10/05/2015

A História e o Tempo

  Imagem extraída do Pinterest 
Apesar da noite fria Lídia Maria de Oliveira sentia-se aquecida.

Exausta, acomodou-se numa das quatro cadeiras da cozinha com os cotovelos sobre a mesa de fórmica, na tentativa de evitar qualquer pensamento senão o de querer ver o tempo passar bem rapidamente como num passe de mágica, cinco anos à frente, dez, talvez.

Se ateve às poucas chamas que saiam do fogão à lenha onde pipocavam fagulhas dos pedacinhos de madeira seca que queimavam no ar.

Para ela, de certa forma, o inverno em Campos do Jordão era contornado às quatro e meia da manhã daquela madrugada fria de segunda para terça-feira. O sono não, esse insistia com toda rudeza.

Lembrou ter se deitado às dez da noite e levantou-se às onze e quinze. Uma hora e pouco dormindo ininterruptamente era coisa rara nos últimos tempos.

Retornou para cama à meia noite e quatro minutos. Caminhou atenta evitando os tropeços que fatalmente provocariam ruídos inconvenientes ao saborosíssimo silêncio que se estabelecera. 

O relógio digital sobre o móvel ao lado da cama indicava horas que às vezes se arrastavam e outras, ilogicamente, aceleravam. As luzes esverdeadas deste serviam mesmo é de lanternas para o quarto escuro.

O choro da criança mais uma vez a despertou. Isso, quarenta e sete minutos após. 

É assim mesmo, filha! Lembrou-se do que a mãe dizia.

Uma hora e cinquenta e seis minutos da manhã. 

Percebeu ter cochilado em pé por dois minutos e meio, carregando os quatro quilos e duzentos gramas pelo colo. 

Acordou assustada, sem equilíbrio, apoiou-se no guarda-roupas para evitar a queda.
Uma tragédia podia ter acontecido, pensou ela, culpando-se. 
As noites têm sido difíceis nos últimos tempos para Lídia Maria de Oliveira, menina-moça até bem pouco e agora madura com seus 22 bem vividos. 

O marido levantava às cinco da manhã para pegar no batente quase todos os dias da semana. Era caseiro na chácara onde moravam e largava do serviço somente às sete da noite.

Então precisava dormir, tinha que garantir o ganhão-pão e a moradia da família que há nove meses aumentara no tamanho com a chegada do gorducho.

Meia hora depois estava de volta, agora aquecida na cama e no maior silêncio do mundo, Lidia Maria de Oliveira colocou a mão sobre o ombro de José Luis de Oliveira e disse baixinho: 
__ Ô Luis, acorda, tá na hora! Levanta e não faz barulho pra não acordar o Zezinho. Vou tentar descansar mais meia horinha. Tchau!
A história de uma forma ou de outra se repete por todos os cantos do mundo e em todos os tempos de todos os tempos. Aqui, ali ou em qualquer lugar, mãe é mãe até de baixo d'água. 
Elas estão sempre ao nosso lado. Sempre. Ainda bem!

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