15/01/2012

Que diabo é isso?

Seu Aristides não se conforma. De tanto que os amigos lhe encheram o saco, trocou sua velha máquina de escrever por um computador, desses que chamam de lap top, todo moderninho. Disseram a ele que com o novo equipamento poderia trabalhar de forma mais rápida. E os documentos do escritório de contabilidade, seu primeiro e único emprego, desde os tempos em que seu pai lhe ensinou o ofício, ficariam mais adequados e melhor arquivados. A nova máquina ofereceria uma infinidade de modelos de letras, tamanhos, cores e outros tantos recursos. Além disso, não precisaria mais do papel carbono, as malditas folhas meio plastificadas com tinta preta estampada no verso que lhe sujavam as mãos e difíceis de serem encontradas nas papelarias - somente por encomenda. Com uma impressora que deveria também ser adquirida, faria quantas cópias quisesse. E melhor, cópias coloridas, se precisasse. Bastaria, depois de tudo pronto, apertar um botãozinho chamado print e elas sairiam como num passe de mágica, na quantidade necessária.
Além disso tudo, o computador conectado a um negócio chamado Internet, os documentos seriam enviados aos clientes numa velocidade muito mais rápida que um carteiro ou que um motoboy. Para tanto deveria criar um email - Isso é fundamental, lhe disseram. Ainda precisaria ter a Banda Larga, nome horrível, ele pensava. Sem ela a velocidade não seria tão rápida assim. 
Com isso tudo em mãos, lhe sobraria mais tempo para tomar a cachacinha no Bar do Tadeu e jogar conversa fora com os amigos e ainda teria oportunidade para outras coisas mais divertidas. Fazia tempo que seu Aristides não tinha na vida outra coisa se não, trabalhar. Seus dedos já meio trêmulos, encontravam dificuldades com as teclas pesadas da antiga e persistente Remington. De fato convenceu-se e decidido foi até a loja para a compra. Carregou no bolso o anúncio do jornal com a boa oferta - em 12 parcelas iguais e sem juros.

Enfim, em casa onde é também seu escritório, com duas ou três caixas na mão, pôs-se a revirar os volumes mostrando com orgulho a maravilha adquirida, escondendo certa insegurança à sua esposa, dona Esperança. Esta, pouco entendeu do que se tratava e perguntava pra que serviria aquilo tudo.
Abertas as caixas, Seu Aristides olhou para ele instigado - o lindo computador preto todo brilhoso. Sentiu o peso nas mãos e comparou imediatamente ao da máquina de escrever. Levantou a tampa da tela com a curiosidade de um macaco. Observava daqui, dali e não tinha a menor ideia de como começar fazer aquele treco funcionar. Como se liga esse troço? 
Achou estranho não ter uma alavanca do lado esquerdo para rodar a folha. Deveria estar escondida, pensou. Por onde se enfiam os papéis? perguntava a si próprio duvidando ainda da eficiência anunciada. 
Claro que aquele punhado de livrinhos e os trecos metalizados que mais pareciam disquinhos de músicas, embrulhados em envelopes plásticos com um durex diferente, cheios de recomendações e escritos em línguas estranhas - deveria ser, inglês, espanhol, japonês, além do português é claro, poderiam ajudá-lo. Leu todos com atenção, levou dois dias fazendo isso. Entretido, irritado, não compreendendo quase nada do que lia.
Já no terceiro dia de estudo profundo, aborrecido com as tentativas e os insucessos, bastante desgostoso com a traquitana dos infernos, o seu neto, Arizinho, de 14 anos veio ao seu socorro. O garoto, craque nessas coisas, acabou fazendo todo o serviço. Deu as primeiras lições ao avô, ligou o computador, conectou a Internet, fez as configurações necessárias, instalou a impressora e criou um primeiro email para o avô. A seu pedido ficou assim:

aristidesdesouzaesilva@escritoriodecontabilidade.com.br

Desativado este, posteriormente criou um outro: ari@ec.com

Quem diria heim! Seu Aristides fica agora mais no Bar do Tadeu do que no próprio escritório. De lá, posta até em seu Blog.

Para os clientes ele encerra os emails com um Att e para Dona Esperança, que também aderiu ao Facebook, ele envia do bar, torpedos com sorrisos e piscadinhas:  ;)


Ela responde aos cortejos do seu amado Ari com singelos: :)



Bom dia!

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem vindo a modernidade Sr. Aristides!
Como escutei um dia: "O computador veio pra resolver todos os problemas que não tínhamos antes dele existir." Será? Fica a dúvida...
;?