08/11/2013

Stanley Kubrick, Daisy e HAL


Stanley Kubrick foi genial quando colocou uma música muito, muito antiga em seu filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço, na cena em que HAL é desconectado - Daisy Bell.  Uma canção folclórica lá do final do século 19.

O super computador precisava ser desligado porque havia se rebelado do comando de Dave e Frank, os dois únicos tripulantes da nave que seguia em missão à Júpiter. 

A lógica de HAL 9000 não compreendia o significado da palavra sentimento ou, talvez compreendesse à sua maneira. 

HAL julgou-se traído quando percebeu que os astronautas tramavam a sua desativação, dentro de uma cápsula de voos curtos, o único lugar da nave onde não seriam ouvidos, Dave e Frank decidem por isso.
HAL compreendeu a artimanha a partir da leitura labial quando eles se articulavam dentro do módulo. 

A cena é enigmática e tem muito estilo. Muito além de programado, HAL adquiriu vida própria e queria se valer dela.


Ele vinha dando sinais de arrogância e de insubordinação, fez um diagnóstico errado sobre um problema na nave que posteriormente constatou-se ser um engano. HAL argumentou e disse que a falha era humana. 

Tanto Dave quanto Frank entenderam que HAL estava estranho.

Frank fazia um reparo no lado externo da nave quando a cápsula que o deslocou até lá, também controlada por HAL, de súbito vira-se e inesperadamente vai ao encontro dele para atacá-lo. Vê-se em seguida, tanto a cápsula quanto Frank descartados no espaço como lixo.

Em outra cápsula Dave segue para o resgate do amigo. Com dificuldade ele pinça o astronauta perdido usando os braços articulados da máquina, carregando Frank, provavelmente morto, de volta à nave.
No retorno ele dá ordem a HAL para que este abra a porta. HAL se recusa a obedecer o comando. Dave indignado usa uma porta de emergência e consegue o acesso com dificuldade, porém, sem o companheiro.
  
Entra nela e se dirigi ao cérebro do computador - uma sala de luz vermelha densa, onde a gravidade é zero e de aparência fria e inicia o procedimento. Tudo sob insistentes pedidos de HAL para que ele se acalmasse e refletisse melhor sobre o assunto.


Dave está decidido e na medida em que vai sacando os módulos do painel central, o super computador se desorienta, implora pela tolerância de Dave, mas aos poucos vai perdendo a razão. Tropeça nas ideias, diz frases sem sentido e as mais remotas lembranças do seu arquivo ele põe pra fora. 

A última coisa que HAL faz antes de se apagar é cantar Daisy Bell com a voz rouca e cada vez mais lenta.

A cena é bonita de ser ver. 

Se alguém se lembrar do antigo jingle do remédio FIMATOSAN, poderá usar a música deste comercial com a letra aqui timidamente traduzida.

Daisy, Daisy, responda-me por favor.
Estou meio louco porque me apaixonei por você.
Não será um casamento elegante, não posso pagar uma carruagem.
Mas você ficará linda no selim da minha bicicleta feita para dois.

Talvez este seja o melhor filme Stanley Kubrick. 2001: A Space Odyssey. Futurista, filosófico  e essencialmente simbólico - na estética e no enredo. Sem contar que o filme foi revolucionário nos planos, nas sequências e nos efeitos especiais. Considerando que foi produzido em 1966/67.

O roteiro segue da aurora do homem, quando este se descobre na terra até milênios do seu futuro fora dela, alcançando o distante universo. Possivelmente onde encontrará a imortalidade. 

Um monolito emblemático surge de tempo em tempo no filme. A cada aparição faz repercutir alterações na percepção dos seres inteligentes. Uma espécie de contato imediato ou uma interferência na vida deles, colocada pelo que seria a representação de Deus.

A ternura de Daisy contrastando com a racionalidade do homem e sua máquina, faz o mais sensível chorar.

Afinal, somos gente de carne, osso e de mais alguma coisa que precisamos descobrir.


Imagens: Google

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