25/01/2012

O tempo está do seu lado

O tempo está do meu lado. Marquei essa frase ouvindo pela manhã, uma antiga música dos jurássicos, Rolling Stones - Time is on my side. Uma balada boba de letra melosa, onde o rapaz dizia para a garota que poderia partir, se era isso que ela pretendia, mas que seria questão de tempo para ela voltar aos seus braços, pois ela perceberia que somente com ele encontraria o verdadeiro amor e ele estaria ali esperando por ela, pois o tempo estava ao seu lado.
Letras assim foram escritas e cantadas pelo menos centenas de milhares de vezes. São muito comuns os apelos apaixonados dos abandonados.
A música não faz jus à fama da banda mais antiga do rock and roll. Antes eram o contra-ponto de tudo, agora os britânicos são senhores bem comportados, empresários bem sucedidos do mundo dos shows. Mantém estrategicamente algum exagero no modo de se vestirem, um o outro envolvimento com drogas, nada de escândalos e muito distantes do que foram um dia. O marketing os mantém - desalinhadamente alinhados.

A frase fora desse contexto me pareceu mais interessante, fiquei só com ela - O tempo está do meu lado. O tempo está do meu lado. O tempo está do meu lado. Do meu lado está o tempo.  Lado a lado estamos eu e o tempo. Eu e o tempo estamos um ao lado do outro. Do lado do tempo estou eu. 
Poderia ser a tempo, mas o substantivo exige um artigo no masculino, portando, eu ao lado dele
Me senti importante como amigo do tempo e um pateta brincando com as palavras como fazia habilmente, Carlos Drummond de Andrade. Ele com competência poética e domínio da língua portuguesa e eu na cola, só por admirá-lo.
Como hoje é feriado aqui em São Paulo - aniversário da cidade, comemoramos os seus 458 anos - ela tem quatrocentos anos a mais que eu e estou de folga. Isto é, meia folga, a tarde tenho um compromisso de trabalho em Itaquaquecetuba, uns vinte quilômetros daqui e lá, não sendo feriado, agendaram uma reunião. Deviam comemorar os 458 anos de São Paulo no Brasil inteiro.
Nessa meia folga pude, então, soltar o pensamento quebrando a maledeta rotina. Da enorme janela de casa, aberta para entrar o ar fresco, vi a rua vazia. Poucos carros circulando e nenhuma alma viva subindo ou descendo às pressas como de costume. Tudo parado como se fosse um domingo de manhã, antes da chegada dos evangélicos que insistem em me converter ou dos pedintes que insistem na esmola. No lugar deles faria a mesma coisa.
Os primeiros raios de sol anunciavam um dia quente pela frente e por estarmos em janeiro, seria possível uma chuva forte à tarde. A cidade é grande e pode chover aqui e no bairro vizinho nem ameaçar. Tentei pensar em outras coisas, mas o tempo que estava do meu lado não me deixava. 
Me veio um mundo de lembranças, todas fragmentadas, desordenadas,  e fora de sequência. Boas, más e as sem importância. Também na minha idade é natural que se acumule  lembranças, não fosse assim estaria eu doente. Lembrar é bom, desde que sejam lembranças verdadeiras, não editadas a nosso favor, fantasiosas ou dramáticas em excesso, pois nem sempre somos anjos e muito menos demônios. Os jovens compreenderão melhor o que é isso quando o tempo bater às suas portas.
Pois é, o tempo sempre esteve ao meu lado, não havia me dado conta disso até então. Convivo com ele e sempre que preciso ele me atende com a serenidade de praxe. Me pede unicamente um tempo. Me fala baixinho ao pé do ouvido sem ninguém nos ouvindo - Calma, dê tempo à mim, te prometo que tudo se acertará, de uma forma ou de outra vai conseguir o que pretende - acredite.

Caro amigo ou amiga, há de se acreditar no tempo. Ele existe e está sempre ao nosso lado. Tempo passado e tempo presente. O tempo futuro vai nascendo a cada segundo, na medida em que ganhamos cada segundo em nossas vida.


Parabéns São Paulo, apesar de maluca, confusa e absolutamente deselegante, você é acolhedora, delicada e forte. Você é como uma mãe que briga com o filho, mas, jamais deixa de devolver carinho e paciência a ele. Você convive bem com o tempo.


Que tenha muitos segundos pela frente.




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