05/08/2014

A Casa da Dona Aurora

Mini conto criado por este blogueiro de horas vagas, inspirado em fatos que me pareceram reais. Me pareceram, já não tenho tanta certeza disso.
Imagem encontrada no Google

São Bernardo do Campo, SP - Brasil
Agosto de 2019


Enfático, com dedo em riste, muito convicto da razão, Eurico levantou-se do banquinho de madeira onde se acomodava e disse:

__ Olha aqui pessoal, vou falar uma coisa de uma vez por todas e vou dizer essa coisa com todas as letras, estão compreendendo?  

Continuou:

__ Pois, então, digo que o PT é um partido de corno, um partido filho da puta que só tem gente do mal. É inconfundivelmente uma coisa do capeta, do satanás, da besta, do 666!

Considere, caro leitor, que Eurico encontrava-se já bastante alterado e poucos deram atenção para o que ele dizia.

Mesmo assim, alguns se manifestaram.

__ Olha a boca, Eurico! Olha as criança! Pára de bebê e falá merda!

__ Sai pra lá Eurico do caraio, pára com esse papo de demônio, porra!

__ Pô, vai se fodê, mané!

__ Manhêeee...

Foi assim que conheci Eurico. Soube depois que se dera bem como metalúrgico e que aprendera o ofício dentro da Ford, seu primeiro e único emprego e que de lá havia sido demitido por aqueles dias, logo depois da Copa. 
Tinha 32 anos e era filho da saudosa dona Matilde, a que Deus a tinha em algum lugar do céu e de Seu Romão, o eterno técnico do Atlético de Vila Clemente, time local cuja camisa de um vermelho bastante desbotado era motivo de chacota pelos adversários.

Eurico era um grande cara, porém, um falastrão desregrado, ainda mais quando se permitia passar dos três ou quatro copos de cerveja, indiscutivelmente esse era o seu limite. 
Vivia se enroscando em encrencas por falar o que não devia exatamente onde não podia. 

Marido de Lucymara, uma morena de pernas grossas e seios grande de 27 anos, um mulherão de fechar o comércio e de quem suspeitavam da fidelidade matrimonial. Desde sempre dizem à boca fechada e ao pé d’ouvido, mesmo sem que ninguém pudesse de fato confirmar que o marido era mesmo um corno, um chifrudo de marca maior.

Eurico e Lucymara se casaram ainda meninos e hoje são os pais de Lú e Euriquinho, ela com 13 anos já uma mocinha que gosta de baile funk e ele, que veio com a cara de não sei de quem, com 7 e fanático por futebol.

Foi numa roda de samba, num pagode de sábado de início de primavera super quente na casa da Dona Aurora, a quem vim conhecer através de um amigo em comum que para lá fui convidado. Um lugar onde a rapaziada se encontrava aos finais de semana para “descontrariar”, como diziam.

Rolava feijoada da boa, cerveja, pagode, cachaça e folia. 

Além de tudo, ali se encontravam grandes filósofos contemporâneas que emplacavam referendos históricos, avassaladores e definitivos.
Se falava de tudo e se achava solução pra tudo, pois todos participavam do samba do branquelo-doido. 

Aos sábados na casa da Dona Aurora se reuniam os sambistas, os pagodeiros, os pensadores do futebol, da economia, da religião, do futuro do país e da política. Ah meu Deus! Da maldita política que tanto odeio! 

Sempre regado ao som do pagode, das havaianas não legítimas e dos nikes absolutamente legítimos que se arrastavam pelo chão num chique-chique alucinado.

Com tanta cerveja e tanta caipóra a casa da dona Aurora se transformava no templo de Salomão. O dízimo, naquele caso, servia para todos.

__ Mas por que Eurico? Por que você está falando isso, meu rapaz?

O da direita perguntou curioso, quando logo foi retrucado por um outro da esquerda: 

__ Pô, não provoca não, num dá mole pra esse corno otário.

Eurico prosseguiu e dessa vez colocou a voz um pouco mais alta:

__ Digo e repito: é partido do mal. Do mal porque só tem filho da puta nesse PT. É uma cambada de  F i l h o s  d a s  P u t a s!

E concluiu:

__ E tem mais, corinthiano petista é mais filho da puta ainda!

Calaram-se todos de súbito, inclusive o próprio Eurico. Não se ouvia um pio.

Depois de uns trinta segundos o estrondo de um três-oitão interrompeu o mórbido calado. Um projétil certeiro atravessou a ventana de Eurico desfigurando sua carcaça, e de tal forma o projétil procedeu que sequer puderam ver seu rosto no caixão, as flores e a faixa dos amigos esconderam a ausência do crânio no corpo do rapaz.

Nunca se soube do assassino. Nunca tiveram certeza de nada. O delegado ao juiz repetiu: ninguém sabe, ninguém viu. 

Uns disseram que o autor foi um corinthiano ofendido, outros juraram de pés juntos que o dedo gatilhador pertencia mesmo a um petista ortodoxo, desses do tipo fanáticos que ficam ainda mais alucinados no fervor do eleitoral.

Como não somos de lá, então podemos falar, digo que o assassino não foi nem um e nem outro, não foi um corinthiano afoito e nem um petista, tampouco. 

Na verdade o matador foi um santista militante da juventude PMDbista e que por um acaso é também amante, aliás, desde os treze, de Lucymara, a morena das pernas grossas e peitos grandes de fechar o comércio de 27 anos.
Luis Carlos, o filho mais novo da dona Aurora que aos 21 casou-se com a senhora dois meses depois dela ter enviuvado. 

Do três-oitão ele se desfez, trocou por uma automática que atira pra mais de seis.

Vila Clemente comemorou e fez rolar a festa. Foi na casa da dona Aurora, um lugar de gente feliz que conheci através de um amigo em comum.

03/08/2014

Como será a nossa vida daqui a 20 anos?

SINGULARIDADE
Artigo interessante pinçado da Internet - Revista Galileu, falando sobre o futuro da tecnologia.
(FOTO: FLICKR TJ BLACKWELL / CREATIVE COMMONS)

Analisamos relatórios e mostramos como a forma com que você interage com o mundo e com a tecnologia vai mudar daqui a duas décadas.  
14/07/2014 -  POR ANA FREITAS

Peço uns segundos de reflexão para o seguinte: o aparelho de telefone que você tem no bolso tem o poder de processamento e a capacidade de armazenamento várias vezes maiores do que o computador gigante que você usava pra entrar no ICQ em 2003. Aliás, o seu celular é mais poderoso do que o computador da NASA que levou o Apollo 11 à Lua.
A velocidade com que a tecnologia avança é observada pela Lei de Moore, uma "profecia" de 1965 do então presidente da Intel, Gordon Moore. A Lei de Moore diz que o número de transistores em um chip dobra a cada 18 meses, e esse padrão se mantém desde então. Em 2001, o inventor e futurista Ray Kurzweil ampliou a teoria de Moore, dizendo que sempre que uma tecnologia encontra um tipo de barreira que interrompe ou desacelera seu desenvolvimento, surge uma outra tecnologia que rompe com essa barreira. Kurzweil acredita que a humanidade deve atingir a singularidade tecnológica em 2045 - a singularidade é o o nome que se dá ao momento em que a civilização atingirá níveis tecnológicos tão rápidos, avançados e que mudarão tão profundamente os paradigmas da sociedade como um todo, que a inteligência artificial vai superar a inteligência humana, e nossa mente limitada de hoje é incapaz de prever exatamente o que isso significará.A evolução tecnológica, então, não é linear, e não dá pra esperar que nos próximos 20 anos a gente avance tanto quanto nos 20 anos que passaram. Na verdade, o mundo será completamente diferente: levando em conta a projeção de Moore e as análises de Kurzweil, que é um dos mais respeitados futuristas do mundo, em 18 ou 20 anos a tecnologia será centenas de milhares de vezes mais avançadas do que é hoje (http://theemergingfuture.com/speed-technological-advancement.htm). Por isso, é muito difícil prever os paradigmas que serão rompidos nesse período.
Mas há quem esteja tentando - gente que, inclusive, já teve sucesso no passado em palpitar sobre onde estaríamos tecnologicamente nos dias de hoje. O PEW, instituto de pesquisas sobre internet, conversou com especialistas sobre as possibilidades para a internet nos próximos anos. O site Edge.org entrevistou Kevin Kelly, editor da revista Wired e um dos mais respeitados analistas sobre o futuro da tecnologia. E nós vasculhamos o vasto material coletado nessas entrevistas em busca da resposta: quão diferente nossa vida será daqui a 20 anos por causa da evolução tecnológica? 
Wearables Você já deve ter ouvido falar dessa categoria de gadgets - que carece de uma tradução adequada em português. O termo se traduz literalmente como "vestíveis" e nele se encaixam aparelhos como o os relógios da Samsung e da Apple, o Glass, do Google, e pulseiras que registram atividades físicas, como Fitbit. De acordo com especialistas, é aí que vamos nos aproximar mais rapidamente dos filmes de ficção científica. Eles vão baratear, se tornar populares e vão incorporar aplicativos de realidade aumentada capazes de mudar nosso cotidiano e a maneira como os recursos tecnológicos se relacionam. Imagine ver a realidade com camadas de dados - visualizar, pelo seus óculos, a distância de onde você está para onde quer ir, com coordenadas ao vivo? As possibilidades para gadgets como esses são bastante amplas. 
A escassez de atenção "Nós gastamos quatro, talvez cinco anos estudando e treinando para aprender a ler e escrever, e esse processo de aprendizado afeta as conexões no nosso cérebro. (...) Pode ser que para que aprendamos a gerenciar nossa atenção, a pensar de maneira crítica, (...) toda essa 'alfabetização tecnológica', tenhamos que passar anos treinando e estudando. Talvez demande treinamento, estudo", diz Kevin Kelly, editor da revista Wired. Outros especialistas concordam: atenção e a capacidade de focar-se em algo por um período estendido serão commodities raras, e talvez ainda não saibamos, mas seja necessário estudar e dedicar tempo a adaptar nosso cérebro a esse contexto de hyperlinks e referências cruzadas entre o conteúdo que consumimos sem deixar que isso atrapalhe a concentração e a absorção da informação. 
Internet das coisas A internet ainda é, para nós, uma coisa na qual estamos conectados ou não. Ou seja, existem momentos em que estamos na rede e horas em que estamos completamente desconectados. Em 20 anos, a relação entre nós e a rede será parecida com a maneira como lidamos com a eletricidade: ela simplesmente existe e permeia nosso cotidiano. Não falamos sobre, não analisamos seu impacto e assumimos que ela simplesmente esteja ali o tempo. Só notamos que ela existe quando não a temos mais. Da mesma maneira que a eletricidade, espera-se que a internet fique tão barata que se espalhe pelo mundo e chegue inclusive a regiões carentes.Um dos especialistas disse, anonimamente: "a internet e a humanidade serão uma coisa só, pro bem ou pro mal. A internet das coisas será a inovação mais útil, e a que mais pegará as pessoas de surpresa." Nos próximos 20 anos, a internet será parte de praticamente todas as coisas que a gente tem e tudo vai se integrar online - da porta da sua frente da sua casa a sua bicicleta, sua câmera fotográfica, sua geladeira, as lâmpadas e a mesa de jantar. 
Esqueça a privacidade Se você acha que temos um problema com privacidade, saiba que a maioria dos analistas diz que é um caminho sem volta. E em vez de nos preocuparmos em não sermos monitorados, vamos desistir de brigar pelo impossível e tentar diminuir o impacto dessa nova realidade. Como? Exigindo mais transparência (assim, tendo certeza quem está nos monitorando, quando e porquê) e negociando períodos cegos, um espaço de tempo pra ficar livre da vigília constante. 
A tecnologia resolve problemas, mas cria outros" A maioria dos nossos problemas hoje é tecnogênico, ou seja, foram criados pela tecnologia", explica Kevin Kelly. E a maioria dos problemas do futuro, ele diz, serão criados por tecnologias que estamos desenvolvendo hoje. Isso acontece desde os primeiros avanços tecnológicos - quando, por exemplo, o homem desenvolveu um martelo feito de pedra, ele foi usado como ferramenta, pra produzir outras coisas, mas também foi usado para ferir pessoas de maneira mais eficiente. E Kelly diz que usar um martelo para uma coisa ou outra é uma questão de escolha, mas que antes de inventarmos o martelo, essa escolha nem existia. "A tecnologia segue dando meios para que façamos o bem e o mal, e está ampliando as duas possibilidades, mas o fato de que temos uma nova escolha a cada vez é uma coisa boa também."

27/07/2014

A fé move montanhas, mas por ela se destrói coisas belas.

A gente banca o Estado e o Estado banca a Fé. E quem desdém da Fé o Estado tira do pé. Deus ameaça a gente se a gente crê diferente. Mas o mal que o Estado e a Fé fazem na gente, nem de longe Deus desmente. 
Quem protege a gente é o agente da Fé.
Que não permite que em seu templo se entre a pé.
Só de ônibus, de caravana, como num programa de auditório da TV venezuelana.
Imagem - Google
A rigidez do macarrão cru se esvai quando na água quente ele cai. 
Em pouco tempo amolece e se confunde com os demais.
Juntando-se como em qualquer entidade - política, religiosa, filantrópica, seja lá qual for, com o tempo o sujeito se rende, perde a identidade, esperneia e deixa de ser humano de verdade.
Imagem disponível na Internet - Israelenses e Palestinos em guerra
 Vira pedra.


09/07/2014

Vi um monte de gente chorando por não querer ser motivo de piada.

Pensa bem, não foi tão surpresa assim. A seleção caiu de quatro, pior, ela tombou de sete. Mas lá no fundo, duvido quem acreditasse nela de verdade. 
A razão chegou de sopetão mandando a esperança para os infernos do Felipão.  
Não deu. A farsa se revelou da forma mais escandalosa.  
Enquanto a mentira rolava os alemães observavam e de certo, entre tantas coisas, perguntavam-se o motivo dos cabelos cortados e pintados de forma exótica. 
Atletas ou artistas? 
Qual a razão de gritar o hino nacional como soldados e não praticar a força que o hino inspira.  
Mentiras diante da câmera do steadicam. 
A Copa das Copas entra para a história marcando o maior vexame de um país sede. 
Sobrou estádios vazios, em tornos por concluir, pouca ou nada de mobilidade acrescida e muita conta pra pagar. 
Vi um monte de gente chorando ontem. De vergonha e de raiva. 
Bola pra frente, mas agora tem de ser de verdade, sem micos. 

05/07/2014

A VIUVA PORCINA SABE DAS COISAS

Imagem - Google
Eu disse a um amigo que se a seleção brasileira continuasse jogando sem brilho como anda jogando, provavelmente ela voltaria para casa antes do final da Copa e a vida por aqui voltaria ao que era. 
O amigo apressou-se na correção e bastante ríspido disse que isso não aconteceria de modo algum e em caso de acontecer, a seleção “não voltaria” pois ela já estaria em casa. 
Calmamente respondi que ele enganava-se, pois nem a Europa e muito menos a Ásia ficam aqui pelos trópicos. Me referia, evidente, aos jogadores da seleção que retornariam aos seus clubes pelo mundo afora. 
Ele me deu às costas esboçando um ar de desprezo cinematográfico e ainda me chamando de "coxinha". 
Tive a sensação também de ouvi-lo dizer bem baixinho que eu era um "reaça". 
Caramba, as coisas não mudaram mesmo e não havia me dado conta de quanto não mudaram.  
A censura ideológica permanece atenta na nova ordem regional. 
Pensei: acho que ele está preocupado com o sucesso da Copa e os dividendos políticos que este sucesso traria para os seus e no caso negativo,  quanto e qual seria a repercussão. 
Afinal, muita coisa se falou a respeito da Copa, da Fifa e do governo brasileiro que fez de tudo e mais um pouco pra trazer o evento para cá. 
Bem, continuando e para quem não sabe, alguns tementes batizaram de "coxinhas" os que dizem que os ladrões, incompetentes e mal intencionados existem em todos os cantos da política, inclusive no canto deles. 
E nesse ambiente também é reconhecidamente um cozinha de marca maior o sujeito que pertence a classe média ou a classe alta, indistintamente.  
As castas fazem parte da relação humana, sempre fizeram e talvez existam pela natureza nefasta da nossa espécie. Há de se evoluir e não se sabe ainda o caminho para isso. 
Uma coisa  me parece certa: pela regra do temente, os pobres não podem ser coxinhas de jeito nenhum. Isso é impensável, intolerável. Coxinha é coisa da classe dominante. 
Mas quem é que domina agora? 
Segundo a cartilha o pobre quando ascende deve manter-se fiel às raízes. 
Correntes de ouro e celulares para as selfies podem ser de bom tom, mas sem exageros, pois os excessos levam o incauto à coxinhice. 
E nada de mudar de bairro. Pobres devem caiar as paredes dos antigos castelos com o verde-telefônica muito em moda e se tiver que mudar de endereço que mude logo de continente, pois o Haiti não é aqui. 
Os tementes enxergam o mundo divido em dois lados distintos: num lado ficam os cozinhas  os adoecidos pelo complexo do vira-latismo,  e que não possuem opinião própria e do outro lado, em destaque, cheios de soberba, os modernistas, os novos donos da verdade. Simples assim. 
Tal como dizia Sinhozinho Malta, o caricata personagem da novela Roque Santeiro do escritor Dias Gomes: 
“Ou está comigo ou está contra mim”. 
A viuva Porcina fazia com que este exótico personagem se rendesse a ela como um vira-latas dos mais submissos. 
AUuuuu... Uuuuu.... AUuuuu.... amarrado e lambendo a pulseira de ouro, cravejada de brilhantes de sua dona. 
Deixei-o ir e voltei a torcer pela seleção brasileira.


30/06/2014

Deu saudade

Deu saudade e eu voltei aqui. Esse meu primeiro blog me deu muitas alegrias. Se chamava CARA DE PAISAGEM agora tem o mesmo nome do outro blog: MEU BLOG. Escrevi boas bobagens e postei sem medo pra todo mundo ler. De certo meteram o pau, é possível que outros tantos curtiram.
No início deste ano minha impaciência impediu que esperasse ele se destravar. Não sei bem o que aconteceu, não conseguia postar nada. Pensei até numa censura por ter rescrito alguma blasfêmia. Acho que não.
 
Busquei então, depois de algumas tentativas, um outro blog. Criei o outro e estou por lá mandando ver nas besteirisses.
Mas acho que agora vou dar o troco. Volto com tudo aqui e vamos ver até quando eu aguento. 
O primeiro que ler e me escrever ganha um prêmio legal.