21/02/2015

Eu sou Voluntário! E você?

Imagem - Google
Estive na Rua Voluntários da Pátria em Santana, zona norte de São Paulo e acabei lembrando de outro time de voluntários: os da Copa. 
Parece assunto fora de tempo, não é? Mas a gente se lembra de coisas bem mais antigas que isso. Me diga que não! 
Para mim esses caras eram uma mistura de inocentes patriotas, radicais militantes-fundamentalistas e, principalmente, interesseiros afim de farra que encontraram uma oportunidade de estar perto de gente famosa. Em resumo, um bando de babacas.
Mas eles eram voluntários e por serem da categoria, cujo nome inspira confiança e respeito, prestamos a continência. Afinal, consideramos as centenas de voluntários e voluntárias de causas, vamos dizer, mais nobres. Esta bem que poderia ser uma.
Me perguntei: por onde andam os voluntários da Copa? Quem deles votou na Dilma e quem votou no Aécio? Existiriam nulos, brancos e justificados entre os voluntários de 2014? Ou seriam eles extra-terrestres?
Não fosse o decepcionante sete a um, de certo, vereadores engajados teriam propostos nomes para outros logradouros, homenageando a categoria pela coragem, desenvoltura, obstinação e dedicação de tempo de suas preciosas vidas imaculadas à causa pública.
Eu sou Voluntário da Copa e você?  
Como um: Doe ouro para o bem do Brasil!
Aqui no Belenzinho temos o Viaduto Guadalajara, uma enorme e grotesca construção que atravessa por sobre uma das avenidas mais movimentadas da região, a Radial Leste, sobre outras duas ruas bem mais tranquilas e ainda sobre as linhas do metrô e dos trens que vão para Mogi das Cruzes. 
Ganhou o nome de Guadalajara pela vereança engajada da época, numa homenagem ao povo da cidade mexicana do mesmo nome que acolhera de forma simpática o escrete canarinho do presidente Médici durante a Copa de 70. 
Dadá Maravilha estava lá a mando do próprio general. E ai daquele que não obedecesse o homem.

POIS É, EM 2015 AS COISAS SÃO BEM DIFERENTES 
Imagem - Google 
Em 1950 tomamos de dois a um do Uruguai jogando no maior estádio de futebol do mundo, construído com dinheiro público para a Copa daquele ano. Bem no coração da capital federal quando os mermãos nem haviam nascido. 
Até hoje lembramos do episódio como uma tragédia nacional, como tivéssemos perdido (se é que ganhamos) a guerra do Paraguai, apanhando em campo de dois a um do singelo Uruguai. 
Tipo uma bomba atômica lançada por um Enola Gay paraguaio-chinês-uruguaio, aniquilando com um único tiro, milhões de brasileiros. O país ficou sem entender nada. 
Maracanaço, chamaram o silêncio das duzentas mil pessoas que lotavam o magnífico estádio.
Os sete a um levados da Alemanha em 2014, no entanto, a turma levou de boa, virou gozação. Algumas crianças choraram, mas logo passou. 
Na ocasião os estádios ficaram "prontos" em cima da hora e foram construídos para o grande evento a custos no mínimo "diferenciados", a partir de empréstimos públicos a serem reembolsados sabe-se lá quando e de que forma. 
A festa foi organizada por um trio mais que voluntarioso, Fifa, CBF e Governo do Brasil. Parabéns!
Mas não deu, perdemos em casa mais uma vez. Enchemos a cara e meses depois reelegemos a presidenta e logo depois vibramos com a escola vitoriosa que homenageou a ditadura amiga do ex-presidento.
O governo patrocinador da Copa sumiu, os oposicionistas malacos, estranhamente, nem deram as caras. Empreiteiras e políticos, claro, levaram parte da bolada e a CBF e a FIFA quase todo o confeito. 
Não sobrou vestígio da radiação pois não houve explosão alguma, os átomos se mantiveram íntegros para alegria da voluntariosa militância.
Esquecemos rápido, nós terráqueos, talvez porque a coisa hoje esteja tão mais complicada que nem valeria a pena ficar remoendo picuinhas. Perdendo tempo com futebol, quando que diariamente aparecem escândalos muito maiores. Que bobagem!
Erramos todos com o "Imagina na Copa", não foi? Feio, né?
Séculos separam o mês de julho para cá, então por que lembrar dessas bobagens?   
Soube que os voluntários da pátria de 1860 da guerra do Paraguai não eram tão voluntários assim. Em suas fileiras via-se em boa parte, escravos e bêbados capturados nas noites quentes de Paquetá que amanheciam com uma bela espingarda nas mãos. 
Tome tonto!
A história é fantástica, ela mostra o quanto o povão é enrolado quando os governos precisam dele.
Gostaria de viver num país onde não precisasse ficar ironizando atitudes patrióticas. Nascido e criado aqui, adoraria pendurar uma bandeirinha verde-amarela na porta de casa. Por orgulho, por satisfação. Por honra. 
Não dá. Nem pensar ser um voluntário da pátria que pariu nenhuma. Ainda mais por aqui que está cheio de adoradores de grana e de poder. 
Cambada de Voluntários da Copa do 4˚ Reich.

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