30/04/2012

Diário do Dia - Segunda, 30 de abril de 2012

Piracaia está molhada. Não para de chover desde sábado a tarde e hoje já é segunda feira. Ela começou fina lá pelas duas da tarde e me dei conta logo após a saída do restaurante Breda, onde se come a melhor truta do Brasil - pelo menos é assim que anuncia o cartaz no casarão amarelo ocre, todo reformado e que fica na parte mais alta da cidade, no Largo da Matriz. E eu acredito que seja mesmo, pois a tal truta estava uma delícia. 
Bem que a meteorologia anunciou um feriadão com muita chuva no estado de São Paulo. Vai acertar assim lá longe, podiam ter errado feio desta vez, pô! Sempre fazem isso!
Me restou o recolhimento, o descanso e a leitura. Escrever bobagens aqui no blog, buscar notícias pelos sites, brincar um pouco com as netas, com a filha, ouvir o genro falar sobre cavalos, sua paixão - o cara é bom nisso, entende do assunto. Estar com minha mulher que não para de tossir, ela está com uma forte gripe e fica mais impaciente com isso.
Procurei esquecer do trabalho para me recompor, embora, de tempo em tempo, uma outra questão do nada viesse a me acordar. É assim mesmo, já estou acostumado, eu não consigo me desligar por completo. Precisaria de mais uns dias, mais um ou dois meses de folga assim eu relaxaria por completo. Isso eu farei nas férias de julho aqui em Piracaia, em Matchu Pitchu e em Santiago.

Domingão a noite deixa a gente meio borocochô. Embora este antecedesse uma segunda de pré feriado, domingo é domingo. Deviam tirar ele do calendário, quando muito só deixar a parte da manhã. Tudo fechado e sem graça dá a impressão de estarmos em último na fila que nunca anda.
Sou acelerado e na calma, na muita calma, minhas pernas começam a balançar e a cabeça não para de trabalhar. Me sinto provocado e mais ansioso, quero fazer alguma coisa.


Nada mais solitário que uma ilha.
Penso nas ilhas pequenas, aquelas escondidas no mar sem fim. 
Aquelas que mostram uma única montanha de altura média disforme bem ao centro. 
De vegetação rasteira com algumas plantas de folhas grandes e de galhos firmes. 
Penso naquelas sozinhas, as resignadas na sua condição de não ter ninguém pra falar. 
As que ouvem a música do vento e se acalmam com as carícias de corpo inteiro do próprio mar.
Penso numa ilha minúscula, certinha na forma, aquela do acaso, a agredida pelo navegador da bússola perdida e que jamais um dia ele voltará. Despida e tolhida da pureza. 
Do intrépido visitante se lembrará quando da sua partida. 
Do navio de madeira a meio fio, sem que ele olhe para trás, nem ao menos se despediu, só deixando na memória e no registro em papel um nome de gente do qual jamais saberá ou de pássaros que nela nunca sobrevoará ou de um são qualquer que ela jamais ouvirá falar.
Ingratidão. 
Um porto seguro ela seria e com um farol forte um viajante na noite escura ela guiaria.
Mas ficou ao seu revés.
Penso numa ilha onde o sol das manhãs quentes aqueceriam seus pés. 
O vento em seu ventre a cobrisse de serpentes para que em suas areias finas corressem sem viés. 
Onde o mar por brincadeira logo apagaria e o vento de novo nela desenharia.  
O mar e o vento brincariam com ela o tempo todo só por intenção de acalentar.
Um vestígio náufrago a cada tempo ela acolheria. Presente do vento e do mar. 
Dilaceraria ainda mais os restos do que foi inteiro. 
Recolhendo do vento e do mar como num devaneio até o pedaço se esfarelar.
E ela contínua e passiva, esperando a chegada de alguém. 
Que não seja ele um errante e que venha para ficar.
Assim me lembro da ilha solitária. Perdida e contida pelo vento e pelo mar.


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