21/05/2012

Segunda feira

Finalmente chegou! 
Que legal, que festa, quanta alegria! 

Quem é que não gosta de uma bela manhã de segunda feira carregada de compromissos e uma semana inteira pela frente, heim? Sair de casa logo cedo com cara de quem vai para uma guerra com todo entusiasmo do mundo. Animado, cheio de planos e esperanças.
Nem nos importamos com aquele vizinho que nem sabemos o nome, aquele que te olha com rabo de olho que está do outro lado da rua se esforçando para dar a impressão de que não te viu e sem saída nos dá um bom dia que quase nem escutamos e com um sorriso mais do que amarelado no rosto, o qual retribuímos da mesma forma, acenando rapidamente. Tudo é muito sincero às segundas de manhã. Ainda mais quando está chovendo. Puxa vida, com a chuva o ânimo se multiplica. O mundo fica radiante e a felicidade encontra a plenitude eterna.
A primeira hora do dia é absolutamente cronometrada, não poderia ser diferente. Dois minutos pra isso, trinta segundos pra aquilo e assim seguimos tropeçando no pé da cama sem sentirmos dor. Não se pode perder tempo, de jeito nenhum, nem sonhando, quanto mais sonhando.
Os minutinhos a mais na cama depois do primeiro toque do querido despertador são os mais gostosos pra se dormir, mas são os que passam mais rápidos, vorazes fazem parecer que o tempo pula de cinco em cinco minutos à cada dez segundos e lá vem ele, fiel, matematicamente correto, com a música eletrônica que agrada aos ouvidos, nos chamando como um amigo - acorda, meu. (aqui em São Paulo usamos muito o meu - não sei a origem disso, acho que é de meu chapa ou meu amigo, alguma coisa assim e pela nossa pressa cortamos o complemento). 
A água do chuveiro esquentando enquanto fazemos a barba, depois do primeiro xixi do dia que é o mais gostoso, diga-se de passagem. A roupa que iremos vestir, bem alinhada, buscando a combinação das cores e que deveria estar separada e apoiada sobre o móvel do quarto desde a noite anterior, mas que por preguiça deixamos para o dia seguinte, sempre provoca um ou outro atraso, mas que, com a estratégia matinal apurada com os anos, recuperamos com dois ou três minutos a menos de banho.

O tempo do café da manhã pode servir também de recuperação de atrasos. É histórico isso no mundo todo. Quanto a segunda feira inicia com o tempo correndo mais rápido, simplesmente pulamos esta etapa ou quase, ainda arruma-se um tempinho para uns goles de café preto que servem de dejejum sadio. Mas quando o cronograma está sendo cumprido com rigor de quartel, sobra o tempo para lermos alguma coisa, ouvirmos notícias pelo rádio ou até pela TV, onde o trânsito e a temperatura estão sempre em destaque, somados a alguma tragédia da madrugada. É comum também ouvirmos sobre os acidentes provocados pelos motoristas bêbados da madrugada ou sobre os terremotos pelo mundo que sacudiram tudo matando milhares de pessoas. Acordar ouvindo essas coisas é uma delícia.
Não sei nem descrever a sensação que tenho a cada manhã de segunda feira. Elas são alucinantes como o ópio que vem da Turquia.
E o trânsito então, como estão calmos os motoristas conduzindo os seus veículos. Dirigem com toda a lucidez esperada, obedecem os sinais e as velocidades permitidas com muita paciência, ternura e cortesia, uns com os outros em perfeita harmonia. 
Nos esforçamos nas manhãs, principalmente as das segundas feiras, mas os atrasos são inevitáveis. Porém, como está tudo tão maravilhoso, até mesmo o humor do chefe fica melhor nesses dias, ele sempre compreende e nos recebe com aquele sorriso indescritível.
Quanta felicidade inspiram as manhãs das segundas feiras. Poderia ficar aqui escrevendo páginas e mais páginas, enaltecendo o meu mais profundo sentimento em relação a esse dia, revelado ainda mais quando despertado pela musiquinha eletrônica do rádio-relógio que certamente veio de Taiwan, mas com esforço, resumo numa única e singela frase, pinçada do fundo da minha alma:
Puta que o pariu!



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