21/08/2013

Felizes para sempre em outro lugar.

Clodoaldo nunca pensou que aos sessenta e cinco anos pudesse se envolver com uma mulher, se é que se pode dizer de Clarice, com dezoito, fosse uma na plenitude. Perto dele, ela passaria por uma neta ou bisneta, comentavam os próximos e os estranhos. Antes fosse, seu coração depois de duas safenas não pulsaria tão desordenado. 

Ele, aposentado de alto cargo pelo Banco do Brasil, com uma  poupança gorda na Caixa Econômica Federal, inúmeros imóveis alugados, uma fazenda com plantação de tomates em Goiás lhe garantiam uma boa renda. 

Ela estudante de primeiro semestre em Jornalismo na PUC, prometia futuro brilhante, como dizia a tia. Gostava de chicletes, hamburguer, salto alto e celular com capinha da bandeira da Grã Bretanha, mas era bonita, sensível e muito estudiosa. 

Tampouco haveria explicação pelo encantamento dela por ele. Os dois se apaixonaram e se envolveram até as últimas consequências. Nem família, nem vida pregressa de ambos inibiu o desejo da união. Se sentiam em unha e carne até o pescoço. 

Para se conhecerem quis o destino ou o que o seja, colocá-los num pronto-socorro municipal, depois de arremessados por um ônibus que trafegava desgovernado em rua de baixa velocidade. 

A mesma fatalidade impediu que se machucassem a ponto de internação compulsória. No mesmo dia, na mesma tarde tiveram alta. Incrivelmente um único pedaço de esparadrapo cobria o leve ferimento na testa de cada um deles, ambos do mesmo lado, o esquerdo. 

Da rua para o pronto-socorro e do PS para uma lanchonete próxima. Em poucas horas se tornaram amigos e em dias, amantes perdidamente apaixonados. 

Para desgosto de muitos, Clodoaldo e Clarice se casaram seis meses depois e foram felizes para sempre. Até o dia, dois anos após a união, quando nela o médico diagnosticou um câncer. Um desses sem cura, provavelmente desenvolvido pela ansiedade dos últimos tempos. Não mais que três meses de vida ele deu a ela e nem todo o dinheiro do marido apaixonado pôde reverter a situação. Clarice morreu no tempo previsto e um ano depois, Clodoaldo foi encontrado sem vida em seu apartamento. Foi-se por tristeza e solidão. 

Dizem alguns que eles seguiram felizes para sempre em outro lugar. Um lugar bem longe daqui. Um paraíso onde não há preconceitos de qualquer natureza, só união.

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