15/04/2012

A vida em ordem alfabética

Estou escrevendo um livro. Trata-se de uma extensa relação de pessoas que conheci ao longo da vida e  com elas as histórias são passadas. 

Estou relacionando pessoas que me marcaram pelo seu jeito de ser e de quanto elas representaram na minha formação. A quantidade de nomes é enorme e com dedicação me disponho ao trabalho. Entendo que aprendendemos com todos, mesmo à distância, um ajuda o outro, de uma forma ou de outra.
Daqueles que não me lembro os nomes,  os que  o tempo guardaram somente pelos fatos em si,  pequenos ou grandes, pelos sons de suas vozes, pelas palavras que diziam e de como me viam,  peço desculpas. Deixo ao menos a menção da nossa convivência, num olhar muito pessoal, saberão o quanto importantes eles ou elas foram para mim. 
E aos de nomes lembrados que me permitam a referência. Até poderei, eventualmente, alterar identificações de alguns ou algumas para não compromete-los, se os fatos sugerirem isso. Estou decidindo o caminho,  mas não deixarei de mencioná-los diante da relevância.
Vejo que aos poucos uma história única se constrói pois de fato a base dela existe e fora de uma ordem cronológica. Uma história começa pelo final algumas vezes, pulando num parágrafo coerente para o início do relato e depois num outro salto, segue encerrando-se bem ao meio. O tempo caminha para frente e para trás como num lapso e na medida em que as pessoas vão sendo citadas os episódios vão se desenrolando.  E, óbvio, sempre pela minha percepção. Prevalece a versão do autor, pois,  dessa maneira  quem as lê compreende o ponto de vista de quem conta a história.
As redes sociais têm o mesmo estilo. Num primeiro momento uma mensagem aparenta não ter sentido. Ela é postada de forma genérica e quem se sentir receptivo responde. Às vezes a postagem é colocada como se fosse em códigos ou em meias palavras, os amigos relacionados no grupo lêem, curtem e comentam sem compreender direito o sentido real daquelas palavras,  tornam-se cúmplices e na sequência e com a ajuda da intuição,  concluem que quem enviou está com problemas,  daí a pseudo fraternidade.
Não tenho a menor expectativa de que alguém possa ler um dia  de cabo a rabo o que estou escrevendo, muito menos de alguém se dispor a comprar uma edição, afinal, livro no Brasil é caro e no geral as pessoas preferem leituras breves focadas na auto ajuda ou nas filosofias facebookianas. 
Geralmente livros de escritores desconhecidos são compreendidos como de pouco talento e ficam esquecidos nas estantes. Até os grandes escritores reclamam do público reduzido e contam mesmo é com o reconhecimento em outros cantos do mundo ou de que suas obras possam se transformar em novelas de televisão.
Imagino que a leitura se dará por uma ou outra pessoa mais próxima e talvez, por consideração ou até mesmo curiosidade alguém poderá comprar um ou outro exemplar mas, antes disso, se dará ao trabalho de folhear na própria livraria o exemplar, certificando-se de que seu nome conste mesmo no livro.  E também como num site, o leitor reconhecerá amigos em comum e se interessará pelas histórias deles comigo. Vale mesmo o meu prazer nessa aventura da memória e a diversão pelo exercício da revisão.

Acumulamos pontos ganhos e pontos perdidos num torneio. Na Copa do Mundo, na feira e no trabalho estamos sempre atrás do sucesso pessoal como numa verdadeira disputa olímpica.
Não venham me dizer que os tímidos não querem nada. Quem gostaria de nada é porque não seria nada e como todos, sem exceção, querem muito, mesmo discutindo-se o sentido do "muito", todos querem vender na vida e,  pensando bem,  que consigam.  Por que não?  Merecemos uma medalha de ouro de vez em quando, não acham?
Afinal, alguma coisa tem de fazer sentido nisso tudo.

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