18/01/2013

Os meus ascos

Resolvi fazer uma relação de tudo aquilo que sinto asco. Não um asco comum daqueles do cotidiano, mas um asco de tamanha profundidade que dói na alma. Seria uma tentativa de rever minha impressão sobre eles ou compreende-los melhor e quem sabe desfazer minha percepção da sua natureza. Uma tentativa individual de alguma uma explicação.
Falo do asco de coisas cujas existências não fazem sentido algum e que me levam a acreditar que são provas inequívocas da existência do demônio. Como a existência das baratas, por exemplo. Nunca aceitei a ideia de serventia delas de tão repugnantes que são.
Excluí da minha relação tipos de temperamentos das pessoas, afinal, contraditoriamente, apesar de sermos iguais, somos diferentes uns dos outros. Uns são mais brutos e carregam diferentes níveis de brutalidade e outros são mais serenos, mas também estão em níveis diferentes.
Venho exercitando a tolerância de uns tempos para cá, porém está cada vez mais difícil mante-las no primeiro plano das ideias. É tiro pra tudo quanto é lado. Mas ainda continuo firme nessa linha.
Descartei os pecados capitais do cristianismo - luxuria, gula, avareza, ira, soberba, vaidade e preguiça. Como também exclui da minha lista os novos mandamentos do Vaticano diante da globalização que foram proferidos e determinados aos fiéis em 2008. São eles: experimentos dúbios com células tronco, uso de drogas, poluição do meio ambiente, agravamento da injustiça social, riqueza excessiva e violações bioéticas como controle de natalidade. Treze pecados ao todo.
Os capitais são mais de linhas comportamentais de convívio, óbvios e, principalmente os novos, poderiam ser discutidos, considerando-se o contexto na adoção de cada um deles. A discussão se prolongaria e minha relação não quer tratar disso.
Eliminei os conflitos das nuâncias psicológicas, pois as variantes são tantas que jamais poderia alinhá-las. Cito um conflito como exemplo: pessoa constantemente indecisa. Aborrece, confunde e atrapalha, mas não chega a ser asqueroso.
Incluiria um décimo quarto pecado capital, mas pensei bem e desisti. Seria o da imbecilidade, em vista do crescente número de adeptos com esse perfil nos últimos anos. Um imbecil é mais que um irracional, ele não pensa, embora seja dotado de inteligência. É certo que não tem. Pode ter cérebro, ele fala, canta e dança, tem pai e mãe, mas não é abstrato é concreto. Se diz dele um Maria vai com as outras. A vida de um imbecil esconde-se a um sem número de frustrações, muito além dos normais e ele acaba infringindo os treze pecados capitais de uma só vez. Então a imbecilidade, não sendo um pecado capital único, resta ser coisa do capeta.
Nunca compreendi a razão de Deus, na sua supremacia, sendo o criador do céu e da terra, ter, maquiavelicamente criado as baratas e os imbecis. Ele não cometeria tamanha safadeza com tanta gente, seria insensato por demais dar vida a um inseto peçonhento ou a um idiota para exclusivamente infernizar a vida de filhos queridos, criados à sua própria imagem. Nenhum de nós, em sã consciência, faria isso com qualquer um de nossos filhos. Eu acho.
Os bem intencionados, quase imaculados, dizem que o mal foi colocado diante de nós por Deus, para se contrapor ao bem, assim dando-nos chances de exercermos o livre arbítrio. O bem e o mal estariam emparelhados lado a lado disputando o nosso espírito. O caminho para um ou outro estaria à nossa disposição. Faz sentido, mas alguma coisa ainda não colou.
Pra mim, entre os mais malignos, estão as baratas. O dilema do mato-ou-não-mato surge confundindo o meu espírito quando uma delas aparece do nada. Matar seria tirar a vida dada por Deus, não matá-la estimularia sua proliferação com todo o mal decorrente da sua perniciosa existência.
Teria Ele pensado um dia, no oitavo dia talvez, enquanto descansava: crio a barata, dou a ela muitas patinhas asquerosas e asas para que possa voar; dou um corpo gosmento que somente ela mesma suportará enxergar-se; acrescento um verniz natural em sua carcaça pegajosa; recheio ela de índole traiçoeira, aspecto nojento para assim provocar o sossego do incauto; depois crio o homem e o doto de inteligência perspicaz e este, guiado pelo instinto de sobrevivência que também deixarei impregnado em suas vísceras, inventará, no futuro, um produto químico do mais eficiente, um inseticida mortal para que com ele possa desferir o aniquilamento total do horrível ser dos esgotos, seria minha obra derradeira. E ainda faço com que elas se multipliquem aos cântaros, muito mais que ratos e cobras e dessa forma a quantidade de veneno que precisarão produzir para a baraticina, acumulará gases invisíveis cuja abundância implicará na degradação da camada de ozônio, um protetor solar para vida na terra dos raios ultra violetas corringindo um erro que cometi quando criei a luz, a do Sol, a estrela de quinta grandeza que coloquei no infinito do meu firmamento.
Diabólico demais na minha cabeça. Não imagino Deus pensando coisas dessa natureza. Não, não acredito, me nego a acreditar que Ele faria uma coisa desse tipo com a gente em prol do livre arbítrio. Pra mim, definitivamente, não foi Deus o culpado dessas mazelas todas.
Acredito piamente que tenha sido o demo, o satanás, a besta, o 666 quem deu vida às baratas, aos corruptos e aos imbecis. Reforço que barata é uma coisa, corrupto é outra e imbecil outra ainda. São iguais no princípio, mas diferentes na composição. E corrupção não pode ser confundida com ganância, esta levaria a um dos pecados capitais, a avareza. Corrupto é um ser perverso na plenitude, totalmente do mal, é a forma de encarnação que  o diabo melhor se adapta. Uma canetada, um telefonema, uma troca de emails de um corrupto, aniquila mais vidas que as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki juntas aniquilaram no final da segunda guerra mundial. Os corruptos são fantasmas vivos, zumbis que estão cada vez mais presentes entre os humanos. Proliferam-se como baratas.
Aliás, graças a Deus me dei conta que minha relação de coisas que sinto profundo asco não é tão grande como pensava de início. Vejo que a questão está direcionada mais para a proliferação de cada uma dessas espécies.
Demônio, satanás, besta, 666, seja lá qual for seu nome, você que é imortal como Deus, vai se catar  nas profundezas do inferno, seu lazarento filho de pai desconhecido. Vem me pegar se você é homem, seu filho sem mãe.
Deus, dei uma força pra você agora, heim! Ajuda aí, pô. Dá uma ideia legal para exterminação definitiva desses meus três temores.
Se não for possível tudo de uma vez eu entendo, mas gostaria de deixar a sugestão para a pulverização em etapas e poderia ser na seguinte ordem: o corrupto de toda espécie em primeiríssimo lugar, incontestável, sem exceção, sem perdão, sem nada; a barata peçonhenta, absolutamente nojenta, logo em seguida e para o final deixe o imbecil.  Peço que dê uma chance a esse último, pois acredito ser provável que, sem os dois primeiros, com o tempo, ele possa se recuperar. Além do que penso ser mais fácil pra você identificá-los do que eu, pois o imbecil tem caráter camaleônico, ele se apresenta de várias formas e cores e se esconde geralmente atrás de qualquer bandeira.
Obrigado.
Concluo, portanto, minha relação de ascos dos mais asquerosos que tenho e fico feliz por chegar a três ítens somente. Puxa! Segue a lista: o corrupto, a barata e o imbecil.

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