Não sei de onde sai tanta bobagem, mas de vez em quando me pego escrevendo compulsivamente, incontrolavelmente, abusivamente, que nem me lembro como e quando comecei. Só me deixo levar nessas horas, escrevo sem me prender a nada e exatamente o que me vem à cabeça. Sem censuras, sem nada.
Gosto de contos e através deles coloco algumas ideias e bem ou mal eles acabam saindo.Pra quem tiver paciência, confesso que acho que eu mesmo não a teria, segue mais um deles. Ao menos guarde para ler mais tarde.
O CONTO QUE EU CONTO
por Romeu Paris
O local foi definido para o Restaurante Fuji-Katawa que fica na esquina da Avenida 11 de Agosto com a Rua Joaquim Pinto de Macedo na Penha, zona leste de São Paulo.
Por que lá? Porque foi sob a marquise do prédio que abriga este restaurante onde eles se conheceram três anos antes.
O local pareceu aos dois uma zona neutra e assim pudessem esclarecer dúvidas de forma natural.
Ele um homem de meia idade e ela uma estudante de zootecnia.
Depois de alguns olhares e sorrisos fortuitos se apresentaram e deram início a uma conversa que durou mais de uma hora. Parecia um encontro de velhos amigos tamanha a afinidade que despertou entre os dois.
Tempos depois reconheceram o intenso magnetismo que os prendeu, desde o primeiro instante quando se viram. Coisa inexplicável para quem busca razão em tudo. Não tente.
Explico novamente.
Eles na verdade nunca foram namorados e nem se quer cogitavam qualquer coisa desse tipo, pelo menos da forma convencional, um namoro clássico como conhecemos.
Consideravam-se bons amigos. Se diziam verdadeiros amigos, se protegiam de maior aproximação convencendo-se de que eram amigos de verdade, nada mais.
Tornaram-se confidentes, cada vez mais um confiava no outro. Jamais trocaram abraços nos encontros diários lá no ponto do ônibus. No máximo se cumprimentavam e se despediam com beijinhos no rosto ou com apertos de mãos dos mais comuns. Escondiam sim, sem dúvida, olhares intensos que ameaçavam seus segredos inconfessáveis.
De vez em quando, por duas ou três vezes, combinaram almoços, aliás, nesse mesmo restaurante. Afinal, que mal tem? Amigos também almoçam juntos.
Trocavam emails e mensagens pelo celular ou eventualmente conversavam por telefone, uma ou outra vez, inclusive, nos finais de semana. Esses carregavam palavras de carinho de forma, pode-se dizer, codificada, atrás de cada frase, de cada palavra havia sempre muita ternura.
Curtiam-se muito e nem compreendiam a razão para tanta curtição. Confundiam-se às vezes no afeto, ficavam constrangidos.
Talvez já escondessem de si mesmos sentimentos que lhes pareciam totalmente inconvenientes. O que o mundo iria dizer? Isso seria loucura!
Embora não tivessem trocado uma única palavra durante o tempo em que estiveram distantes, período que durou pouco mais de dois anos, mantiveram-se conectados no pensamento, somente eles sabiam disso e por um fio tênue, frágil como uma linha de algodão, ligados pela rede social. Não se atreveram depois da separação a bloquear a amizade virtual. Esse cordão precisava ser mantido.
A atração que sentiram um pelo outro realmente não tinha explicação, pareceu eterna, beirando a transgressão da ordem natural. Não havia lógica.
Juliano sempre foi um sujeito criativo, mas para as questões inexplicáveis, nitidamente, revelava-se um zero a esquerda. Ele sempre foi assim.
Depois de cinco dias de notar que foi cutucada por Juliano, Fabiana finalmente tomou coragem e num ímpeto de despojo do orgulho ferido e da mágoa guardada pela sensação de abandono de dois anos antes, respondeu cutucando Juliano.
A resposta não foi imediata como ele esperava. Juliano pensou que teria abusado do relaxamento de Fabiana. Ela não se conteve, ruborizou, praguejou, lacrimejou e até se perguntou do porquê do mal-caráter ter procurado ela depois de tanto tempo. O que ele está querendo comigo agora? Canalha, covarde, filho da puta!
Contudo, duas semanas depois, com o mesmo despojo de antes, somado a uma boa dose de coragem e resignação, ela respondeu e enviou um OI a ele.
Por hora, torço por eles. E você?
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