sem cabimento. Paranóia ao extremo. A insegurança te toma e fica te azucrinando, dia e noite. O fardo não é leve, mas não imaginamos a vida sem eles.

07/07/2013

INDIRETAS SOCIAIS

Percebo nas redes sociais, ao menos numa parte do que chega até a mim, algumas coisas nada legais. Dorzinhas de cotovelo enrustidas, recalques de origens bizarras, insatisfações pessoais mal disfarçadas e sei lá o que mais. 
A linguagem para esta técnica foi importada da vida analógica. Ela é curta, sem métrica e sem rima e invariavelmente sem sentido. Ao invés do uso do direto e reto, o atirador lança mão das indiretas e tortas, o tiro sai pra tudo quanto é lado, às vezes até pela culatra e ninguém escapa. É cego em meio a um tiroteio. 
Imagino o mensageiro pensando em uma pessoa e mandando o pau na base do lusco e fusco. Com a adrenalina explodindo nas pontas dos dedos ele põe pra fora tudo aquilo que gostaria de dizer pessoalmente, mas não tem coragem. Falta de coragem, seria isso? 
Redes sociais para alguns deveria ter outro nome. Facebook, por exemplo, poderia se chamar Rancorbook. 
Claro que não tem só isso por lá. Há mensagens de amor, de fraternidade, de otimismo, positivismo, curiosidades, brincadeiras, jogos, crenças, ideologias, paqueras, manifestações de alegrias e tristezas, tem de tudo no FB. Mas o ítem recalque eu destaco aqui no blog. 
Arma de defesa contra isso? Tem sim, um belo e discreto desprezo. Deixe que se doam dentro de sua pequenez ou, como eles preferem ser vistos, dentro de suas grandezas.
Lá de cima somos todos do mesmo tamanho. E aqui entre nós, de perto ninguém é normal.

06/07/2013

JAULAS

Somos animais enjaulados e fim de papo. Nos enjaulamos pela segurança que gostamos de sentir. Dentro delas olhamos os outros que estão soltos e nos comparamos. Ah, como somos felizes por sermos tão corretinhos! Obrigado, meu Deus!
O cara trabalha que nem um FDP a vida toda, compra uma casa para pagar em 30 anos, financia um Palio ou um Fiesta 1.0 em 60 meses. Dispensa o seguro contra terceiros. Mal acaba um carnê das Casas Bahia e já se mete num da Marabrás pela compra da TV HD de 60' que tanto falam que é importante e assiste novela amaldiçoando o vilão ou olhando com o rabo dos olhos a gostosa da mocinha, em alta definição. Berra pelo gol impedido do time adversário. Encara horários políticos peidando na sala e antes de dormir ainda verifica os cadeados no portão.
Que porra é essa de casta?

05/07/2013

O CHAMADO. A PROVOCAÇÃO

A história aqui relatada foi baseada em fatos reais e ocorrida nos tempos de hoje. 
A capacidade do interlocutor em dar a dimensão exata ao que verdadeiramente ele sentiu, não será de tão fiel como ele pretendeu. Cabe ao leitor o discernimento.
Recomendamos que crianças, idosos e pessoas com problemas cardíacos deixem de percorre-la. 

Julho de 2013
São Paulo - Brasil

Dormia tranquilamente quando de repente alguma coisa me fez acordar. Pareceu-me que alguém havia sussurrado ao ouvido. 
Não foi um ruído, nenhum relâmpago barulhento e muito menos um pesadelo afoito. Foi um Olá, como está você? E simplesmente acordei.
Olhei para o relógio e ele marcava duas e trinta e sete. Alta madrugada.
O silêncio na calada noite foi interrompido por uns miados de um gato apaixonado que provavelmente se divertia nos telhados da vizinhança. Teria sido ele o feitor do meu despertar? Talvez.
Levantei-me, senti o frio pinicando o corpo assim que me descobri e logo busquei o agasalho apoiado sobre um móvel próximo. Procurei os chinelos ao lado da cama com os pés. Eles nunca estão na posição de fácil alcance.
Desci e caminhei até a cozinha. Na geladeira a garrafa de água tremia mais do que eu pelo frio que sentia. Saciei minha sede e tratei logo de fechar a porta impedindo que o ar de poucos graus centígrados que vaporizava da velha Electrolux chegasse até a mim.
O sono que antes parecia intenso deixou de sê-lo por completo. Quinze para as três da manhã e eu acordado esperando o sol nascer. Muito cedo ainda e disse a mim mesmo um não determinado e para a cama decidi voltar. O gato pressentindo a movimentação na casa vizinha havia se calado.
Movimentei o basculante do vitrô para ver sei lá o quê do lado de fora e notei o céu num azul profundo, com muitas estrelas brilhando e a luz da lua cheia que clareava o quintal. Um vento frio ardeu-me o rosto e a mão, instintivamente fechei a janela.
Minha casa tem os dormitórios no andar de cima e uma escada larga em curva dá acesso a eles. Pelo corre-mão me apoiei e de degrau em degrau fui subindo em silêncio preocupado em não acordar mais ninguém. Lembrei-me que estava sozinho em casa, mesmo assim mantive a quietude. Parecia não ter fim essa via. Para mim o percurso já me tomava minutos preciosos de sono e cansativamente o via sem fim.
Com o silêncio se estabelecendo o gato sentiu-se seguro e ao namoro retomou. O ouvi miando um miado sofrido, como que querendo esconder um prazer proibido ou, pelo contrário disso, quem sabe revelando ao mundo o quanto estava feliz e aquecido, mesmo em noite fria de lua cheia. 
O amor aquece, penso eu às vezes e o frio nos encolhe, escandalosamente. Disso sabemos ao certo.
Não sei bem a razão, mas assim que cheguei ao meu quarto acendi a luz, não precisaria ter feito isso, mas a acendi intuitivamente e qual foi meu espanto quando vi todas as portas do guarda roupa escancaradas. Abertas sem motivo algum para estarem assim. É uma peça enorme com dezoito folhas de portas e que cobre uma das paredes do recinto inteiramente.
A cama que deveria estar com os lençóis esparramados, a vi toda alinhada, coberta na sua extensão pelo acolchoado estampado que escondia também os travesseiros ajeitados. Inclusive os babados nas laterais desse acolchoado, estavam postos absolutamente perfilados, como quando uma arrumadeira de hotel, dedicada, os tivessem passados à ferro quente com muito carinho. As gavetas dos criados-mudos também fora de lugar com as coisas de dentro remexidas.
Quieto, surpreso e perplexo procurei manter-me calmo para tentar compreender o que me surpreendia. O frio externo passou a nada diante do arrepio que cobria a minha espinha. Os poros se abriram, os senti pipocando pelo corpo. Meus cabelos, se vistos a olho nu, seriam relatados como em pé, fio a fio.
Procurei me manter consciente, de mente aberta, pronto para ao que desse ou ao que viesse, mas com medo, muito medo. Um inconsolável pânico, em pleno estado de pavor repentino. Não sei descrever exatamente o que senti.
Não ouvia mais o miado frenético do gato, não me recordo o que passou pela minha cabeça naquele momento, mas me parecia um sinal claro e bem claro de que alguém estava brincando comigo.
Perguntei a mim mesmo se o que estava vendo era real, verdadeiro. Abaixei a cabeça, senti os dedos dos pés recolhidos, apaguei a luz sem tirar o dedo do interruptor e me concentrei. Senti uma espécie de vapor quente passando por mim, seu calor contrastou com o meu arrepio.
Certifique-se, meu velho! Acenda a luz e veja se tudo voltou ao normal. Pensei e agi.
Me controlando, me implorando calma, fiquei na escuridão por alguns segundos. Lembrei de parentes, de amigos e conhecidos que já se foram. Vieram todos à mente muito rapidamente. 
O dedo interceptou a chave para a posição acima e o quarto clareou-se novamente. 
Não se tratava de ilusão ou alguma miragem como se estivesse com sede no meio de um deserto. Não havia bebido na noite anterior e eu estava bem acordado. Via tudo de forma nítida e transparente. As portas do guarda roupa continuavam abertas e a cama feita como que se nela eu não estivesse deitado minutos atrás. Os criados-mudos, mudos pareciam que me olhavam.
Respirei fundo e me contive, fechei os olhos por alguns segundos e remeti meus pensamentos para coisas positivas. Me enchi de coragem e em passos firmes me aproximei do móvel e fui fechando todas as portas, olhando para os lados e para trás. 
Como eu queria que fosse naquele instante um claríssimo meio dia e não três da madrugada de noite de lua cheia. E que a luz do sol estivesse inundando com seu calor amigo o ambiente e a mim mesmo.
O arrepio na espinha ia e vinha numa velocidade que nunca havia sentido e os poros continuavam abertos, dilacerados. As mãos tremiam, por mais que me esforssasse, não tinha controle sobre elas e os olhos esbugalhados registravam tudo sem compreender nada, mas, determinado, fechei-as com coragem. Batendo-as com força como Don Quixote teria feito. 
Puxei o acolchoado, desalinhei ele e os travesseiros, empurrei as gavetas dos criados-mudos como querendo dizer que quem mandava ali era eu. Tirei os chinelos dos pés e sentei-me à cama que agora não estava tão quentinha. Minha bunda gelou mais do que já estava.
Por instantes fiquei paralisado. Ouvia zunidos indecifráveis e sopros alucinantes. A súbita coragem quixotesca desapareceu por completo e me peguei encolhido, muito encolhido sobre minha pança.
O ar que respirava entrava e saia dos pulmões fugazmente, eles se comprimiam medrosamente. Ouvia meu coração batendo acelerado e a adrenalina que transbordava dos pés à cabeça, em choque eu sentia até o cheiro dela. 
Fechei os olhos inclinando a cabeça para baixo. Meus dedos entrelaçaram-se. As pontas deles eu sentia, uma a uma, quando as esfregava nas juntas nas costas das mãos.
Lembrei do gato no telhada da casa vizinha, dos seus gemidos, da sua manifestação de amor mundano. Por que eles desapareceram? Queria ouvi-los agora. Mia gato, mia, seu filho de uma puta. Não me importaria em nada os miados me acompanhassem pelo resto da noite. Afinal, o que são singelos miados de amor?
Trinta segundos depois ouvi distante um primeiro miado e logo em seguida outros tantos, eles foram me aquecendo, pareciam música aos meus ouvidos.
Me confortei. Me recompus. A espinha não tremia mais, minhas mãos se soltaram, estavam livres, o coração voltou ao normal e até o cheiro da adrenalina se foi.
Apaguei a luz e deitei-me para que o sono me levasse ao descanso. Não demorou muito para que eu voltasse para terra dos sonhos. Lá encontrei uma pessoa que há muito não via, mas que ainda vive entre nós. Ela foi receptiva. 
Os que já se foram não estavam presentes nesse sonho, mas de certo proporcionaram-me o encontro querido em um lugar muito tranquilo.
Acordei às sete e meia da manhã quando a luz do sol insistia em infiltrar-se pela janela. Passando pelas frestas das cortinas criando desenhos encantadores pelas paredes. 
O quarto aquecido agora me aquecia mais do que a própria cama em que dormia. O guarda roupa que também recebia a mesma luz pareceu um móvel comum, bonito e bem construído. Com as portas simetricamente fechadas, estava ele imponente cumprindo o seu papel.
Ao invés do gato miando, ouvi o meu cachorro latindo, me chamando, me acordando, querendo dizer: vem logo, vamos brincar que o dia já começou e está bom demais aqui para nós que estamos vivos!



Seja lá quem for você que gosta de brincar de esconde-esconde, quando quiser me chamar ou me provocar, por favor, faça isso ao meio dia. Assim você não corre o risco de eu pensar que estava sonhando, muito além do que faço quando estou acordado.


04/07/2013

MILITÃO MILITANTE

Idiotices idiotas, idiotizadas idiotamente.

Pensando cá com meus botões. 

Existiria o verbo “militar” ou ele é só um adjetivo? 
Existindo e eu não sendo um militar, eu não milito e nem militaria.

A militância alheia é sempre um pé no saco.

Militei um dia, foi fórceps. O serviço militar dos dezoito me conscritou.

O verbo militar no presente do indicativo:

Eu milito Tu militas Ele milita Nós militamos Vós militais Eles militam
TODOS MILITAM

Nas pessoas do singular e do plural eu não me incluiria. NÃO? Não

Doce Vida Cotidiana - DVC

Cleô e Raphael um pouco antes do sono chegar.
__ Querido, a campanha começou, você vai militar este ano? 
__ Não, querida! Você sabe, eu não sou militar, embora eu seja um militante convicto, jamais me alistaria nos quadros militares. 
__ Ah! Amor! Entendi! Eu militaria, num futuro pretérito, com você, sabia? Já pensou nós dois acuados numa trincheira. Nosso cafofo... kkk 
__ Seríamos militantes, minha querida e amada esposa e não militares. (idiota) 
__ Mas amor, não seguiríamos uma ordem unida se militássemos? Um, dois... um, dois... kkk 
__ Estaríamos alinhados numa mesma ideologia e assim praticaríamos nossas ideias de revolução. Melhor dizer assim, minha anja. 
__ Mas alguém nos diria o que fazer, o que falar, o que pensar... amor? 
__ Sim e não. Não, mas nos organizaríamos. 
__ Como assim, amor? 
__ Não enche. Você não entenderia. 
__ E os militares, eles militam? 
__ Militam, mas vê se dorme, amor da minha vida. Paixão cruel desenfreada, poço de ternura, meu paraíso na terra.  (Idiota - só no pensamento dele) 
__ (Idiota - só no pensamento dela).

   Militão militante, militarizou-se. Militado, Militão militou.

02/07/2013

1959 - A primeira lição de Cinema.

O filho mais velho de meu pai
Me lembro como se fosse hoje. Meu pai chegando em casa num início de noite com uma caixa na mão.                                                              

Acho que não era bem uma caixa, talvez fosse um embrulho, embrulhos em papel de jornal eram mais a cara dele. Sujeito simplório era meu pai.

Meu irmão e eu festejávamos sempre a sua chegada e naquele dia ele apareceu com alguma coisa diferente por dentro do casaco. Fazia frio e o velho - ainda novo na época, como bom motociclista, nos dias frios se protegia o quanto podia. O cabelo liso cheio de brilhantina ficava todo espetado, a gente caçoava dele - Cabeça de espiga! Cabeça de espiga!. Motociclistas não se protegiam com capacetes em 1959.


Logo percebi que era um presente, embora meu pai dissesse que seria dos dois filhos, fui logo me apossando do pacote. Nessas horas é bom ser o irmão mais velho, o menor se coloca num segundo plano, resignado. Sempre fui um mandão idiota.

Abri o volume e me deparei com uma câmera fotográfica. Umas dessas do tipo caixão, toda preta com uma série de numerozinhos que somente anos depois iria entender para que serviam. Os detalhes prateados me chamavam a atenção. E nome era muito estranho - Kapsa.


Imagem - Google
Dias antes meu pai havia me contado como se fazia filmes, isso em vista do meu deslumbre por ter ido ao cinema pela primeira vez para assistir Paixão de Cristo, no Cine Soberano que ficava na Rua Vergueiro esquina com a Av. Gentil de Moura, no bairro do Ipiranga. Hoje me parece que o local é um estacionamento. Horrível isso.

Muito bem. Com o encantamento pela tela gigante do Cine Soberano, pelo quanto me desesperei ao ver Jesus Cristo sendo torturado pelos romanos antes de ser barbaramente crucificado por eles, com sua mãe, Maria, chorando aos seus pés vendo o filho morrer sem ter o que fazer e com as explicações que se seguiram de meu pai, com intuito de me acalmar, que aquilo tudo não passava de encenação cinematográfica e que era assim que se faziam os filmes, o assunto para mim daquele dia em diante, seria um só: cinema.

Me lembro dele ter dito que faríamos um filme de terror, com monstros e fantasmas, mas que todos eles seriam interpretados com pessoas conhecidas, todas disfarças - minha mãe, meus tios, meus avós, primos. Foi quando o compreendi e quando nasceu em mim o desejo de fazer filmes. Eu devia ter canalizado essa paixão com mais afinco ao longo da vida.

O que ele pôde comprar foi uma câmera fotográfica usada, mas pelo que dizia, a velha câmera funcionava e muito bem. Não me lembro de vê-la tirando fotos nenhuma vez.
Recordo da explicação que uma sequência de fotografias tiradas de um movimento e projetada depois numa tela na parede iria gerar a ilusão delas se mexendo. 

O velho, para ilustrar melhor a aula, pegou um livro e na borda inferior deste fez uma sequência de desenhos - uns pauzinhos dirigidos a pontos diferentes e na medida em que seu polegar ia soltando as folhas sob pressão elas mostravam os pauzinhos girando, girando, como estivessem vivos. 

Caí de costas na cadeira.

__ Pai, é assim?

__ É assim. Entendeu?

Essas recordações saltam na minha alma sem que eu as chamem. Parecem fantasminhas me provocando, todas querendo brincar comigo.

Assisti ontem pela enésima vez o filme Cinema Paradiso, um bom filme de Giuseppe Tornatore de 1988. Não me contive, chorei. Senti que ao meu lado estava ele, meu pai. Tímido, quieto, introspectivo, mas feliz por estar perto de mim mais uma vez. Ainda o ouvi me provocando:

Entendeu?

01/07/2013

Vazio

Amanheceu chovendo em São Paulo nesta segunda feira de primeiro de julho. Está frio por aqui e em dias assim me recolho para dentro mim. Me isolo, como se estivesse buscando um cobertor que me aquece, sem perceber que faço isso. 
Minhas pálpebras ficam pesadas, minhas costas pedem descanso, meu coração bate desordenado e minhas mãos escondem meus dedos.
Encontro pessoas nos pensamentos, elas vêm de tempos diferentes. De longe, de muito longe, de perto e de muito perto. Fora de ordem cronológica, do nada pululam na minha mente, irônicas, reveladas, vindas não sei de onde. Algumas felizes com o reencontro, outras nem tanto e ainda algumas indiferentes. Ouço suas vozes, mas não compreendo o que dizem. Nem eu mesmo compreendo o que vejo.
Quero falar com elas, tocá-las, apertar suas mãos, abraça-las com afeto, mas não consigo. Desaparecem quando ameaço aproximar-me. Estão numa vitrine que se ilumina na medida em que as encontro. Inacessíveis, foras de liquidação. Lembram fumaças que se perdem na medida  em que os ventos sopram, mesmo com os mais leves. 
Indefinidas num fundo escuro, misturando-se entre si, uma a outra, não deixando cheiros, marcas, cores, vestígio algum. Fica um vazio que paralisa o coração e me magoa. 
Se é preciso chuva para florir, como disse o poeta num ímpeto de esperança, eu não sei. Hoje eu não sei. Hoje nada sei. 
Fico com sua esperança para que amanhã eu me recobre para assim ver a cor do futuro.