21/03/2015

A vida na periferia: Das mentiras de Ari

Um pequeno conto dedicado ao pensamento. Pela hipocrisia que roubou a alegria do nosso tempo.
Mesmo maculada, Rosalina não se entregou. 
Imagem do blogueiro intrépido
Pela primeira vez em trinta e oito anos de vida e com um casamento de vinte, agora desfeito, ela decidiu procurar um emprego para ter-se de conta própria. 
Menina, os pais sequer suportariam ver a única filha trabalhando por um salário digno: Isso é coisa de pai. 
Bonequinha de luxo jamais precisaria dessas coisas.
O estudo até o clássico bastaria, pois um casamento mais que perfeito, num modelo de futuro do pretérito imperfeito a aguardaria. 
No altar do padre Antonio, sisudo estaria.
O marido escolhido era filho de deputado e engenheiro. Boa pinta e partidão. Nunca teve lambreta. 
Um conto de fadas.
Três filhos procriaram: o mais velho, um menino cabeçudo e orelhudo, nitidamente de pensamento obtuso que todos diziam ter herdado o talento do avô paterno. 
Nasceu para ser político. 
Seguido por duas irmãs de olhos azuis que bem poderiam ter sido gêmeas idênticas, tamanha a semelhança nos semblantes, não fosse o intervalo de quase um ano. 
A avó, mãe do pai, as fez do-lar.
Depois, tudo acabou. Não deu certo, ela terminou. Não suportava mais um segundo das mentiras de Ari. Não teve estômago para insistir, deixou ele para as amantes e para o inferno a sociedade que os criou.
Chega dos pais, chega do casamento, chega da sogra, chega das cunhadas! Chega de tudo, chega, chega e chega! 
Explodam-se! Rosalina decretou. 
Encontrou a paz. Foi procurar a felicidade na periferia como caixa de supermercado à noite pra dormir de dia. 
Salve, Rosalina! Salve, Jorge! Salve, minha Nossa Senhora da Cruz Alta, Salve, campeão dos campeões! Salve-se quem puder. O último apague a luz do aeroporto, pois a coisa está verde-musgo. 
Ia dizer que estava preta, mas de certo, os neo-vigilantes da moralidade iriam falar que eu seria um racista irracional. Então, ponto final. 


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