10/03/2012

Sorria, você está sendo filmado.


Sorria, você está sendo filmado.
Sorriam, nós estamos sendo filmados. E pior, sem nosso consentimento, o tempo todo e em todos os lugares. 
Portanto, meu amigo, cuidado, muito cuidado.   
Mantenha o sorriso no rosto e não demonstre preocupação. Siga em frente.


Cidadão ou cidadã, você pagou o IPTU e IPVA este ano? Não esqueceu as cartinhas acinzentadas na caixa do correio de sua casa, não é?
De certo sobrou também o resultado do excesso de euforia do final do ano, a gente acaba comprando coisas que nos empurram e depois nem lembramos direito o que foi e os cartões de crédito explodem e, invariavelmente, os pagamentos em três parcelas alcançam o mês de março e quem sabe, abril também. Uma vez liquidada a fatura, lá vamos nós para outra empreitada, isso não para nunca e assim vamos.
Vira e mexe vou a alguma empresa para uma visita técnica e na recepção, as mocinhas com seus penteados esquisitos, uniformizadas geralmente em azul escuro e com sorriso de Monalisa arrependida me dizem para me posicionar para a foto do cadastramento, isso depois de pedirem meu documento e terem feito alguma coisa com ele. Reparo sempre o olhar delas quando digitam o formulário pelo computador, concentradas, elas nem piscam e o sorriso desaparece levando junto por alguns instantes, a simpatia.
Fico pensando o que fazem com a foto. Para onde vão essas informações, o número do meu CPF, do RG e a foto que  nos roubam de surpresa. Aliás nunca me deixam ver como sai, nem me dão tempo para arrumar o cabelo ou colocar um sorriso no rosto. Ajeitam a minúscula câmera e rapidamente fotografam.
Quando vejo na minha caixa postal de emails nomes de empresas e pessoas que nunca ouvi falar na vida me oferecendo algum produto, me vem à mente essas situações.


Nada escapa nesse ponto.
Levei um susto recentemente quando fazia uma reclamação pelo telefone com uma atendente da NET. Depois de vários minutos esperando na linha e, claro, de ter atravessado a sequência dos "se" - aperte 1, aperte 2 e por ai vai até o aperte o 9 ou aguarde o nosso atendente, ouvindo ainda a música hipnotizadora que irrita e que dá sono ao mesmo tempo, uma voz de repetente  surge dizendo o seu nome, que, aliás, mal compreendi. O som eletrônico da música confundiu-se com a voz humana. Depois de algumas tentativas explicando o que eu queria e não sendo compreendido, ela me fez esperar mais um pouco e seguiram-se as interrupções. Isso levou cerca de dez minutos. Mudas, caladas, dava a impressão de que a linha tinha caído. Do nada ouvia de tempo em tempo - mais um instante por gentileza estou atualizando os seus dados, me pedindo um monte de informações pessoais. Tudo em nome da segurança.
O susto foi quando ela me disse o modelo da minha TV, a principal lá de casa. Não me lembro de ter passado essa informação a ela ou alguém mais da NET. De certo, o técnico quando fez a instalação me dedurou, isto é, me cadastrou como usuário do modelo tal, da marca tal em HD. Acredito até que saibam onde comprei e quanto paguei.


Dezeseis câmeras num espaço tão pequeno
Consultas nos cartões de crédito são terríveis. Os atendentes invadem nossa privacidade da forma mais natural. Querem saber o nome do pai, da mãe, da rua, dos vários números de documentos, se moramos em casa ou apartamento. Querem saber tudo com a justificativa aparentemente legal de segurança.
Da mesma forma os acessos nas contas bancárias pela internet são excessivamente codificados, quando me surpreendo com a capacidade de guardarmos tantas senhas e contra senhas.
Nessas horas lembro sempre de uma série antiga da TV, O Agente 86, que satirizava os filmes do agente secreto 007, os menos jovens irão se lembrar do simpático, Maxwell Smart e sua namorada, também agente secreta, 99. Ele para conversar com o seu chefe, lançava mão de senhas das mais ridículas e sempre sob o cone do silêncio. Eram do tipo: o abacate amadureceu antes do tempo, mas não caiu; o elefante marrom esqueceu a tromba em algum lugar e agora não sabe como pegar o amendoim.


Com números e letras a coisa é mais ou menos assim, engraçada e sem sentido e quanto mais sem sentido, melhor a avaliação - a ordem e a sequência só a gente conhece (será?) e as digitamos  nas janelinhas destacadas na tela de serviço, saindo tudo da nossa memória, pois não podemos escreve-las em lugar algum, em nome da segurança.


Radares nas avenidas me cobram multas por não ter respeitado o dia e horário proibido para o meu carro ou porque excedi um pouco a velocidade permitida na via que seria pública.
No Google hearth vi a foto do meu carro bem em frente à minha casa, aliás, passeei por ele localizando as ruas vizinhas de casa, reconhecendo meus vizinhos que saíram deformados nas fotos que foram enviadas posteriormente ao satélite.


É, com tantas senhas e tantas câmeras a meu redor, me sinto mais do que vigiado. Seria protegido? Além de Deus que me criou, tem um monte de gente que sabe tudo o que faço e por onde ando e cada vez mais vigiamos uns aos outros. Os que nos vigiam são vigiados por alguém também. 


Acho que vou abrir uma empresa de câmeras de monitoramento, o negócio parece promissor. Imaginem daqui há dez anos como estaremos.

Nos vigiam e nem damos conta. As câmeras se incorporaram na arquitetura urbana.


Os vigilantes vigiam e são vigiados. Tudo ao mesmo tempo.


Não é certo dizer "Sorria você está sendo filmado".
O correto seria "Sorria você está sendo televisionado", pois não se usa filmes nessas câmeras, elas são eletrônicas e digitais nesse admirável mundo velho.



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