04/09/2011

"Senhor Ladrão"


Anúncio encontrado na Internet - Não conheço a procedência.

Prometo sigilo absoluto, pois não desejo ser preso por receptação de produto roubado.
Seria o “La garantia soy jo” ?
Da faixa acima o que feriu minha atenção, além do anúncio em si, que, de maneira absurda, bem retrata a realidade fantástica que vivem as pessoas desse país chamado Brasil, foi a garantia proposta pelo resignado comerciante.  
Ele oferece ao leitor, entre eles, o algoz, supondo ainda que saiba ler, a compra dos produtos que eventualmente seriam abstraídos de sua loja, através de um acordo comercial sigiloso, por debaixo do pano. Um acordo na base do “vamos dar um jeitinho nisso, deixa comigo e tudo bem”. A coisa se instalou mesmo.
Muito educado ele se expressa com um português bastante razoável e nitidamente cansado de ser roubado apela para a comunicação direta, franca, buscando o alvo com eficiência, dirigindo-se ao público em geral, indiscriminadamente, sem rodeios. Portanto, sem discriminações. Ele, além de tudo, deseja estar politicamente correto e contemporâneo à hipocrisia estabelecida.

Todos são suspeitos até que se prove o contrário e em sendo assim propõe a criação de regras mais objetivas e consequentemente, mais estáveis para o seu negócio. Foi o que concluiu o míope comerciante.
É no mínimo patético viver numa terra onde todos se confundem. Honestos e não, caem num grande caldeirão e misturados transformam-se numa sopa azeda, onde os espertalhões certamente se colocam como tempero dando o sabor à canja. 


Não há um único dia em que não nos deparamos pelos jornais, rádios, TVs e Internet com reportagens sobre corrupção, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e outras falcatruas, onde não estejam envolvidos deputados, senadores, ministros e demais categorias de políticos.
São patéticas as tais Comissões de Justiça e Ética, CPIs e outras denominações promovidas por essas figuras exóticas e absolutamente descartáveis. Eles dão o tom indignado aos seus discursos em palanques e diante das câmeras e microfones a eles oferecidos gratuitamente (?) pela imprensa. Certos da atenção dos espectadores, falam como se não compactuassem com a ética, subversivamente, corporativista da classe, a mesma ética usada por traficantes, assassinos, estupradores e batedores de carteira. Seriam eles membros dessa outra classe também?
Assistimos resignados diariamente o show macabro dos micróbios que se tornaram o tempero da sopa azeda. Complacentes e levantando bandeiras de partidos políticos (vejo todos iguais, alguns um pouco mais iguais que outros), os elegemos a cada ano para o perpétuo controle do espetáculo medíocre da cena brasileira.
Aceitar ser confundido com um bandido nos faz, de certa forma, bandidos também. Aceitar a ideia com a argumentação da sobrevivência, do natural e do óbvio pelas circunstâncias, altera a percepção do transparente, deforma a visão.


Quando nos deparamos com anúncios escancaradamente transgressores como o visto acima, rimos das nossas próprias mazelas, da nossa condição de povo sem pátria, sem lei, sem nada. Assim admitindo nossa condição de colonizados, sem identidade, despersonalizados.


Quando elegemos corsários que se travestem de "homens públicos" e admitimos suas regras, as quais, aliás, não participamos diretamente, que não as julgamos e claramente mentirosas, unilaterais, acobertadas pelo discurso pseudo democráticas, nos travestimos de cidadãos. Vira um circo. É tudo uma grande mentira. Eles são todos iguais, absolutamente iguais. Todos, sem exceção.
Portanto, caro comerciante, não gaste a tinta e nem seu tempo comigo. Se você insistir com essas ideias, digo com todas as letras, vá se ferrar! Você e seu novo amigo ladrão. Se candidate, você se parece com um deles, sem pai identificado.





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