01/03/2014

Máquina dos Sonhos

Ando propenso a acreditar mais na eficiência das máquinas do que na dos homens. 

Pensei em cientistas do bem inventando uma traquitana que identificasse com um simples toque do polegar o candidato a político que fosse realmente honesto. 
Um do tipo que não mudaria de opinião e nem de postura logo após eleito. Daquele que não nos trouxesse surpresas com composições absurdas, pagamentos de campanhas ou coisas assim.

Doce sonho, mas vale insistir.

Seria uma maquineta simples, pequena, robusta, de fibra de carbono, sem cor, para que pudesse ser levada de um lado para outro sem grandes dificuldades e quando acionada, ao identificar um candidato honesto, ela soaria um alarme tão alto, mas tão alto que bem lembraria um apito de fábrica das antigas. 
Piscaria uma luz verde e tocaria pra todo mundo ouvir: 

Aleluia... Aleluia... Alelulia... Aleluia... Aleeeluuuiaaa!!! 

Papeis laminados prateados cairiam do céu, uma chuva de confete e serpentina para todos os lados e o mundo aplaudiria feliz.

De contra partida se o candidato fosse do tipo ordinário, seria eletrocutado com uma carga de 13 mil volts que o torraria até as vísceras e seus restos mortais carbonizados seriam lançados na fornalha da metalúrgica mais próxima para que o que restasse daquele corpo gordo feito sapo velho se transformasse numa chapa de aço para ser utilizada pelas montadoras de São Bernardo do Campo e ainda de sobra o sujeito não teria direito à missa de sétimo dia.

A máquina seria uma verdadeira revolução. Mudaria a história da humanidade, mais ainda da humanidade brasileira e possivelmente ela seria a salvação e a perpetuação da espécie no planeta. Nem precisaríamos mais de horários políticos gratuitos e nem da Hora do Brasil.

O duro é imaginar onde ela seria guardada entre uma eleição e outra.

Em Brasília, sai um e entra outro, são sempre 19 horas.

12/02/2014

Da série Intolerâncias - Travestis, Neo-Nazistas, Sininho e a Gonorréia.

Alguém apoia a ação desses idiotas chamados Black Blocks?  Os neo-travecos.
O pomposo nome bretão não combina com a indefinição ideológica de um grupo que ao menos poderia alinhar-se às ideias socialistas, capitalistas, comunistas, anarquistas, cubistas, feministas, castristas, ciclistas, mediunísticas, escravistas, partidaristas, sei lá o que, qualquer coisa, desde que empunhe uma bandeira. Um bando de babacas que tem nome que lembra nome de banda punk dos sem-graça anos oitenta. Bundões.
(Me tornei um velho ranheta) 

(?) Alguém contesta a necessidade de uma ação enérgica por parte da sociedade, melhor, uma ação muito enérgica, extremamente enérgica, para acabar, aniquilar, extinguir, dizimar, pulverizar qualquer vestígio de vida dessas deformações moribundas, distúrbios genéticos do DNA humano, aberrações mutantes do equilíbrio, molambentos que perambulam sem direção pelas cidades do Brasil, escondendo os rostos como covardes, sem mãe e sem pai, destruindo tudo que veem pela frente em nome de não se sabe o que?  
(Põe ranheta nisso) 
Sem hipocrisias, sejamos francos: (eu, comigo mesmo...) (?) quem não os queria ver triturados, misturados ao cimento, areia, água e pedras em uma betoneira do tipo da Concremix, dessas que foram super faturadas nas obras dos estádios de futebol da Copa da FIFA? 
Seria Blater um zumbi-nazista também, um black block de terno e gravata?
Dizem que sangue de bandido dá uma liga no concreto, e s p e t a c u l a r. 
Outra. Me chamou a atenção a arrogância da Sininho, nome artístico da "ativista" Elisa Quadros, a jovem de classe média que tem rostinho de quem comeu muito sucrilhos quando criança, a jovem que se preocupou se o garotinho tatuado, o traficante de rojões, iria sofrer torturas na delegacia. Sininho, acredite, ele será bem tratado. Será a bonequinha lá em Bangu 1, 2 ou 3. Fique tranquila, ele (a) vai fazer muito sucesso, será disputado (a) e bem cotado (a) por lá. 
A Sininho poderia ir para a betoneira também, junto com quem defende os black bostas. 
Isso me faz pensar que a espécie humana está diante de um dilema, em uma encruzilhada: ou melhora já, evolui de verdade, agora ou é certo que em pouco tempo será extinta da face da terra, de vez. Com Copa do Mundo, black blocks, sininhos, bonequinhas ou sem nada disso.

Bons tempos quando a gonorréia era o máximo dos temores. 
 Lembranças de um velho ranheta.

15/01/2014

Lapsos - Sala de Espera

Não saberia dizer se era meio dia ou meia noite, seis da manhã ou seis da tarde. Nem se chovia lá fora ou mesmo se me encontrava do lado de dentro de algum lugar. Nada sabia, não percebia que havia despertado de um profundo e longo sono.
Só sei que me encontrava num lugar relativamente escuro, uma penumbra assustadora. Vidros foscos se perfilavam no alto de uma parede ao fundo da sala. Mesas e camas hospitalares se misturavam às pessoas vestidas de branco, todas apressadas. Um lugar dos mais estranhos por onde tivesse passado um dia, grande, enorme às vezes e pequeno em outros, não sei precisar. Tudo se movia. 
Uma névoa intensa dificultava a visão, não conseguia definir as coisas, era por dedução, parecia que tudo estava sem foco e, mais estranho ainda, nada por ali tinha cor, o lugar era assombroso e eu fazia parte do filme em preto e branco de 1928. 
Ouvia vozes, algumas mais distantes e outras mais próximas, entre as mais definidas reconheci uma, era a voz da Rita, minha mulher. Alívio. 
Ela sorria para mim e dizia alguma coisa que eu não compreendia. Acho que me perguntava se eu estava bem, devia ser isso. 
Ao seu lado uma de minhas filhas, a caçula dos três primeiros filhos, Denise. Ela também sorria, mas eu notava seus olhos encharcados de lágrimas. Tudo estava muito confuso.
Outras pessoas que não pude identificar se movimentavam ao meu redor acenando, gesticulando, dizendo coisas que mal compreendia e eu me sentindo cada vez mais distante delas, flutuava no ar como um astronauta, como se não existisse gravidade naquele lugar. 
Queria interagir, falar, gritar, perguntar onde estávamos e o que fazíamos naquele lugar que mais parecia o umbral. Não conseguia, alguma coisa na minha boca impedia que eu soltasse a voz. Cada vez que eu tentava levar a mão até ela eu sentia uns tubos emborrachados que me entravam pela garganta e as pessoas  dizendo para que eu não mexesse naqueles tubos. 
O que era aquilo tudo? Onde eu estava? O que aconteceu?
Me lembro ter pensado: eu morri, só pode ser isso e é assim que a gente se sente quando morre. 
Continuei a absurda conclusão: acho que todos aqui estão mortos e provavelmente fomos vítimas de um grande acidente, um tsunami com ondas de 100 metros, um terremoto de 9.2 na escala Hichter ou até queda de um avião de grande porte que explodiu em plena avenida Paulista matando milhares de pessoas. 
E estamos agora numa espécie de sala de espera, antes de seguirmos rumo ao céu ou ao inferno.
Não sentia dor e nem medo, nem calor ou calafrios. Não pensava em nada a não ser na ideia de que realmente estávamos mortos aguardando alguma coisa acontecer.
Nada sentia até o instante em que notei que as minhas vísceras estavam sendo puxadas para fora, arrancadas abruptamente do meu corpo. Alguém sorrindo sadicamente à minha frente pedia para eu ter calma e dizia isso enfiando as mãos pelas minhas goelas, remexendo minhas as tripas. 
De certo o capeta cobrava o pedágio e lá iam meus pulmões, meu fígado, meus rins, intestinos e meu coração. 
Este foi o momento da retirada dos tubos o qual compreendi somente depois quando de fato acordei. 
Em seguida adormeci me sentindo sozinho naquela sala escura que chamavam de UTI ao som dos ruídos de laboratório, enfermagens e apitos eletrônicos certeiros de máquinas que insistiam em me manter vivo. 
Todos sumiram de cena, inclusive eu.

(Continua)

13/01/2014

Três notinhas, somente.

1 - Ontem foi legal, fiz sessentão e de surpresa ganhei uma festa. Família e os mais próximos estiveram por lá, promoveram a surpresa e curtiram comigo o 12 de janeiro deste ano. Inesquecível. Não me lembro na vida de ter recebido uma surpresa deste tamanho. Só tenho que agradecer. Beijos à todos e em especial à minha mulher - Rita, que mesmo meio p da vida comigo, não deixou a peteca cair.  
2 - Minha recuperação pós cirurgia está indo bem, aliás, muito bem. Me sinto à cada dia, cada vez melhor. A experiência do quase apagão não foi nada agradável, passei quase um mês internado, limitado e assustado. Teve dia que pensei que não iria sair daquela. Mas saí, deu tudo certo e agora de coração novo, estou pronto pra outras guerras. 
3 - Sem muita vontade escrever, deixei este meu pedaço meio que de lado nesses últimos dois meses. Voltei, mudei a cara do blog um pouquinho pra seguirmos em frente. 

Até já.

04/01/2014

Retiro

Continuo numa espécie de retiro. Está me fazendo bem esse isolamento. No inicio do mês de dezembro levei um susto, achei que ia morrer e isso me fez rever muita coisa em minha vida.
Ando meio chateado, mas ao mesmo tempo estimulado, pronto para retomar com mais vontade.
Amo muito o que consegui ao longo da vida - minha família. Minha mulher, meu filhos, netas, genros e nora. Esses me querem bem.

24/11/2013

O OBSTINADO

Ver, ouvir, pensar e fazer. 
Seguir em frente até um desmiolado consegue. A figura de um zumbi representa bem o que é isso. 
O negócio é seguir com clareza, sentir-se seguro, firme e ao mesmo tempo leve. 

Não de uma leveza onde o vento possa controlar. Existem abismos, por isso, há de se ter direção. 
Para se ter direção é preciso atenção e crença na capacidade. Pode-se descobri-las deixando-se de lado o excesso de comedimento. O atrevimento pode ser dirigido e saboreado. 
Acreditar não somente por acreditar. É preciso considerar as ideias e escutar a intuição. A intuição pesa ao vencedor.  
Vencer não é ganhar. Ganhar é um presente recebido, portanto, tem outro sentido. O derrotado também ganha presentes.  
O vencedor por natureza é um conquistador, um sonhador que manuseia a atenção, dando aos sonhos uma direção. 
O obstinado vencedor, olha, vê, sente e faz. 
Bom domingo.

20/11/2013

O ENCONTRO NO CHINESE THEATRE

Encontrei meu amigo Johnny Deep outro dia zanzando pelas ruas de Los Angeles, lá na Hollywood Boulevard, quase em frente ao Chinese Theatre.
Tentei desviar o olhar, ameacei atravessar a rua, mas não deu tempo, logo ele me chamou:


__ Oi cara!

Respirei fundo e me fiz de surpreso.

__ Como vai, Johnny?

Enquanto ele se aproximava tratei logo de esconder a carteira fechando o zipper do bolso, pois é sempre um risco estar perto dele com a grana disponível.

Ele se vestia como uma pessoa comum. Odeia ser um astro sem ter privacidade. 
Trajava um terno azul marinho dos baratos, camisa branca e uma gravata azul estampada. Carregava uma bíblia na mão e o chapéu clássico escondia os longos cabelos. Óculos de aros retangulares de metal, com lentes grossas davam-lhe o quê de idiota necessário para a ocasião.

Não foi reconhecido por ninguém. Mas eu, hum... ele nunca me engana.

Assim que respondi ele pôs o dedo na boca pedindo cuidado. Compreendi, sem nomes, por favor.

__ Ainda bem que te encontrei. Acabei de falar com o Tim (Burton) ele precisa de sua ajuda.

__ Sei. E o que ele quer dessa vez? Respondi.

__ É sobre o Hitch. (Alfred Hitchcock)

__ Não, não! Hitch de novo, não dá! Sinto muito.

__ Dê uma chance a ele, velho. O cara é legal. Está com planos de um novo filme - Os pássaros.

__ Jurei pra mim mesmo que nunca mais trabalharia com Hitch e nem com o Spielberg, nem Tarantino, Felini, Anselmo Duarte e Almodôvar.

__ Pô, cara. Mal isso heim!

__ Acertei com o Kubrik já. Mês que vem iniciamos.

Mas ele insistiu:

__ Não custa nada, vai. Fale com o Tim e você vai entender melhor o plano.

__ Ok. Ligo pra ele amanhã. Só porque você está me pedindo. Preciso seguir agora, vou comprar ração no Carrefour.

__ Valeu, cara. Você é o cara! Ah! Toma um presente. O disco novo do Amado Batista. Acabei de comprá-lo, mas quero que fique com ele.

__ Valeu, abraços, Johnny!

__ Psiu! Dedo na boca. 

Segui meu caminho sem olhar pra trás. Lembrei do Jack Sparrow, Keith Richards e do Henrique Pizzolato comendo pizza na Itália com nosso dinheiro.


Baseado em sonhos reais.